Os alertas sobre a crise de crédito para as empresas, por Luís Nassif

Até agora, as ações do governo no crédito limitam-se a facilitar a cobrança, simplificando a lei de falência e a execução extrajudicial

A mensagem mais importante deste artigo é que indicadores atuais têm uma semelhança assustadora com o que aconteceu na década passada, o que preocupa. Nos últimos 24 meses, a carteira de atrasos e inadimplentes de PJs aumentou 103,2%, e o volume de dívidas negativadas PJs pelo Serasa em 27,7%, num período de crescimento do PIB.

O alerta é de Roberto Troster, que foi economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos): está em andamento um efeito-dominó capaz de espalhar insolvência pelo setor privado.

Um primeiro sinal é a deterioração da carteira de crédito dos bancos. O total de crédito PJ cresceu 1,9%, mas enquanto o desconto de duplicata caiu 2,8%, o cheque especial aumentou 16,2% e o parcelado do cartão de crédito subiu 42,1%. Como lembra Troster, a taxa do cheque especial é 17 vezes maior que a do capital de giro.

Em uma operação de um dia, em cheque especial, a taxa anualizada é de 342% para a instituição financeira acrescida de taxa anualizada de 220,6% de IOF.

Trata-se de um peso violento sobre o setor privado.  As receitas de crédito do Sistema Financeiro Nacional correspondem a 8,6% do PIB, diz Troster, ao que se deve acrescentar o IOF cobrado em quase todas as concessões. Somem-se as dívidas fiscais, superiores a R$ 5 trilhões, cerca de 50% do PIB, a quase totalidade composta por multas e correção monetária.

Cria-se um efeito dominó. Com o aumento da inadimplência, aumenta a demanda por ativos menos arriscados e um aperto no crédito –  prazos mais curtos, taxas mais elevadas e critérios de concessão mais rígidos.  Esses problemas de liquidez temporária acabam afetando a solvência das empresas e o efeito dominó se propaga por toda a cadeia produtiva.

Segundo Troster, o maior fator de crise é a inadequação institucional da intermediação financeira,  praticamente a mesma há mais de trinta anos, com uma cunha bancária elevada e uma tributação perversa.

O problema se agrava a cada dia que passa, diz Troster. Com margens (spreads) cada vez mais altas, uma oferta de financiamentos encolhendo e a inadimplência subindo e induzindo as empresas a diminuir estoques, cortar custos, atrasar tributos e fornecedores e, em alguns casos, a demitir e até fechar.

Até agora, as ações do governo no crédito limitam-se a facilitar a cobrança, simplificando a lei de falência e a execução extrajudicial – em detrimento do inadimplente. Agora, o desafio é melhorar a solvência do setor privado.

Mas é evidente – e aí a opinião é minha – que essa loucura da taxa Selic tem papel central na crise de liquidez do mercado.

As dívidas estaduais

A proposta do Ministro da Fazenda Fernando Haddad, de renegociação das dívidas estaduais, é um belíssimo exemplo da contabilidade criativa. O governo federal negocia com os estados, reduz o peso da dívida, em troca do compromisso do excedente ser aplicado em educação.

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Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Você deve acrescentar a isso um novo fenômeno importante, Nassif.
    O desespero gerado pela impossibilidade de mergulhar na imensa onda da Inteligência Artificial.
    Segunda-feira peguei o elevador com o administrador do prédio. Ele me perguntou se eu estava lendo algum livro. Disse a ele que estava lendo dois: um sobre a ordem jurídica medieval e outro sobre a utilização de Inteligência Artificial no Judiciário inclusive para a prolação de decisões judiciais.
    Uma senhora que estava no elevador me interrompeu.
    – Eu sou doceira e estou “ferrada”. pois não sei como utilizar essa tal de Inteligência Artificial no meu ramo de atividade.
    Os cursos de “inteligência artificial” proliferam na internet (32.100.000 resultados no Google hoje). Aqueles que fazem promessas de enriquecimento rápido com uso de IA abusam da credulidade popular e espalham terror dizendo que quem ficar fora da IA não ficará desempregado e sem renda.
    A pobre doceira que me interrompeu é uma vítima em potencial dos estelionatários da IA. Alguém precisa furar essa bolha podre econômica, mas não serei eu. Já tentei furar a bolha da IA no Judiciário e só levei porrada do TSE, do CNJ, do CNMP e da imprensa. Com a honrosa exceção do Ministério Público do Trabalho que decidiu banir o uso do ChatGPT nos seus computadores, todo mundo no sistema de justiça parece estar disposto a mergulhar nessa aventura (advogados incluídos).
    Na esfera econômica o estrago será inevitável, pois o desespero faz as pessoas tomarem decisões ruins e perder dinheiro. Assim como cria oportunidade para os velhacos que sempre estão dispostos a enganar os tolos aproveitando as ondas criadas pela imprensa.

  2. Também se engana quem acredita que grupos de picaretas, principalmente das regiões Sul, Sudeste e alguns do Nordeste irão terem compromisso com o Brasil, Lula 3, virou um “gato escaldado”, confiar em quem?
    Um STF? Uma Mídia Corporativa com notícias inviezadas, ou ” narrativas mesmo”. Então o Lula 3, deve mostrar que a Democracia tem dentes, serão usados. Não acordos com derrotados, que cheios de direitos esquecem as obrigações. Não podemos esquecer que se chegou aonde chegou sem luta.
    A Democracia tem dentes e Lula deve saber sem medos, que se é briga que querem então….

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