O setor elétrico será a subprime brasileira, por Luis Nassif

A idiotia generalizada nacional, o curtoprazismo, a financeirização abriu o caminho para uma crise contratada, que afetará todo o país

Para quem só olha o mercado, o grande problema para o governo Lula será o setor energético. Ontem, o grupo de trabalho da transição estimou um passivo herdado de R$ 500 bilhões para Lula, decorrente dos erros cometidos nos últimos anos. Parte expressiva do passivo decorre do acordo entre governo e Congresso para a privatização da Eletrobras.

Numa ponta, um negócio: a própria privatização, que permitirá à Eletrobrás um poder de mercado ilimitado, com uma supervalorização das ações, já controladas pelo grupo 3G, de Jorge Paulo Lemann, e Jabbur.

Na outra ponta, um super jabuti, a inclusão de termelétricas no projeto, obrigando a construção de gasodutos para os locais mais ermos do país. A conta foi jogada no colo da energia contratada – aquela que é vendida pelas distribuidoras e acessível a consumidores residenciais e pequenas e médias empresas. O mercado livre – onde se darão os grandes negócios – foi isento dessa taxa.

Seria conveniente que o governo eleito assistisse o programa “O governo Lula e o desafio no mercado de energia”, passado ontem no programa Nova Economia, da TV GGN. Dele participaram os especialistas Clarice Ferraz e Ronaldo Bicalho, mais os economistas Leda Paulani e João Furtado.

Nele, Ferraz e Bicalho mostram a lógica do sistema elétrico brasileiro, o desmonte perpetrado nos últimos anos e o risco de uma grande crise sistêmica para os próximos anos, o “subprime brasileiro”, como descreve Bicalho, referindo-se ao grande estouro do mercado imobiliário norte-americano.

Durante décadas, o Brasil montou o mais completo sistema de energia elétrica do planeta, capaz de dar conta das cinco estações do ano que convivem simultaneamente no país. Foi um feito dos especialistas em energia e das empreiteiras, tendo como ponto central a Eletrobras.

A lógica do setor consistiu em integrar todas as geradoras e consumidores em uma grande rede nacional, através de linhas de transmissão que ligavam todo o país. O modelo permitiu a integração de centrais elétricas estaduais e administrar os problemas climáticos. Se havia seca em uma região, a redução da geração era compensada pela produção em outra. E tudo isso garantido pelos grandes reservatórios nacionais ligados por linhas de transmissão.

Agora, tem-se o problema da transição energética.

De um lado, devido a problemas ambientais e sociais, esgotou-se a possibilidade de produção de energia hidráulica e de construção de novos reservatórios. De outro lado, a transição energética pulveriza ainda mais a geração, em torno de energia eólica e solar.

Tudo isso ocorre em uma quadra da economia mundial na qual a inflação (causada fundamentalmente pela crise de energia e alimentos) encarece a captação de investimentos.

A guerra da Ucrânia expôs brutalmente  a vulnerabilidade energética dos países, exigindo investimentos maiores na geração interna. Por outro lado, o aumento da inflação mundial – decorrente basicamente da explosão dos preços da energia e dos alimentos – encareceu agudamente o custo do dinheiro.

A saída encontrada pela França foi completar o processo de estatização da EDP para conseguir um rating mais favorável e captar dinheiro barato, além de direcionar sua ação para questões estratégicas. A Alemanha montou um super-programa de investimentos, para assegurar energia barata para suas indústrias.

Aí reside o busílis da questão. Energia não é uma commodity qualquer – como o minério da Vale do Rio Doce. Ela é fundamental para assegurar a competitividade da economia, da produção nacional e garantir acesso da população a direitos básicos.

O Brasil possui condições excepcionais para voltar a produzir energia barata. É um país tropical, com uma costa exposta a ventos fortes e a sol intenso, com uma grande produção de energia hidrelétrica, mas exposto às condições do tempo. Ainda mais porque não existem formas de armazenar a energia do vento e a solar. Dilma foi ironizada pelos idiotas da objetividade, quando falou em “estocar ventos”. Mas essa é a grande vulnerabilidade da energia eólica e solar, a impossibilidade de armazenar a produção.

Por isso mesmo, a estabilidade do sistema dependeria, mais do que nunca, de uma âncora forte, reservatórios que funcionam como as pilhas do setor, todos integrados por linhas de transmissão.

