Contrato bilionário pressionou depoimento da Pfizer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Para a Pfizer, há muito em risco. A tônica de blindar o governo ocorre três dias após a empresa assinar mais um contrato bilionário de vacinas com o governo brasileiro

Jornal GGN – O CEO da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, concordou com a tese de parlamentares governistas de que o atraso no contrato para a aquisição das vacinas foi devido a uma “insegurança jurídica” no país, tirando a responsabilidade direta do governo. A tônica de blindar o governo pela Pfizer ocorre três dias após a empresa assinar mais um contrato bilionário com o governo brasileiro para venda de mais 100 milhões de doses ao país.

Confirmando o que o GGN adiantou (leia aqui), a participação do executivo na sabatina dos senadores ocorre na figura da empresa que recentemente fechou mais um contrato com o Brasil, recheado de protocolos, cuidados de compliace e receios de que a posição da Pfizer pudesse impactar em qualquer negociação em andamento com o Brasil.

Nesse sentido, veio de maneira oportuna a linha defendida pelo senador aliado do governo, Marcos Rogério (DEM-RO), sobre as condições que o Brasil oferecia, à época que foi enviada a primeira proposta de compra de vacinas, em agosto de 2020, e as condições atuais, com a aprovação da Lei 14.124 em março deste ano, que facilita a aquisição de vacinas, e a Medida Provisória 1.026, do mesmo período, que permite a compra do imunizantes antes mesmo do aval da Anvisa.

De forma distinta a como se posicionou até então, Murillo chegou a responder em nome da Pfizer e também incluiu o Ministério da Saúde, ao confirmar que “não havia segurança jurídica” para ambos assinarem o contrato, antes da aprovação dessas legislações, desembocando na pergunta:

“Quem diz que o governo poderia ter assinado antes mente? A Pfizer não podia assinar antes?”, arrebatou o governista. “Nós só pudemos assinar [o contrato] somente quando as condições foram dadas”, respondeu de forma afirmativa o CEO da Pfizer, concordando com a linha traçada por Marcos Rogério.

Isso porque, para a Pfizer, há muito em risco. A resposta ocorre em momento-chave para a empresa, que como Murillo anunciou logo na abertura da sessão no Senado, estava “a portas” de fechar um segundo contrato de R$ 6,6 bilhões com o governo brasileiro para a venda de vacinas.

E a proximidade de datas entre o novo contrato fechado e a CPI não é coincidência. A movimentação partiu de forma calculada pelo Ministério da Saúde, que se apressou para acertar os ajustes finais da nova aquisição junto à Pfizer antes da ida de o próprio ministro Marcelo Queiroga ser sabatinado pelos senadores.

A informação foi divulgada por reportagem de O Globo, que ouviu relatos de interlocutores que as novas 100 milhões de doses fazia parte da estratégia de ameninzar as pressões dos senadores, o que seria apresentado por Queiroga como um “triunfo” do novo ministro da Saúde.

Sem conseguir fechar os detalhes antes do ministro da Saúde ir à CPI, o esforço valeu, contudo, para o depoimento da farmacêutica norte-americana, gerando inevitavelmente uma pressão para as falas do executivo às vésperas de um acordo bilionário que, como o próprio CEO afirmou no início da sessão, representa um importante mercado para as vendas da empresa de medicamentos.

“O Brasil é, sem dúvida, o mercado mais importante dentro da América Latina”, destacava Murillo aos senadores, ainda nas primeiras horas.


Acompanhe o depoimento do CEO da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo:

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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