O contador, por Fábio de Oliveira Ribeiro

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Nada neste filme chega a ser surpreendente.  Na hera dos super-heróis híbridos (atores + suas versões em computação gráfica) e dos filmes de ação que desafiam as leis da física (caso de Domic Toretto https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/velozes-e-furiosos-7-a-saga-de-dominc-pernalonga-toretto), nem mesmo a ultra-violência praticada por um autista é capaz de causar estranhamento.

O que distingue este filme dos demais é que o menino especial (defeituosa na linguagem do novo prefeito de São Paulo) foi educado para ser violento, foi estimulado pelo pai a se conectar com o mundo de forma destrutiva. Nesse sentido, “O contador” leva ao extremo as opções dadas ao novato Jake Hoyt pelo personagem Alonzo Harris no filme “Dia de Treinamento”. Em ambos os casos, as escolhas se limitam a ser vítima (ovelha) ou agressor (lobo).

A algo pobre no reino do cinema norte-americano. O país que se considera o mais moderno do Ocidente parece fadado a representar a si mesmo através de metáforas pastoris que datam do século V aC.

No filme “Dia de Treinamento”, o lobo acaba mal. Em “O Contador” a ovelha lobotomizada pela educação violenta segue em frente. Os destinos de Alonzo Harris e Christian Wolff simbolizam de certa maneira dois futuros possíveis para os EUA.  Afinal, a política externa norte-americana tem sido pautada pelo uso irracional, constante e patológica da violência militar, tecnológica, econômica e cultural.

Para não confrontar as consequencias de seus atos violentos, Christian Wolff foge. Fugir do planeta é algo que os EUA não podem fazer. Os impérios não são como os homens. Mas há um ponto de contato entre ambos, aquele simbolizado pelo fim de “Dia de Treinamento”. Em algum momento a violência letal acaba se voltando contra quem a praticou.

Até a presente data, apesar de tudo que fez e faz no exterior os EUA tem conseguido seguir em frente ileso. Portanto, podemos dizer que o país autista, violento e irresponsável foi perfeitamente representado por Christian Wolff, cujo destino manifesto está inscrito no seu próprio nome (lobo cristão).

Ao desafiar China e Rússia ao mesmo tempo, os norte-americanos podem acabar fuzilados numa emboscada como Alonzo Harris. Duvido muito, porém, que os cinéfilos acertar este tipo de abordagem. Eles mesmos tem sido educados a glorificar a ultra-violência real ao consumir sua versão cinematográfica.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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