Organismo Parque Augusta articula defesa pelo espaço público

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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De Outras Palavras

Por mais parques — e menos cinzentos

Surgem, em S.Paulo, coletivos dispostos a lutar pelos espaços públicos e a geri-los de modo não burocrático. Mídia, enquanto isso, torce por espigões 
 
Por Breno Castro Alves

 

Em tempos de voracidade do capital imobiliário, o Parque Augusta — última área livre de mata atlântica no centro de SP — sofre a ameaça real de ser transformado em duas torres de 100 metros. A Folha de São Paulo atuou, esses dias, como porta voz das incorporadoras Setin e Cyrella.

Apesar de o jornal afirmar que ali haverá torres, o prefeito Fernando Haddad sancionou, em dezembro de 2013 a a Lei 345/2006, que determina a criação do parque público na área disputada. Há resistência engravatada. Dois dias depois da aprovação dessa lei, as incorporadoras Setin e Cyrella, sócias do proprietário e ex-banqueiro Armando Conde, fecharam ilegalmente os portões de acesso ao parque, que se mantém assim há 90 dias.

Em resposta a essa restrição ilegal à circulação de pessoas em espaço público, um movimento social — o Organismo Parque Augusta — articulou-se e iniciou diálogo formal com a prefeitura, em 25 de março. Publicamos aqui uma carta pública com nosso posicionamento a partir deste encontro.

O Organismo, que defende a gestão popular de um parque 100% público, está cobrando a participação da gestão Haddad na construção da política pública que vai garantir o cumprimento da lei já aprovada pelo prefeito. Entendemos ser necessária a participação de, no mínimo, as secretarias de Desenvolvimento Urbano, Verde e Meio Ambiente, Educação, Cultural, Governo, Subprefeituras, além dos outros órgãos da máquina pública descritos na carta. Os objetivos a que pretendemos chegar com essa mobilização estão descritos no site Parque Augusta (http://www.parqueaugusta.cc).

Ao aprofundar este processo político que propomos, descobrimos que não estamos sós. Encontramos a luta de diversos outros parques municipais ameaçados. São 130, segundo a secretaria do Verde — e há gente que começa a lutar por eles. O Organismo Parque Augusta participou do I Ato em Defesa dos Parques Ameaçados em SP. Aconteceu dia 31, no centro da cidade. Contou com a participação dos parques Águas Espraiadas, Brasilândia, Embu-Mirim, Minhocão, Augusta, Mooca, Morro do Querosene, Peruche, Pinheiros e Vila Ema. Terminou com a criação da Rede Novos Parques SP.

A Rede se propõe a pensar uma política pública que primeiro garanta a integridade física de todos os parques da cidade, para depois desenvolver um processo de abertura para as comunidades ao redor, construindo experiências de gestão popular nestes espaços.

Propomos um ciclo aberto de debates e pesquisa sobre os parques da cidade e entendemos que a Virada Cultural é cenário ideal para essa realização. O evento, que traz a ocupação do centro em seu dna, poderá amplificar e democratizar o debate, envolvendo população e prefeitura na construção dessas soluções necessárias.

Aqui, carta aberta do Organismo Parque Augusta sobre o ínicio de nossa conversa com a prefeitura e o convite ao diálogo que estendemos a toda a gestão Haddad.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Parque Augusta

    É inegável a importância deste parque para a cidade de São Paulo, especialmente para o centro da cidade. Só não entendi a iniciativa do grupo que defende o parque. Estão cobrando apenas medidas do Prefeito quando a nota deixa claro  que são as incorporadoras Cirela e Setin que estão atrapalhando o cumprimento da decisão da Prefeitura, via lei específica, de criação do Parque. Por que o grupo não marca manifestações em frente às sedes de tais empresas e da Folha que as defende? Só assim poderão chamar a atenção para o problema. Caso contrário, as empresas vão recorrer à Justiça e o parque vira sonho, uma vez que a Justiça só tem um lado neste país: sempre o dos endinheirados, jamais o interesse público.

  2. Quanto ao post, necessário

    Quanto ao post, necessário ver a documentação:

    Fora de pauta,pois se trata de questão estadual- 

    Alguém tem conhecimento de como tem andado o “Salve o Litoral Norte” ?

  3. Torres de 100m

    Enquanto isso, as incorporadoras não abrem mão da ideia de construir ali duas torres de 100m..

    Não consigo entender como um argumento desse se sustente no atual cenário de cinza e concreto que vivemos. Quer dizer, claro, consigo, dez ou doze pessoas vão dividir 500 milhões de lucro, talvez seja melhor assim né, gerar empregos e pagar impostos, quem precisa de qualidade de vida?

  4. Jornalismo verdadeiro

    Acho muito bacana saber que existe jornalismo ético. Acho deprimente a Folha que faz  jogo para defender máfia e mídia no geral que quando não fecha os olhos, distorce a verdade

  5. Importante o apoio da mídia

    Importante o apoio da mídia para uma causa nobre.

    O pano de fundo do debate que se coloca no Parque Augusta pode ser extendido pra todos os parques e tudo o que é público: qual é a cidade que queremos? O que é a VIDA PÚBLICA? Somos ou não somos também parte dessa vida pública e também planejadores-construtores desses espaços públicos que é comum a todos? 

    Vamos continuar seguindo essa lógica de destruir ou nos alienar dos nosso espaços comuns? Vamos continuar achando que o espaço público é um lugar que só a prefeitura precisa cuidar, e que cuida mal e entrega tudo nas mãos de construtoras e incorporadoras ou setores privados que só visam o próprio lucro?

    A cidade não é uma empresa. Pelo menos não deveria ser! Ela é nossa – um espaço que é comum a todos nós.

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