Bolsonaro usa Abin contra CPI, diz revista

Objetivo é impedir andamento de investigações e diluir impacto político; Randolfe Rodrigues protocola pedido de afastamento de diretor-geral da ABIN

Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem, diretor-geral da Abin. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Jornal GGN – O governo de Jair Bolsonaro está usando a máquina pública para impedir o andamento dos trabalhos da CPI da Covid – a última denúncia envolve o uso da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) para obter informações para abastecer os governistas e tentar mudar a trajetória das investigações para os governadores e prefeitos.

Reportagem publicada pela revista Crusoé revela que, por conta da pressão, o governo de Jair Bolsonaro recorreu à ABIN para obter uma “compilação de dados” sobre “irregularidades relacionadas à pandemia” em “âmbito estadual e municipal”.

A CPI da Covid foi instalada há um mês, e desde então Bolsonaro tem tentado mudar o foco do Palácio do Planalto e diluir o desgaste de imagem – o que não obteve resultado até agora. Pelo contrário: controlada pela oposição, a CPI deu início aos depoimentos ouvindo o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que aumentou a pressão sobre o presidente ao afirmar que o presidente exerceu papel determinante no agravamento da pandemia.

Segundo o texto, a ordem foi enviada via WhatsApp na manhã da última quarta-feira (05/05), no dia seguinte ao depoimento de Mandetta. O texto deixa claro o objetivo: obter dados sobre “desvios de verbas” e “compras irregulares”.

Tal pesquisa deveria ser feita “exclusivamente em fontes abertas das SEs (as superintendências estaduais da agência)” – ou seja, sem abrir bancos de dados sigilosos. Junto com essa mensagem, os agentes deveriam preencher uma planilha de Excel com os nomes dos estados e das cidades identificados na investigação, um título resumindo o problema detectado e a fonte da informação coletada.

De acordo com a reportagem, a ordem para obtenção dos dados sobre as suspeitas de irregularidades partiu do Centro de Inteligência Nacional, o CIN, criado por Bolsonaro via decreto em julho do ano passado e que é diretamente subordinado ao gabinete do diretor-geral da ABIN, Alexandre Ramagem, amigo pessoal da família Bolsonaro.

Segundo o texto, publicado pelos jornalistas Luiz Vassallo e Fabio Leite, a ordem gerou revolta entre os agentes, uma vez que o conteúdo político da demanda foge do escopo de trabalho dos agentes e que tal “compilação de dados” normalmente é feita por funcionários menos graduados, mas foi exigida a oficiais com anos de carreira – o que levantou a suspeita sobre o temor da cúpula quanto ao vazamento do pedido.

E justamente por conta dessa demanda, o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) usou suas redes sociais para repercutir a reportagem da Crusoé e lembrar que, segundo a Constituição Federal, é crime tentar impedir o regular funcionamento das CPIs por meio de violência, ameaças ou assuadas.

“Diante disso estou protocolando requerimento em comum acordo com a direção desta CPI para afastar o Senhor Alexandre Ramagem da direção da ABIN por obstrução a investigação parlamentar”, disse o senador. Veja as postagens de Randolfe abaixo

Redação

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