Com Rogério Rosso e Rodrigo Maia, Temer tem “apoio extraordinário”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Logo no início da manhã, os dois candidatos da direita parlamentar que lideram a disputa para a Presidência da Câmara já articulavam planos para um segundo turno. Diante de um cenário de 14 concorrentes, Rogério Rosso (PSD-DF) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) são os nomes mais bem-vindos para dar sequência à atuação do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nas pautas conservadoras e de interesse do peemedebista.
 
O melhor dos cenários, tanto para Cunha e o Centrão (formado pelo PRB, PSD e outros 10 partidos), quanto para Temer, é que o segundo turno seja definido entre Rosso e Maia. Se para Cunha, a vitória de Rogério Rosso pode representar o fim de sua cassação, para Temer a base está mais consolidada entre os partidos nanicos que o seu próprio, que levou o ex-ministro de Dilma Rousseff, Marcelo Castro (PMDB-PI), para a disputa.
 
Já Rodrigo Maia, apesar de representar certo risco a pautas de Michel Temer e até à própria cassação de Cunha, é o nome defendido pela antiga oposição, incluindo o DEM e o PSDB. A bancada tucana levará 50 deputados a se posicionarem favoráveis à vitória do deputado. Também em seu nome estão apostando os parlamentares do PSB e PPS.
 
Foi nesse apoio angariado da noite para o dia que Temer previu as maiores chances do palanque não estarem entre Rosso e Castro, mas entre Rosso e Maia. Com isso, o presidente interino promoveu um jantar de última hora, na noite desta terça (12), reunindo os partidos que sustentam a candidatura do deputado do DEM. Em menos de 15 minutos, conversou com Aécio Neves (PSDB-MG) e Agripino Maia (DEM-RN) para se garantir que a Câmara manteria a governabilidade do presidente provisório.
 
Ocupando grandes quadros de primeiro escalão do governo Temer, tanto o DEM, quanto o PSDB “devem” gesto de apoio ao interino. Nesse cenário, já nesta manhã os quatro partidos (PSDB, DEM, PSB e PPS) anunciaram o apoio a Rodrigo Maia.
 
“Esse conjunto de quatro partidos entendeu que apresentar dois candidatos seria ruim”, disse o líder do PSB, Paulo Foletto (ES). “Com uma eleição personalizada, como essa vai ser, pode ser um desastre pior do que o que hoje já temos. Por isso, a política de agregação partidária, de compromisso coletivo, na figura do Rodrigo”, completou.
 
Juntos, eles somam 117 deputados que votarão nesta quarta-feira. Com o gesto, se Rogério Rosso estava na liderança como o candidato com mais chances de se eleger presidente, já nesta quarta o deputado do DEM revertia o cenário. Independentemente da decisão, se sair Maia ou Rosso, Temer estará feliz, com as garantias já estabelecidas de governabilidade de pautas. 
 
Mas as negociações feitas pelo interino com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que culminaram na sua renúncia na última quinta-feira (07), era dedicar o máximo de esforço para levar o nome de Rogério Rosso à vitória. 
 
Isso porque o histórico do deputado do PSD mostra a sequência de apoios e defesas ao peemedebista. Na CPI da Petrobras, por exemplo, em março do último ano, Rosso elogiou Cunha, manifestando “absoluta confiança” e se solidarizou com as primeiras suspeitas levantadas contra o parlamentar na Operação Lava Jato por contas no exterior.
 
Por outro lado, Rosso também enxerga um cenário positivo se for levado a segundo turno com Maia, porque os partidos de esquerda, exceto o PT, encontrariam resistência em apoiar a vitória de um deputado do DEM, com as pautas conservadoras privilegiadas na Câmara. 
 
Após a noite de tratativas com o PSDB, DEM e já garantido pelos partidos do Centrão, Temer está tranquilo. Não à toa, manifestou que a base no Congresso lhe dá “apoio extraordinário”, logo no início da tarde de hoje.
 
“Estamos com uma base parlamentar que é fundamental no Estado Democrático, a interação entre o Executivo e o Legislativo é de uma solidez extraordinária”, disse Temer, contente, tendo único foco de preocupação na possível eleição de Castro, ainda que correligionário do seu partido. 
 
 
Possíveis cenários negativos para Cunha
 
Marcelo Castro vence: Uma vitória de Marcelo Castro traria dúvidas sobre qual seria seu comportamento em relação ao governo interino, uma vez que ele é o candidato oficial e ao mesmo tempo dissidente do PMDB à presidência da Câmara. Pode ser que, a exemplo do que ocorreu com outros deputados do partido que foram contra o impeachment de Dilma Rousseff, Castro valorize seu passe e reconstrua uma ponte direta com o Planalto – que, aliás, não tem nenhum interesse em criar divergência com o próximo presidente da Câmara, muito menos se for um peemedebista. 
 
Para chegar ao segundo turno, Castro precisará do apoio não só dos partidos de esquerda, mas também contar com rachas nas bases de Maia e Rosso. Certo é que, caso vença a eleição com o apoio de PT e aliados da atual oposição, Castro será cobrado publicamente a encaminhar a cassação de Cunha. A vitória, casada com a perda do mandato de Cunha, poderia resultar em sérios problemas para Temer. O interino, que tanto trabalhou para atender ao desejo de Cunha de emplacar um aliado no comando da Câmara, pode ser alvejado a qualquer momento, caso o ex-presidente da Casa se perceba mais fraco e isolado do que nunca.
 
Erundina vence: com a socialista no comando da Câmara, não há dúvidas de que a cassação de Eduardo Cunha (PMBD) seria pautada o quanto antes. A promessa saiu da boca da própria candidata, que se colocou como a única capaz de “moralizar” a Câmara e abrir a Casa novamente para as demandas do povo. Ela ainda citou como prioridades de sua eventual gestão as reformas política e tributária. Erundina afirmou que seria independente do governo interino.
 
No lançamento da candidatura à presidência da Câmara, Erundina foi colocada por colegas do PSOL como a candidata da “esquerda popular”, numa tentativa clara de colocar PT, PDT e PCdoB contra a parede, após notícias de que alas dos dois partidos pretendiam apoiar Maia na disputa contra Rosso. Mas para vencer, Erundina teria de extrapolar os votos da esquerda, num pleito em que o Palácio do Planalto trabalha incansavelmente para garantir que seus desafetos não comandem a Câmara. Ou seja, Erundina, primeira mulher a disputar a presidência da Câmara, não deve chegar ao segundo turno.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Impressionante!

    Os deputados NÃO APROVARAM A URGÊNCIA PARA VOTAÇÃO DA RENEGOCIAÇÃO DAS DÍVIDAS DOS ESTADOS…

    para votar pediram um aumento na verba que seria liberada das emendas parlamentares…

    Conseguiram o aumento na liberação das emendas parlamentares…

    Eles já entenderam o jogo…

    Então não vão eleger o candidato do Temer, vão eleger um que no fim vai fazer tudo que o Temer quiser, só que a um custo BEM MAIOR!

    Para um governo GOLPISTA ser chantageado não custa NADA!

    Vai sair tudo mesmo dos impostos e quem vai pagar o tal PATO sempre será o povo…

    Os empresários vão ter que contentar com menos lucros, por que o povo vai ter que apertar os cintos!

    É de enlouquecer!

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