Devido ao papel fundamental desses dois instrumentos, para garantir a estabilidade do setor, países como o Canadá, por exemplo, mantiveram-nos sob controle do Estado,. inclusive para assegurar a estabilidade dos investimentos privados.

A Eletrobras responde por 55% dos reservatórios e mais de 50% da geração de energia no país. Seria a grande âncora, inclusive no fornecimento de energia contratada – aquela com contratos de longo prazo e a preços menores, para abastecer as distribuidoras.

No fim do primeiro governo FHC, houve o primeiro movimento para desmontar o sistema, com uma privatização mal feita, copiada da Inglaterra, que tem condições geofísicas e geológicas completamente distintas do país. Uma redução das chuvas implodiu o modelo antes mesmo de se completar.

Ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff conseguiu consertar o modelo, definindo dois mercados: o de energia contratada e o mercado livre. Havia um modelo engenhoso de financiamento das obras. As distribuidoras adquiriam antecipadamente cotas da nova usina a ser construída. Os recursos garantiam o financiamento e os contratos asseguravam a oferta de energia posterior a preços módicos. O mercado livre servia apenas para suprir falta de oferta em momentos de pouca chuva.

Como presidente, Dilma tentou um lance mais ousado. Na tarifa das hidrelétricas brasileiras havia uma taxa de depreciação – destinada a compensar os investimentos feitos na construção da usina. No final do primeiro governo Dilma, terminava o prazo de depreciação de diversas hidrelétricas e, consequentemente, saia de cena a taxa de depreciação. Dilma resolveu, então, transferir o benefício para os consumidores. Definiu um custo de operação para as usinas e autorizou uma tarifa que cobria o custo e garantia uma margem para o operador.

O modelo foi bem intencionado mas, segundo os críticos, jogou-se a tarifa para um patamar muito baixo, esquecendo a necessidade de recursos das empresas para novos investimentos. Esse fato, mas uma grave crise hidráulica, e a recusa de estatais controladas por governos tucanos em aderir ao projeto, destruiu o modelo e enfraqueceu a Eletrobras.

O setor elétrico passou a ser visto exclusivamente pela ótica dos grandes ganhos financeiros que proporcionou e proporcionará ao mercado. Abriu-se uma corrida ao ouro, com grandes bancos e grupos financeiros abrindo suas comercializadoras de energia.

A perspectiva de ganho fácil fez o mercado embarcar de cabeça em um setor, sem conhecer suas peculiaridades, exposto que está ao clima. Já se teve algumas experiências em anos recentes, com a redução das chuvas provocando problemas no mercado contratado, mas crises profundas no mercado livre.

Sem a Eletrobras atuando como agente moderador de tarifas, e supridor de energia no sistema integrado, há um rascunho do mapa do inferno sendo desenhado.

Se a Eletrobras estatal era a grande amortecedora dessas crises – com seus reservatórios, geração e transmissão de energia – agora esse poder todo será utilizado  em benefício de seus controladores. Quanto mais estratégica ela se tornar, maior será o preço cobrado do sistema como um todo.

A idiotia generalizada nacional, o curtoprazismo, a financeirização desenfreada abriu o caminho para uma crise contratada, que afetará todo o país mas, especialmente, o próprio setor privado que se aventurou sem conhecer os meandros das curvas dos rios.

Luis Nassif

22 Comentários

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  1. Muito bem explicado o que aconteceu, mas é leite derramado, a Eletrobras já era. O que fazer? Qual a alternativa agora? Reestatizar a empresa? Partir para outro caminho de energia? Qual? Nos resta agora o sol e a energia que ele pode gerar, nesse vasto país tropical. Mas é possível? É viável?

  2. Solar fotovoltaica associada à solar térmica nas residências, comércio e indústrias. Baterias de zinco extremamente baratas e eficientes.
    Tudo “made in China “.

  3. É em um momento como esse que se vê quem são os patriotas e quem são os entreguistas, usando uma terminologia dos anos 50/60. De um lado, Estilac Leal; de outro Cordeiro de Farias. Mas, ao que parece, há um artigo de Gilberto Bercovici, apresentada em

    https://www.portalclubedeengenharia.org.br/arquivo/1520263864.pdf

    que mostra as inconstitucionalidades da privatização da Eletrobrás (e das vendas de partes da Petrobrás). Ele é um ótimo nome para ser ouvido pela TV GGN.

