Haddad e as políticas públicas articuladas, por Luis Nassif

O importante são os princípios de articulação das forças sociais e empresariais em torno de objetivos comuns. Ou seja, um aprofundamento da democracia.

A entrevista de Fernando Haddad à rádio CBN, traz alguns ensinamentos relevantes de política pública. Em geral, candidatos se limitam a discutir orçamento e obras. Um prefeito, governador ou presidente, tem que ir muito além disso. Como maior autoridade política da sua reunião, ele tem condições de orquestrar instituições, movimentos e associações em torno de objetivos públicos.

Tome-se o caso de São Paulo.

Tem os melhores institutos de pesquisa, as melhores universidades públicas, as melhores cidades médias, as maiores empresas do país, o maior orçamento estadual. A partir daí, podem ser montadas políticas públicas eficientes.

Lembro-me do tempo em que José Aníbal era Secretário de Tecnologia de São Paulo. Fez uma reunião em sua casa para colher sugestões de políticas públicas. Na época, eu estava envolvido com os movimentos pela qualidade e inovação. Sugeri a montagem de Brigadas da Informação. Consistiria das seguintes etapas:

  1. Identificar polos municipais de um mesmo setor, que poderiam ser organizados de acordo com os modelos de arranjos produtivos locais.
  2. Montaria uma brigada composta por técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), do movimento pela qualidade, do Sebrae paulista e da CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Ela faria um primeiro diagnóstico do setor: necessidades de melhorias tecnológicas, melhorias de gestão, melhorias gerenciais. Ao mesmo tempo, convenceria as empresas a entrar em um programa de melhoria.
  3. No momento seguinte, o próprio Secretário faria uma grande reunião com as associações empresariais locais e anunciaria o programa. A brigada ficaria de uma semana a 15 dias implementando os programas de melhoria.

A ideia não saiu do papel.

Recentemente, a CIESP montou um projeto de melhoria das pequenas indústrias do estado, articulando com outras organizações. Está cumprindo uma missão que deveria ser do setor público.

A proposta de Haddad é nessa direção: montar um grupo tecnológico, junto com instituições empresariais, para a grande mudança no padrão tecnológico das empresas paulistas. O pólo têxtil de Americana tem que ser remodelado, mas dentro dos princípios da indústria 4.0, com digitalização e outros avanços, diz ele.

Um governador com capacidade administrativa poderá mudar o Brasil a partir de São Paulo, dadas as condições do estado. Será possível montar modelos de gestão para serem replicados nos municípios ou regiões administrativas; montar modelos de habitação com base na tecnologia desenvolvida pelo Movimento dos Sem Teto; trabalhar a mobilidade urbana de maneira integrada na Grande São Paulo; aprofundar os consórcios de saúde; recuperar a educação pública estadual.

O importante são os princípios de articulação das forças sociais e empresariais em torno de objetivos comuns. Ou seja, um aprofundamento da democracia.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo.”

    Trecho extraído de uma conversa de empresários no whatsapp:
    https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/grupo-de-empresarios-golpistas-no-whatsapp-faz-coco-bambu-ser-detonado-na-web/

    Aprofundamento da democracia pode ser um objetivo legítimo de políticos em todos os cantos do mundo, desde que sejam progressistas e/ou de esquerda.

    Mas os empresários, ainda que não sejam todos tão explícitos como o celerado que digitou essa excrescência aí acima, tem como único objetivo o lucro. Lucro que boa parte deles teve, no período Lula e Dilma.

    Por que haveriam, então, de preferir golpe em vez da volta do PT? Um milhão de vezes?

    Porque quem quer fazer negócio, quer lucrar, e para isso servem democracias (mesmo de araque, como a democracia oligárquica dos EUA) e ditaduras de qualquer naipe.

    Lucro não tem ideologia, mas pelo visto, tem regime político preferido.

    E não é a democracia. Que, no fundo, é só uma fachada para o setor privado arrebanhar a riqueza do mundo, ao mesmo tempo em que posa de democrata, defensor dos valores cristãos, éticos, e deixando para os desgraçados do mundo, generosamente, os valores que estes merecem: a Liberdade, a Paz, a Virtude, a democracia; enquanto os outros valores, materiais e com valor de mercado, ficam com eles.

    E ainda serão capazes, um dia, (se é que já não o fazem) de dizer que fazem isso, ou seja, arrebanham o vil metal para si, por altruísmo, para poupar aos desgraçados do mundo a ida ao inferno, já que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Eles fazem o sacrifício, voluntariamente.

    Melhor ir para o inferno com a conta abarrotada de dólares, do que ir para o céu de bolso vazio. Afinal, no inferno deve haver o que comprar e a quem subornar.

  2. Excelente. É ocaminho único e esquecido pelos gestores. Buscar o desenvolvimento de forma integrada. Ressuscitar os polos que estão adormecidos. Por exemplo, São Roque, cuja vocação industrial têxtil vem de longe- Brasital e Carambeí – além da festa do vinho. Trazer de volta e de forma acelerada as ferrovias que tanto contribuiram para o desenvolvimento – hoje devem ser com alta tecnologia – mudando a matriz rodoviaria que está saturada. Investir em polos de tecnologia – TI-Cibernética-Semicondurores, etc…

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