Globo, CNN e a Lei do Teto, por Luis Nassif

A defesa radical da Lei do Teto leva em conta exclusivamente impactos nos ratings e dólar. Deixam de lado fatores centrais de crescimento.

É interessante entender a motivação dos grupos de mídia em defesa da Lei do Teto, e o combate à PEC da Transição, tratada unanimemente como PEC da Gastança – mostrando a ação articulada e a falta de imaginação dos veículos.

Esta semana, a Fitch Ratings soltou um relatório revisando o rating da Globo em moeda nacional para negativa. O rating mede o risco de inadimplência da empresa analisada, se contar exclusivamente com sua geração de caixa. No caso da Globo, há um caixa robusto, de R $15 bilhões. Mas uma geração de caixa insuficiente. O relatório traz um diagnóstico duro sobre a situação da empresa. Mostra a dificuldade da Globo em retomar margens de EBITDA de um dígito alto ou de dois dígitos. 

O EBITDA mede os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. As previsões da FITCH são de um EBITDA de 5% a 6%, mas fruto quase exclusivamente das receitas financeiras.

A Copa do Mundo deu prejuízo. Caiu a publicidade da TV aberta e o mercado brasileiro de TV por assinatura sofreu redução de 25% em relação a 2014. Naquele ano havia 19,5 milhões de assinantes; no terceiro trimestre deste ano o número caiu para 14,7 milhões.

Segundo a Fitch:

“Um rebaixamento do IDR em Moeda Estrangeira do Brasil provavelmente resultará em ação de rating negativa no IDR em Moeda Estrangeira e nas notas denominadas em dólar da Globo”.

O caso CNN

Em relação à CNN, ocorre fenômeno idêntico.

A empresa criou uma superestrutura não suportada pelo mercado brasileiro. Era garantida por duas empresas do grupo de Rubens Menin: a MRV (construção de casas populares) e o Banco Inter.

Confira o que ocorreu com ambos nos últimos meses.

De 22 de setembro a 19 de dezembro, as ações do Banco Inter, na Nasdaq, derreteram: queda de 57,3%. Embora as perspectivas de médio prazo sejam otimistas, os resultados dependem do faturamento em reais convertido em dólares. A Lei do Teto tornou-se um dos gatilhos do mercado. Sua revogação provocaria alta do dólar, reduzindo o lucro do Inter, em dólares.

Na B3 brasileira, do pico de R $20,70 em 14 de janeiro de 2021, os papéis da MRV caíram para R $7,65, uma queda de 63,6%. A relação dívida líquida/EBITDA é de 4,29. Em geral considera-se que, acima de 2,00, há riscos da empresa honrar suas dívidas com seus resultados operacionais.

A falácia da composição

Nesse cenário, percebe-se claramente o que, em economia, é chamada de falácia da composição: a ideia de que medidas que beneficiam um conjunto de empresas, beneficia a economia como um todo.

Desde 2016, em cima da Lei do Teto ocorreu um desmonte do Estado, os investimentos públicos caíram para perto de zero, houve um desmanche do mercado de consumo, com a informalidade e os juros reduzindo a capacidade de compra das famílias. No entanto, a Lei do Teto é defendida com unhas e dentes pelos grupos de mídia, porque garante um rating melhor nas agências de risco.

A queda dos assinantes de TV a cabo é significativa e mostra a extraordinária perda de renda do brasileiro, fruto da ortodoxia fiscal pós-2015..

Nos dois casos, a defesa radical da Lei do Teto leva em conta exclusivamente os impactos nos ratings e no dólar. Deixam de lado os fatores centrais de crescimento – tanto do país quanto dos seus mercados -, que é o fortalecimento da economia interna, a melhoria do mercado de consumo, os gastos públicos como indutores da recuperação da economia.

Luis Nassif

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Pois é “seo” Nassif, na época da cpi, assisti um dos capítulos mais infames do jornalismo nacional,no meio da programação da tal cnn, surgiu do nada, sem aviso prévio, um senhor da tal fiemg, a sucursal mineira da fiesp….esse senhor teve quase uma hora de monólogo para falar a favor da reforma trabalhista, sem interrupção do envergonhado jornalista, e sem nenhum contraponto por parte dos trabalhadores, foram quase uma hora de um monólogo horroroso impregnado de todos os absurdos que essa classe vocifera….. fiquei imaginando que, tivéssemos no império, a tal cnn chamasse os senhores de engenho para esbravejar contra a lei áurea…..como alguém consegue assistir aquilo????

  2. Nassif, me corrija, por favor, mas o que gira a roda da economia é o pleno emprego que faz com que as pessoas consumam, que por sua vez, irá beneficiar essas mídias, pois irão comprar produtos (canal de assinatura, por exemplo), o governo arrecada mais e pode anunciar mais na tv, assim como as empresas que produzem bens de consumo e serviços.

  3. Prezado Nassif (como é bom ler suas análises), me corrija, por favor, mas o que gira a roda da economia é o pleno emprego que faz com que as pessoas consumam, que por sua vez, trará benefícios essas mídias, pois, o cidadão irá consumir mais produtos (canal de assinatura, streaming, entre outros), com isso, o governo arrecadará mais e poderá comprar mais anúncios na tv, assim como as empresas que produzem bens de consumo e serviços.

  4. Pode até ser que estejam defendendo o teto de gastos pela sua enorme estupidez. Isso ninguém duvida. Mas,o que está por trás disso é o desejo de aumentarem experessivamente os gasto do governo com publicidade que,aliás,foi incluida,sabe-se lá porquê,na mudança realizada pelos deputados na chamada lei das estatais.

  5. Talvez, em minha imaginação, por preconceito, inveja e teimosia, a grande mídia preferiu viver amargos tempos de prejuízos e de irresponsabilidades, do que assistir mais um período de fabuloso de sucesso econômico e crescimento sólido e evolutivo, vindos de um governo progressista, que é liderado por um ex operário metalúrgico.
    Não foi por acaso que as mesmas mídias, que golpearam Dilma e sustentaram, felizes da vida, toda a farsa criminosa da Lava Jato para tirar Lula da disputa eleitoral de 2018.
    Penso que assim o fizeram de caso pensado, contando que iriam ganhar muitas retribuições pela parceria com os “parças” do lavajatismo nacional.
    Só que deu chabú, para aqueles
    obcecados e cegos, que, possivelmente, só enxergavam diante de si, um possível e fabuloso tempo de poderio, de mais parcialidade, de imunidades de diversas e até uma possível reconstrução da falácia de ser formadora de opinião e manter o controle sobre a indução e manipulação da população.
    Ainda que incrivelmente livres, por enquanto, entendo que insistem mais comedidamente nas mentiras, nas fake news, na parcialidade, no partidarismo e no alinhamento conservadorista e elitista.
    Pau que nasce torto morre torto, e ainda assim, mesmo estando todas deformadas e mais tortas, parece que não irão se emendar jamais.
    Então “bellas”, ciao, ciao, ciao

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador