O que se discute no grupo de economia da transição, por Luis Nassif

Uma das ideias em jogo é a de criar taxas subsidiadas, mas para setores considerados estratégicos - a exemplo do que é feito na China.

O grupo de transição de Economia começa a amadurecer alguns consensos para serem apresentados ao futuro presidente Lula.

Uma delas – envolvendo o Banco Central – é abrir a possibilidade do BC passar a operar nos mercados de taxas de juros longas.

Todos os grandes BCs do mundo atuam nesse mercado, por suas implicações macroeconômicas. Ele é fundamental não apenas para a colocação de títulos de dívida de prazo mais longo, mas por seus efeitos na formação de taxa de juros de longo prazo.

No Brasil, esse mercado sempre esteve à mercê dos jogos especulativos.

A proposta recebeu aceitação geral, inclusive de Pérsio Arida, o mais ortodoxo dos economistas do grupo.

Outro ponto relevante é que políticas de desenvolvimento exigem uma ampla concatenação entre diversos órgãos públicos. André Lara Rezende defende a flexibilização monetária. Mas, para ser eficiente, tem que haver alocação correta dos recursos, caso contrário haveria empoçamento nos bancos e criação de bolhas especulativas – como ocorreu nos Estados Unidos.

Ponto central dessa política é concentrar esforços nas pequenas e médias empresas e em startups. Para tanto, haverá a necessidade de uma soma de esforços do Ministério da Fazenda, Planejamento e grandes bancos públicos – o BNDES como o grande provedor de crédito de longo prazo, e Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, por sua capilaridade.

Daí a grande necessidade de se montar uma equipe afinada em torno dos mesmos objetivos.

Essas preocupações foram externadas em algumas discussões, chegaram a ser apresentadas a Lula, mas não há definição maior sobre o que decidirá.

Recentemente, economistas ortodoxos insistiram na descapitalização do BNDES, obrigando-o a ressarcir o Tesouro por aportes passados. O que está por trás disso é que, pelos indicadores da Basiléia – que definem os limites de crédito de um banco -, o BNDES tem amplo espaço para injetar crédito e investimento na economia. Pagando o Tesouro, seu capital diminuiria e, consequentemente, diminuiria seu poder de oferta de crédito

Um ponto de consenso é o fim da aposta nos “campeões nacionais”. A experiência mostrou uma série de externalidades negativas óbvias, mas que não foram consideradas no período.

Uma delas foi o desequilíbrio entre as “campeãs nacionais” e sua rede de fornecedores. O caso típico foram os frigoríficos, que se transformaram em empresas multinacionais, desarrumando toda a cadeia de fornecedores e o mercado de couro.

A segunda contraindicação é que, com o tempo, os “campeões nacionais” tendem a se transformar em empresas internacionais, como foi o caso da Ambev e da JBS.

Não há consenso ainda sobre as taxas de juros do BNDES. Historicamente ele trabalhava com taxas similares às internacionais, visando dar condições de competitividade às empresas nacionais. Coube a Pérsio Arida criar uma nova moeda do BNDES encarecendo os financiamentos afim de abrir espaço para negócios do mercado.

Agora, uma das ideias em jogo é a de criar taxas subsidiadas, mas para setores considerados estratégicos – a exemplo do que é feito na China. Por exemplo, empresas de saneamento, empresas envolvidas com as mudanças ambientais etc.

Nos próximos dias, o relatório deverá sintetizar os consensos e ideias mais maduras.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. A teoria sem a sensatez tem seus percalços. O animal humano, agora apenas o sapiens – o destruidor, tem um grande problema: a ganância.
    Faltou ver o óbvio: a constante busca pelo lucro acima de qualquer consideração.

  2. Uma das coisas mais sábias que ouvi durante toda essa campanha eleitoral estapafúrdia foi fita por Rudá Ricci, Lula tem que governar para as urnas, para quem o elegeu….li tudo isso aí e pergunto? Onde se encaixa quem votou em Lula??? Ou vão cair no mesmo erro do capitão e esquecer que daqui a quatro anos terão que se haver com .o eleitor??? E Lula já esqueceu da promessa que fez na porta da Volks de que o primeiro ato depois de ELEITO seria voltar e anunciar o reajuste da tabela do imposto de renda, já se esqueceu???

  3. FEBEAPÁ , vai ser difícil mudar pois a ignorância TOTAL continua a imperar.
    Sem norte, sem estrela e sem rumo não há como se direcionar.

    A equipe econômica continua batendo cabeça e só falando asneira, infelizmente.

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