  4. A “solução” do mercado é repassar os riscos do negócio para os consumidores, com o pretexto de oferecer “liberdade de escolha”. Canalhas.

    (Sugiro um artigo chamando a atenção para os inaceitáveis riscos disso em um bem essencial como a energia. Comparar com o desastre da liberdade tarifária de energia no Texas, mormente durante crises climáticas. Imagine o cassino dos preços das passagens aéreas aplicado também à sua conta de luz: é disso que se trata)

  5. Vamos pensar simplesmente.coko consumidores Itaipu ficou na mão do governo certo e seu financiamento foi concluído então não há mais pagamentos a.serem feitos se o kovo governo administrar a empresa poderá amortizar e equilibrar o mercado.
    O ramo que tantos falam é pela obrigatoriedade de construir térmicas em kugares onde não a infra gasodutos e tal.
    Então a solução é simples lícita as novas térmicas sem infra dificilmente aparecerá alguém para financiar os projetos confirmando sua inviabilidade e revisando as exigências aprovada ko congresso.
    Simples assim e em relação a eletrobras nos últimos quatro anos a empresa respirou deu lucro e mesmo assim não teve como realizar os investimentos necessários para manter sua posição de mercado se não muda-se o controle da empresa seria engolida nos próximos 10 anos pois os níveis de investimentos necessários para a atualização das hidroelétricas e linhas de transmissão não seriam realizados como não foi nos últimos anos.
    Outra coisa seus cegos qual foi a última grande obra do governo na área de energia???? Belomonte certo pesquisa aí a eficiência da hidroelétrica que na verdade é simplesmente um grande elefante branco que foi construída erradamente a fio de água e só consegue gerar energia total em seis meses do ano em condições favoráveis.
    Governo não sabe investir simples assim ele deve se limitar a regular e formar ambiente se negócio favorável para atrair investimentos privados.
    Eletrobras privatizada velerá o dobro e o governo ainda mantém 45%da empresa.
    Mais concorrência menor o preço e sem canetada

  6. Melhor deixar como está. Um cavalo-de-pau a essas alturas, vai deixar o mercado em ebulição e os militares estão aí em prontidão, para defender a honra dos ofendidos, liderados pelo Bolsonaro. Virada de mesa, somente vem ao encontro do que espera a extrema-direita, em relação ao governo Lula. Querem a bagunça para tomar conta de tudo!

  7. Nossa, quanta confusão e opinião tendenciosa Nassif deixou nesse artigo. Não houve boa estratégia, ou arrojo da MP579 está como um dos maiores erros, senão o maior, da história do setor elétrico nacional. Eletrobrás jamais foi capaz de ser um estabilizador dos valores de energia dentro de uma sustentabilidade operacional. A Eletrobrás sempre foi sim, um cabide político e uma alavanca populista na mão dos governos de 2002 a 2016. Não vou perder tempo em comentar sobre estocar vento, pois até mesmo minha filha de 8 anos sabe da barbaridade disso.

  8. O Ricardo B Silva diz que a Eletrobras sempre foi um cabide de emprego. Talvez ele não saiba que para trabalhar lá era necessário fazer e ser aprovado em concurso público. Ele talvez tbm não deve estar sabendo que a direção da Eletrobras está propondo aumento de até 3.700% em seus salários, coisa tipo R$ 200.000 para um conselheiro que participa de uma reunião por mês. Sobre estocar energia do vento, talvez ele saiba mesmo menos do que uma criança de 8 anos.

  9. Quando tudo for privado, seremos privado de tudo.
    O papel da Eletrobrás pública e garantir energia barata e de qualidade para novas fábricas, gerando emprego e renda.
    O papel da empresa pública não é da lucro, o papel principal é suprir a necessidade da população.

