Câmara da Vergonha: Em Salvador vereadores ignoram o povo

Quarenta e três vereadores e alguns discípulos de Pinóquio, o boneco cujo nariz cresce ao contar mentiras. Assim foi a votação das contas de 2010 do ex-prefeito João Henrique (PP), na sessão da última quarta (17), na Câmara Municipal de Salvador. Quem melhor interpretou utilizou-se da votação secreta para se esconder, numa tentativa inútil de evitar mais uma derrota política de JH.

O que muitos vereadores não sabem é que uma apuração rigorosa com cruzamento de dados fez com que esse voto secreto caísse por terra e que viessem à tona, pelo Jornal da Metrópole, os nomes dos 25 parlamentares que traíram a cidade, tendo a coragem – ou covardia – de tentar aprovar contas com diversas irregularidades.

Apenas 18 vereadores votaram pela rejeição das contas – número baixo, mas suficiente. Para se salvar, o ex-prefeito precisava de 29 votos, o equivalente a 2/3 da Casa. O irônico é que, apesar de só 18 terem votado contra JH, 21 declararam voto – uma matemática que não fecha e que deixa explícita que a mentira é bandeira do mandato de determinados edis.

O quebra-cabeça começa a ser montado quando os nomes dos 22 vereadores que não declararam voto são somados aos 21 que agiram de forma contrária. Outra peça-chave é o esvaziamento do plenário após a votação, quando a claque de JH tentou, sem sucesso, derrubar a sessão.

Mais um detalhe importante: assim como na votação das contas de 2009 e em toda a administração João Henrique, houve, segundo rumores, a atuação de um grupo de empre-sários para cooptar vereadores para o lado do ex-prefeito. Estas mesmas informações apontam que houve um adiantamento das parcelas do acordo do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU).

Eles, surpreendentemente, disseram sim a João

Por essa história os ex-alunos do professor Henrique Carballal não esperavam. O vereador, declarada-mente de oposição, foi o principal artífice da debandada de alguns vereadores do PT – é o caso de Suíca – para o lado do ex-prefeito. Entre os oposicionistas, Carballal foi o líder da articulação para ganhar os 29 votos que JH precisava. Tal articulação procurou nomes como Arnando Lessa (PT), que logo recusou a tentativa de acordo.

Não foi o que fez o também petista Moisés Rocha, cujo voto chamou a atenção. Embora já tivesse, na legislação passada, votado algumas vezes em favor dos projetos polêmicos de João Henrique, não se esperava que ele se voltaria contra a posição de seu partido na Câmara.

O vereador Marcell Moraes (PV) foi outro que surpreendeu a opinião pública por seu posicionamento. Embora tenha jurado pela rejeição das contas, acabou votando do lado de João Henrique – o que certamente decepciona seus eleitores.

A vereadora Tia Eron (PRB), por sua vez, chegou a dizer nos microfones da Rádio Metrópole que era “totalmente a favor da rejeição” das contas de João Henrique. Pelo visto, mudou de ideia.

Eles, como esperado, também

Liderados pelas já conhecidas mãos de Geraldo Júnior, eterno braço-direito de João Henrique na Câmara dos Vereadores, um grande grupo de edis aproveitou o sigilo do voto para tentar evitar um novo fracasso político do ex-prefeito.

O simples fato de alguém escolher apoiar João Henrique deveria ser surpreendente, mas os votos destes vereadores se alinham com seus recentes posicionamentos políticos – seja por terem participado da administração de JH, seja por estarem ligados de alguma maneira ao ex-alcaide: Alan Castro (PTN), Alberto Braga (PSC), Alemão (PRP), Carlos Muniz (PTN), Cátia Rodrigues (PMN), Cláudio Tinoco (DEM), David Rios (PSD), Euvaldo Jorge (PP), Geraldo Júnior (PTN), Isnard Araújo (PR), Kiki Bispo (PTN), Leandro Guerrilha (PSL), Léo Prates (DEM), Luiz Carlos (PRB), Odiosvaldo Vigas (PDT), Palhinha (PP), Pedrinho Pepê (PMDB), Tiago Correia (PTN), Toinho Carolino (PTN) e Trindade (PSL).

Articulação teve ligações do próprio JH

Apesar de João ter sofrido mais uma derrota política, o sentimento que pairou no ar após a votação das contas foi de desconfiança. Os 25 votos conquistados pelo antecessor de ACM Neto mostram que a articulação nos bastidores, liderada por Geraldo Júnior, Carballal e pelo próprio João Henrique – que chegou a fazer ligações diretas para alguns edis – quase deu certo.

Em algumas situações, vereadores desobedeceram orientações de seus próprios partidos para se juntar ao grupo do ex-prefeito. Foi o caso de David Rios (PSD). Durante as últimas semanas, o presidente estadual do partido, Otto Alencar, deixou claro publicamente que a legenda se posicionaria a favor da rejeição das contas. No entanto, Rios ignorou o pedido de Otto.

Não foi o que fez o outro representante do PSD na Câmara: Duda Sanches votou conforme a inclinação do dirigente da sigla.

Eles disseram não a João Henrique

Dezoito vereadores fizeram as honras do povo e confirmaram o parecer do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) pela reprovação das contas. Muitos foram cortejados pela claque do ex-prefeito, mas mantiveram a coerência, cavando a cova daquele que deixou a Prefeitura após lamentáveis oito anos.

Gilmar Santiago, Waldir Pires, J. Carlos Filho e Arnando Lessa são os quatro nomes do PT que disse-ram não a JH. Também votaram pela rejeição Aladilce Souza e Everaldo Augusto, ambos do PCdoB, Silvio Humberto e Fabíola Mansur, do PSB, além do ferrenho opositor Hilton Coelho (PSol). Quem tam-bém colaborou para a derrota de João foram os tucanos Marco Prisco e Paulo Câmara.

Juntam-se a esta relação o democrata Vado Malassombrado, o líder do governo, Joceval Rodrigues (PPS), Alfredo Mangueira (PMDB), Duda Sanches (PSD) e Edvaldo Brito, que foi vice-prefeito de JH, mas não se furtou de votar por sua consciência.

A verde Ana Rita Tavares votou contra o ex-prefeito e ainda fez discurso contundente e cheio de indiretas para Marcell Moraes.

Defesa em plenário

Apesar da montagem do quebra-cabeça ter levado aos votos favoráveis a João Henrique por parte de três petistas e de Marcell Moraes, todos eles juram de pés juntos que votaram pela rejeição das contas. Marcell declarou voto contra João Henrique e ironizou alguns colegas. “Alguém está mentindo. Tem mais vereador que declarou voto contra João do que realmente aconteceu”, disse.

Carballal, ao seu estilo, interpretou o papel de quem votou contra JH, quando na prática foi diferente. “Essa rejeição representa a rejeição do povo de Salvador”, disse o petista. O mesmo caminho de subir à tribuna e declarar voto contra o ex-prefeito foi seguido por Suíca e Moisés Rocha, embora ateste-se o contrário.

Redação

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