Política industrial e o coral das araras falantes, por Luís Nassif

Provavelmente é esse preconceito com o “antigo” que transformou esses pseudo-intelectuais em completos jejunos em histrória econômica.

Aí , o jornalista experiente olhou de soslaio a nova política industrial e fulminou: “é coisa antiga”. O jovem foca, vendo a segurança do colega experiente, chutou de bate-pronto: “‘é coisa velha”. A âncora do jornal começou, continuou e terminou com o diagnóstico único: “voltou-se ao passado”. E nada mais disse nem lhe foi perguntado.

É um horror!, não há termo que melhor exprima esse show de preconceito e desinformação sobre políticas industriais. É possível uma gradação infinita de tolices, cujo lance final sempre será um artigo de Joel Pinheiro da Fonseca – de uma família que ajudou a construir o país, antes que a ignorância a dominasse.

Alguns desses sábios da luz do neon lilás atribuíram às políticas industriais a crise do governo Geisel, a suposta crise do governo Lula, o impeachment da Dilma, todos os fracassos nacionais.

O governo Geisel acabou não pelo 2o Plano Nacional do Desenvolvimento, mas pelo guru absoluto do mercado – o então Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen – endividando o país até as tampas em cima de um sofisma: dívida não foi feita para ser paga, mas para ser rolada, o que seria um ótimo início de discussão se falasse em dívidas em moeda local. Mas era dívida externa.

Quando sobreveio o segundo choque do petróleo e o primeiro choque de juros, o país afundou – e o 2o PND nada teve a ver com isso. Com toda a crise dos anos 80, o país ingressou na democracia com a industrialização completa, uma industria de base sólida, outra de máquinas e equipamentos pujante. E tudo isso foi possível pela política de substituição de importações, pelo apoio dos planos econômicos, pelo financiamento do BNDES, pelos investimentos da Finep.

Aí o sábio banguela coça a barba rala e repete: “mas é coisa antiga”.

Todos os fatos históricos, por históricos, referem-se a coisas velhas. Provavelmente é esse preconceito com o “antigo” que transformou esses pseudo-intelectuais em completos jejunos em história econômica. Lessem um pouquinho, avançassem um mínimo além dos slogans de lacração, saberiam o que foi essa política velha.

Como reparou um velho amigo: “o tal Joel tem razão. Política Industrial é coisa velha. Presidiu o desenvolvimento industrial desde Alexander, Hamilton, os financiamentos do Banco na Inglaterra no século XVII e as aventuras de Otto von Bismarck no final do século XIX. Isso para não falar da nossa trajetória de industrialização e muito menos mencionar a escalada chinesa. Mas, é claro,  argumentam os sabichões da ignorância histórica: tudo deu errado”.

Há muito o que se cobrar dos planos da neoindustrialização. Há que se checar as metas apresentadas; quando houver mais detalhes, analisar os instrumentos acionados; analisar a interação entre os diversos ministérios e setores; avaliar a gestão do programa.

Fica combinado: quando ler um colega que limitou-se a dizer que é “coisa velha”, não o acuse de neoliberalismo, de agente do mercado e quetais. Trata-se apenas de um caso típico de arara falante.

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Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Sei que o Nassif é um excelente jornalista. Mas, poderia deixar ajudarem passando um simples corretor ortográfico. Sei que são meros erros de digitação, eu também faço muito isso. Quem sou eu pra dar conselhos, é só uma pequena observação.

  2. O mais engraçado é que esse povo que supostamente detesta coisa velha no Brasil frequenta a feirinha de antiguidades embaixo do MASP adora viajar para a Europa a fim de visitar monumentos romanos. Se alguém vasculhar os Facebooks e Instagrans deles certamente encontrará lá muitas velharias, entre as tais as teses do Consenso de Washington que foram ignoradas pela China, Índia e pela Rússia, três países que tem crescido mais rapidamente que a União Europeia neoliberal.

  3. Tudo bem que araras façam barulho (palrar), agora confundi-las com papagaios é outra estória. Mas, deve ser carência do seu banco de imagens.

    Nos primórdios, por volta do início dos anos 80, aprendi com um antigo jornalista que deveria ler, ler e ler. E também aprender aritmética para não ficar com medo ou raiva dos números e das quatro operações.

    Depois, na universidade me dei conta que conhecer a Matemática estimula as ciências, a filosofia, o direito, o jornalismo, etc. Os donos da verdade no colunismo da mídia comercial tem medo de fazer continhas básicas e projeções. Simples assim. Daí, o grasnar das araras.

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