  10. DIREITO DE RESPOSTA: Nassif Meu Caro, no artigo você decretou o “fim do potencial hidrelétrico brasileiro”, uma inverdade absoluta. Por isso, atingido como um dos 212 milhões de brasileiros que somos donos das nossas riquezas minerais, naturais e nossas empresas estatais e seus ativos, solicito na forma da lei, o Direito de Responder em seu conceituado site a essa afirmação TOTALMENTE INVERÍDICA. Prometo entretanto RENUNCIAR a seu pedido se você dividir com seus muitos leitores, DENTRE ELES EU MESMO, a fonte oficial, checada e verificada por você dessa afirmação que CONDENA TODOS OS BRASILEIROS a viver sob um tipo de “hipnose”, aceitando sempre COMO INEVITÁVEL o MAL MENOR da carbonização da matriz elétrica e a segunda tarifa de energia mais cara do mundo.
    Sempre atento às suas ponderações e vontade de investigar aas coisas, pareceu-nos muito aligeirada, – para quem espera um artigo jornalístico e não apenas de opinião-, sobre tem tão importante E RELEGADO A SEGUNDO PLANO. Aliás no resto do artigo sua opinião é 99% correta. Menos no principal ponto: segundo dados do presidente da EPE no tempo de Dilma, apresentados no ENASE 2015, o Brasil possui o terceiro maior potencial hidrelétrico remanescente do mundo, de 10% do total, atrás de Russia e China apenas. Segundo o mesmo técnico e professor, esse potencial de forma alguma estaria esgotado “por razões ambientais e climáticas” muito ao contrário. Pois os mais de 51 GW elencados pela EPE no estudo são 30 médias e grandes usinas que estarão fora da AMAZONIA LEGAL, na região sudeste e portanto proximas dos centros de carga.

    A afirmação está disponível também no site da ELETROBRÁS, https://eletrobras.com/pt/Paginas/Potencial-Hidreletrico-Brasileiro.aspx onde era publicado a todos os anos a atualização de todos os potenciais elétricos disponíveis, do chamado SIPOR. Isso ocorreu até janeiro de 2019, quando coincidentemente a relação de todos os potenciais hidrelétricos do Brasil deixou de ser atualizada e pubçicada, talvez para não valorizar a empresa que foi praticamente doada a JP Lehman. Curiosamente, por uma coincidencia muito grande, o Governo Bolsonaro, que criou esse nova fortuna de 500 bi a ser paga por nós aos donos de termelétricas , simplesmente saiu do ar e nunca mais foi atualizado desde dezembro de 2018. Foi “cancelado”…Não se tem mais informação sobre ele, o que justifica que quem não saiba temos 102 GW hidro operando hoje e mais 135 GW para construir, dos quais 10 GW de projetos já licenciados de Pequenas centrais hidrelétricas possam ser levados a crer que frente ao mal maior do apagão, a energia termelétrica, seja a nossa unica e sujíssisma “taboa de salvação” pois tem sido vendida a ao povo brasileiro à custa de uma verdadeira HIPNOSE GOEBELLIANA que repete sem cessar o mantra “o brasil não tem hidrlétricas” como Carlos Lacerda e demais agentes americanos no Brasil repetiam “O Brasil não tem Petróleo” . Para mais detalhes, a que compreensivelmente você pode não ter tido acesso ainda, publicamos um artigo sobre a proposta de PLANO PRIORITÁRIO DE HIDRELÉTRICAS AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEIS no site do MOVINENTO EM DEFESA DA SOBERANIA NACIONAL http://www.mdsn.com.br Sou engenheiro eletricista, abomino o que a ditadura militar fez em Itaipu, Balbina, Itá contra os ribeirinhos e povos originários, mas reconheço o trabalho que os tecnicos das empresas estatais fizeram em centenas de outras usinas das quais não se ouviu nunca nenhuma reclamação. Fui presidente da COPEL DISTRIBUIÇÃO, membro da assessoria técnica do FORUM POPULAR CONTRA A VENDA DA COPEL em 2001, membro da Assessoria do Candidato LUla que elaborou as DIRETRIZES PARA O SETOR ELÉTRICO (com Piguelli, Dilma, professor Tolmanskin, Roberto DAraujo, Mantega, deputados Zica e Fernando Ferro entre outros) fui diretor do INSTITUTO ILUMINA para a região Sul, fundador e presidente da ABRAPCH, que é a associação setorial das hidrelétricas de baixo impacto ambiental.

