Como um cartaz de 20 dólares vira um Picasso original na imprensa

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Era março de 2004 quando a Folha de S. Paulo noticiou, seguida por diversos outros jornais e sites, que “uma mulher desenhada por Pablo Picasso passa os dias debaixo de luzes fluorescentes e em meio à papelada de uma repartição do governo federal.” Segundo o jornal, a “preciosidade” foi encontrada por acaso em uma repartição do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) de Brasília. 

Em dezembro de 2005, o “Picasso do INSS” – que na verdade trata-se de uma reprodução do quadro “A Mulher em Branco”, cujo original está em Nova Iorque – retornou à capa da Folha e do Estado de S. Paulo em função de um incêndio que destruiu parte do prédio do INSS. Mesmo tendo sido alertados por diversos leitores com o mínimo de conhecimento sobre artes plásticas, nenhum jornal admitiu erro na apuração sobre o caso.

Lembrado pelo cineasta Jorge Furtado no documentário “O Mercado de Notícias”, lançado em 2014, o Picasso do INSS só foi corrigido pelo Folha uma década depois da publicação de um erro grosseiro. Furtado, ao discutir o feito com grandes nomes do jornalismo brasileiro, destacou que, à época, a intenção do jornal parecia ser a de dizer que os novos ocupantes do recém eleito governo Lula não reconhecem e não sabem lidar com o valor da arte.

A apuração defeituosa foi motivo de risadas e de críticas por parte do rol de entrevistados – que inclui figuras como Mino Carta, Luis Nassif, Paulo Moreira Leite, Bob Fernandes, Fernando Rodrigues, José Roberto de Toledo, Janio de Freitas, Geneton Moraes Neto, Cristiana Lôbo, Renata Lo Prete, Leandro Fortes, entre outros.

“Em todo lugar, mas em Brasília, principalmente, a gente tem um vício, que é o jornalismo declaratório. Alguém falou alguma coisa. E é muito cômodo porque sempre que [uma notícia] entra em conflito com fatos objetivos – como a dimensão, a técnica, o fato de ter um [quadro do Picasso original em um lugar conhecido -, o cara fala: ‘não, foi Fulano quem falou’. Para se tirar uma foto boa com uma história supostamente boa da capa de um jornal, é muito difícil”, justificou Toledo, do Estadão.

Sugestão de Osias Canuto e de Cláudio Garcia

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Munch na parede de casa

    Eu tenho um “O Grito” na parede da minha casa. Depois dessa vou verificar se a Folha quer comprar. Deve valer uns 120 milhões de dólares, mas dou um desconto.

  2. Além das tags, há que se ver post com artigo de Marcelo Coelho

     

    JornalGGN,

    Acho interessante quando você aparece assim sem um nome de uma pessoa responsável pela notícia, parecendo uma notícia publicada por um coletivo de pessoas.

    De qualquer forma vale repetir aqui duas tags acima onde se encontram outros posts que dão repercussão a esta notícia sobre o erro da Folha de S. Paulo a respeito da cópia do quadro de Picasso. As tags são “Jorge Furtado” e “Mercado de Notícias”.

    Na tag “Mercado de Notícias” há os links para os seguintes posts:

    1) Para este post “Como um cartaz de 20 dólares vira um Picasso original na imprensa” de terça-feira, 04/08/2015 às 11:50;

    2) Para o post “Jorge Furtado responde a resenha “O Mercado de Filmes”” de quinta-feira, 25/12/2014 às 14:00, em que se reproduz o artigo “Sobre derrapadas da imprensa” de autoria de Jorge Furtado publicado no Observatório da Imprensa em que ele comenta a resenha do jornalista Leão Serva sobre o filme dele “O Mercado de Notícias”;

    3) Para o post “O mercado de filmes, por Leão Serva” de quarta-feira, 24/12/2014 às 14:00, com a resenha de Leão Serva publicada no Observatório da Imprensa sobre o filme de Jorge Furtado “O Mercado de Notícias”;

    4) Para o post “O caso do Picasso do INSS, por Luis Fernando Verissimo” de segunda-feira, 11/08/2014 às 07:30, em que, por sugestão de Superperplexo, e com título de “O Caso do Picasso” faz-se referência ao artigo “Imagens” de Luis Fernando Veríssimo publicado em O Globo de 10/08/2014;

    5) Para o post “O jornalismo brasileiro no documentário de Jorge Furtado” de domingo, 06/07/2014 às 11:41, contendo matéria do Jornal GGN e

    6) Para o post “O trailer do documentário O Mercado de Notícias” de sexta-feira, 21/03/2014 às 11:20, com o trailer para o filme “O Mercado de Notícias” (94min, 2014) que apresenta roteiro e direção de Jorge Furtado.

    Na tag “Jorge Furtado” há outros links, mas nas duas tags não há referência para o post “O Mercado de Notícias, por Marcelo Coelho” de sexta-feira, 22/08/2014 às 16:56, originado da reprodução do artigo “O Mercado de Notícias” de Marcelo Coelho, publicado na Folha de S. Paulo e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-mercado-de-noticias-por-marcelo-coelho

    Gosto dos textos de Marcelo Coelho e esse texto dele é, pelo menos ao reconhecer as informações novas que ele aprendeu como o filme de Jorge Furtado, bom, mas ele termina a crônica dele pisando na bola ao dizer que no filme o tema do Mensalão teria sido, nas palavras de Marcelo Coelho, “recalcado, abafado, suprimido (auto-censurado?)”. De todo modo penso que é post obrigatório sobre este assunto do quadro de Picasso.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 04/08/2015

  3. O Jorge Furtado é um gozador.

    O Jorge Furtado é um gozador. Jornalistas que eu admiro e respeito: Fernando Rodrigues, Cristiana Lobo, Renata Lo Prete.

  4. Ótimo documentário. Mas mesmo

    Ótimo documentário. Mas mesmo entendendo não gosto da leniência corporativista com que os jornalistas tratam do caso “Picasso do INSS”. O caso da Escola Base, por exemplo, causou menos dano à opinião pública – apesar de mais dano aos donos da escola – do que o do Picasso. Não só pela foto de Lula ao fundo, se contrapondo mas também por disseminar ignorância sobre o quadro. A cara de deboche do Fernando Rodrigues é extrema mas a franqueza do José Roberto de Toledo (“Quando você tem uma foto boa, um texto bom, prá você tirar aquilo da primeira página é muuuito difícil, rs…”) é muito mais chocante. E a desfaçatez geral, então: “Mas é do Picasso?” Ou “O original está em Nova Iorque?”, como se ninguém soubesse que aquilo na parede da repartição pública fosse apenas um poster… Faz parecer que os jornalistas todos tratam da matéria como se fosse uma leve “aprontação”, como se uma apenas aprontação já não fosse algo suficientemente nefasto e deletério. No entanto esse episódio acaba fomentando sentimentos bem mais sérios do que pode parecer.

    Dá vontade de dizer que jornalismo é algo muito sério para ficar nas mãos de jornalistas… Jornalistas precisam ter mais consciência do poder que têm. Ou melhor, mais consciência. Ponto.

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