A crise de representatividade das federações empresariais, por Luis Nassif

A renovação empresarial do país passa por uma reforma no sistema S, que devolva às federações e confederações a legitimidade perdida.

Um dos grandes desafios, na tentativa de recuperação do país, é a crise de representatividade das entidades empresariais.

Uma legislação anacrônica, jamais modernizada, fossilizou os sistemas internos de poder de algumas das maiores entidades do país – Federação das Indústrias de São Paulo, Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Confederação Nacional do Comércio, entre outras.

Quem compõem as federações são os sindicatos setoriais. A economia mudou, houve setores que praticamente desapareceram da economia, mas os sindicatos continuaram tendo voz ativa, com uma divisão setorial absolutamente irracional, principalmente sabendo-se que cada sindicato tem direito a um voto..

Tome-se o caso da FIESP. Integram a entidade, entre outros:

  • Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha e da Reforma de Pneus.
  • Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuário de Birigui e, ao mesmo tempo, o Sindicato da Indústria de Calçados do Estado de São Paulo.
  • Sindicato da Indústria de Chapéus.
  • Dois Sindicatos das Indústrias da Construção e do Mobiliário, de Leme e de Santa Gertrudes..
  • Sindicato das Indústrias de Extração de Areia.
  • Três sindicatos das Indústrias Gráficas, de Campinas, outra de São José do Rio Preto e outra do estado.
  • Sindicato da Indústria da Mandioca.
  • Cinco Sindicatos da Indústria de Panificação e Confeitaria, de Ribeirão Preto, Santo André, Santos e São Vicente, São Paulo,
  • Sindicato Nacional da Indústria de Fósforos.
  • Sindicato Nacional da Indústria de Rolhas Metálicas.

Esse amontoado de sindicatos convive com sindicatos de setores fortes, como da Indústria do Açúcar. E permite o exercício do populismo mais barato e da instrumentalização da FIESP para fins políticos. Foi a esse expediente que recorreu o ex-presidente Paulo Skaf. Em sua gestão foram afastados da entidade as principais lideranças industrialistas do Estado, enfraquecendo toda a discussão sobre políticas industriais e tornando a FIESP um instrumento de suas aventuras políticas.

Este ano, Skaf abriu espaço para Josué Gomes, de um grupo têxtil poderoso. Josué trouxe de volta para a entidade empresários que integravam o IEDI (Instituto de Estudos de Desenvolvimento da Indústria); renovou o Conselho de Economia com economistas de mente aberta; e assinou um documento em defesa da democracia.

Agora, Skaf planeja sua destituição, contando com os votos de presidentes de sindicatos inexpressivos.

Não é apenas a FIESP. No Rio, a FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) está há décadas presidida por um presidente cujo único elo com a industrialização é o pai, o grande João Pedro Gouvêa Vieira, advogado e dono de uma das primeiras distribuidoras de combustível nacional, a Ipiranga. O discurso do filho é uma repetição dos mantras do mercado, mostrando que a praga da financeirização atingiu muitos dos herdeiros da geração pioneira dos industrialistas.

O mesmo acontece com a CNC, há décadas dirigida por um mesmo grupo político, sem nenhuma expressão na formulação de políticas públicas, mais interessado em administrar as verbas do Sistema S do que promover a modernização do comércio.

A renovação empresarial do país passa por uma reforma no sistema S, que devolva às federações e confederações a legitimidade perdida.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Há dez anos me acendeu o luz vermelha sobre uma instituição em particular, que, sem falsa modéstia e meio amadoristicamente ajudei a criar a unidade da minha cidade, no interior de Sergipe: o então Clube de Diretores Lojistas que logo volveu-se para Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL.
    A mudança de nomenclatura obedeceu, máxime a concentração no objetivo comercial, com o fim das grande associações recreativas. A busca pela viabilidade de facilitação creditícia levou a CDL, na maioria dos casos a ser a operadora dos serviços de consulta, trazendo a fartura de rendas para voos maiores. Consultas que ora, praticamente acabaram, com a velocidade da internet. Consequentemente, também as rendas. Desde o início da década passado que tem sido assim, cada vez com menor importância e sem rendas. E, sem renda própria, associação nenhuma perdura.
    E, sociedade nenhuma se aguenta sem instituições de referências. Usadas partidariamente, como a FIESP do seu Skaf – que eu saiba um reles agiota, e não um industrial – é questão de tempo desaparecer as federações industriais; especialmente porque também a Indústria não anda lá esses balaios todos, né?

  2. Luis Nassif é um otimista. A julgar pela adesão de empresários ao bolsonarismo, não podemos deixar de considerar outra hipótese de renovação empresarial. Muitos empresários devem estar se preparando para fabricar e vender ao Exército e às PMs os instrumentos de tortura que serão usados caso a democracia seja substituída por uma nova ditadura. Dessa vez a quantidade de pessoas que serão torturadas e mortas será muito maior. Lucro garantido para aqueles que fabricarão Camas de Boilesem, Pimentinhas com recursos de IA para otimizar a dor imposta ao interrogado, Cadeiras do Dragão informatizadas, luvas especiais para aplicação de telefone, Pau de Arara com sensores para medir a dor imposta ao torturado etc…

  3. Sem diminuir a financeirização,dificilmente haverá qualquer discussão de política industrial no meio dessa gente.
    Até dá para entender. Por que se preocupar com inovaçao e desenvolvimento se no mercado de capitais,principalmente,gamha-se em um dia o que não se ganha em um mês de trabalho árduo dentro de uma fábrica.
    Tanto diminuir a financeirização,como desenvolver uma política pública de desenvolvimento industrial,deverão ser as principais iniciativas do governo do presidente Lula para a soberania nacional.

  4. Você se esqueceu de incluir a FIEMG, capturada por bolsonaristas, após derrotarem o grupo que herdava o trabalho de José Alencar. São negacionistas e antivacina. Para falar a verdade, eu não creio que haja crise de representação. Paulo Skaf e Maurício Roscoe representam mais claramente que Josué Alencar o que são os empresários e empresárias da “indústria” no país.

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