    Por isso, por admirar seu trabalho, convido-o a desconfiar muito de qualquer afirmação NÃO PROVADA POR DOCUMENTOS OFICIAIS QUANTO AO ALEGADO FIM DO POTENCIAL HIDRELÉTRICO QUE PODE SER APROVEITADO AINDA NO BRASIL DE FORMA ABSOLUTAMENTE COERENTE COM TODAS AS LEIS QUE RESGUARDAM O DIREITO DOS RIBEIRINHOS e o direito de toda a população à energia elétrica barata para impulsionar pela base toda a economia. Como não possuo seu contato , deixo o meu email, caso você possa brindar-nos a todos com a fonte oficial de onde saiu essa afirmação extremamente perigosa, pois tira dos brasileiros até mesmo a esperança. Bom domingo e aguardo sua resposta por aqui mesmo ou pelo email. Convido-o a conhecer o PPHAS, plano prioritario de hidrelétricas ambientalmente sustentáveis que permitirá ao presidente Lula e ao Brasil cumprir a meta de emissões zero da matrizelétrica em 10 anos. E metade dela em 5 anos, com 5 GW de UHEs reversíveis e repotenciáveis, potanto sem nenhum impacto adicional ao já existente, mais 10 GW de pequenas e mini usinas já licenciadas e mais 5 GW de novas hidrelétricas de medio e grande porte na região sudeste, plenamente viáveis se os direitos dos ribeirinhos e afetados APENAS FOREM RESPEITADOS PELA BUROCRACIA E PELOS EMPREITEIROS. Um abraço!

    Nassif, resumindo: desde 1998 o Brasil tem sido chantageado pelos mesmos que defendem a privatização, abertamente ou de forma oculta, dentro de todos os governos ( eu disse todos). O truque é simples: provocar dificuldades para vender facilidades. Não investir em hidrelétricas dizendo “ser impossível”, para obrigar-nos a depender de termelétricas importadas, poluentes e produtoras de caríssima energia que deveria ser de uso emergencial. Elas são até 8 vezes mais caras. Em 1998 FHC, Sarney e Collor, seguindo a nova receita do FMI, CORTARAM OS INVESTIMENTOS. Lula assume

  11. TRANSIÇÃO HIPNÓTICA: A TIRANIA FINANCEIRA ( de Pedro Augusto Pinho)

    Bolsonaro fracassou para os interesses financeiros pelos excessos militaristas e direitistas que este poder global suporta. Nada tem a ver com democracia ou qualquer das farsas que o financismo divulga para sua conquista e manutenção do poder. Ele gosta mesmo das fantasias; aparecer defendendo identitarismos, questões climáticas, preservacionismos, quando tudo que deseja é a liberdade de extorquir recursos monetários e concentrar renda em todas as sociedades.
    Porém são dois os pavores das finanças apátridas: o nacionalismo e o trabalhismo, e todos sabemos que também arrepiam Bolsonaro e os bolsonaristas, mas, pelo fato de estar cercado por militares e agir com populismo eleitoral, assustou as finanças. Perdeu credibilidade.
    Foram a procura de candidato capaz de unir todos os setores não bolsonaristas e vencer a eleição presidencial de 2022. Notem caros leitores que apenas se tratava da eleição presidencial, pois o legislativo viu crescer o número de adeptos do Jair Messias.
    Somente Lula atendia às condições, o que provocou as mudanças de julgamento do judiciário, orientado por instituições estadunidenses, como já é do conhecimento geral, e a formação de verdadeiro balaio de gatos de todas as cores, apenas para eleger Lula.
    Vencida a primeira etapa trata-se agora de manietar Lula, impedir ou dificultar que ele faça o Brasil crescer e distribuir mais amplamente a riqueza gerada. E as finanças passaram a comandar, por seus prepostos, as equipes para transição governamental. Com este trem, cheios de vagões de cores diferentes, não foi difícil escolher, em quase todos os componentes, neoliberais raiz, ou previamente corrompidos, ou fieis a grupos políticos com interesses bancários ou, simplesmente, colonizados pela pedagogia dos currículos e das mídias hegemônicas.
    Se sobrou, por acaso ou descuido, algum nacionalista ou trabalhista, sua participação nos grupos de transição foi convenientemente emudecida ou ele foi cuidadosamente isolado.
    A partir daí tudo se resume à disponibilidade financeira: a bolsa família, a segurança pública, a infraestrutura, o apagão privatista de energia, tudo decorria da dívida deixada pelo governo Bolsonaro, como Paulo Guedes, financista de criancinha, dispensasse a “responsabilidade fiscal”, palavras do Consenso de Washington (1989), e, não fosse esta, o sinal da cruz do poder financeiro.
    Mas qual é a verdade? Usar a realidade, a veracidade é pura assombração para os neoliberais, neopentecostais, paleofinancistas.
    Quem melhor do que a Auditoria Cidadã da Dívida (ACD) conhece a realidade financeira brasileira? Certamente ninguém mais se debruça, há anos, nesta luta para levantar o véu diáfano da fantasia financeira nacional.
    Em janeiro deste ano, Maria Lucia Fattorelli, coordenadora da ACD, denunciava que, no orçamento federal de R$ 4,363 trilhões, a “dívida” levaria R$ 2,472 trilhões, 56,65%; mais da metade, sendo o restante para o poder judiciário, a defesa nacional, a previdência social, a segurança pública, a saúde, a educação, e todas as demais despesas do País.
    Mas esta dívida seria para investimentos, para a melhoria da vida dos brasileiros? Claro que não. Apenas um exemplo: a Lei nº 14.185/2021.
    Ela originou do PL 3.877/2020, do senador Rogério Carvalho (PT-SE), relatado pela senadora Kátia Abreu (PP-TO). Em regime de urgência e com o parecer da Deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), foi aprovada na Câmara dos Deputados. Vê-se o caráter pluripartidário que só as finanças conseguem. Mas do que trata a Lei?
    Da remuneração diária, para os bancos, do saldo das suas contas, sim caro leitor, de todas as contas que passem a noite no banco, pelo Tesouro Nacional, ou seja, pelos impostos que você paga, mediante emissão de títulos de dívida pelo Governo e, consequentemente, aumentando seu montante, que justificará o aumento da taxa de juros (Selic), que, uma bola de neve, estará sempre impedindo a despesa com saúde, educação, geração de emprego, segurança pública etc, etc, etc.
    É com base nesta farsa, hipnotizados, que os grupos da transição pretendem manietar o Presidente Lula. Não há dinheiro, quando, na verdade, segundo a ACD, o país tem mais de cinco trilhões de reais, hoje disponíveis, para gastar com as necessidades do povo e não com o enriquecimento das finanças apátridas.
    O autor agradece ao jornalista Beto Almeida a sugestão do tema e do título deste artigo.
    Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.

  12. Se o novo governo não reestatizar a Eletrobrás, ele acaba muito em breve. Porquê?
    Porque os preços da energia subirão às alturas, impactando a inflação.
    Lembram-se do qie aconteceu quando o litro do diesel subiu a R$8,00 o litro?
    Manda ver Lula!
    A festa do mercado acabou!
    Outra, temos uma crise de oferta energética contratada. O setor privado investe pouco. Não há substituto para o Estado.

  13. Desculpe Nassif foram publicados agora.Mas reitero meu pedio de Direito de Resposta com relação ao alegado “fim do potencial hidrelétrico” do Brasil. ISSO FOI UM MANTRA INVENTADO POR EMPRESARIOS DE TERMELÉTRICAS E IMPORTADORES DE OLEO DISEL, OLEO COMBUSTÍVEL E GAS NTURA LIQUEFEITO, e pelo seu lobby na midiaccorpoativa, para impedir investimentos em hidretricas pois ekes vebde. Enegia8 vezes mais cara!

  14. Durante o processo de execução do GOLPE DO SÉCULO, como bem nomeou Nassif, o PT, Lula inclusive, ameaçava rever e anular a escandalosa entrega do controle acionário da Eletrobras ao mercado vadio, digo, financeiro. Na campanha continuava a “intenção”. Vencida a eleição,não se fala mais nisso. Esqueceram? Se “esqueceram” aderiram ao golpe. Já vão começar traindo o eleitorado e o Brasil. Mau começo.
    Em tempo: votei sempre e votaria de novo em Lula, desde que ele não se rendesse ao mercado financeiro, em detrimento dos interesses do Brasil.

  15. Acordem!

    Onde voces já viram o que o potencial hidrelétrico remanescente do Brasil acabou?

    Ou que apenas com a ELETROBRÁS se poderia construir novas usinas hidrelétricas estatais?

    Voces estão hipnotizados ou torcem pelo pior?

    Acordem!

    http://Www.mdsn.com.br

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