Brasil: um país que foi programaticamente destruído pela imprensa

Há alguns dias recorri à literatura para compreender a fantástica realidade brasileira. Hoje usarei a ciência para fazer o mesmo.

“O mundo é de tal forma complexo e as interconexões entre os fatos são tão numerosas que, para agir corretamente, é preciso estar informado de uma multidão de fatos, na sua realidade dinâmica; isto originou uma nova ciência: a ciência da documentação, da qual se pode dizer que a maior parte dos rudimentos são desconhecidos em França, salvo de alguns especialistas; que todavia ela deve tornar-se a base de nosso ensino e especialmente de nosso ensino profissional; saber informar-se, saber estar ao corrente dos fatos que condicionam a ação, eis uma das tarefas mais difíceis e mais essenciais do homem moderno.” (A grande esperança do século XX, Jean Fourastié, editora Perspectiva, São Paulo, 1971, p. 239)

Informação é tudo aquilo que reduz a ignorância e a incerteza de alguém. Mas é preciso tomar cuidado: nem toda informação é util. O erro, a distorção e a falsificação podem ser consideradas “informações”, mas elas não são capazes de permitir a ninguém agir corretamente. Muito pelo contrário, o correto diante de informações que acarretam decisões equivocadas seria apenas e tão somente ignorá-las.

O problema surge quando o erro, a distorção e a falsificação passam a ser, por razões políticas, deliberadamente divulgados pela imprensa. Um exemplo prático: a imprensa brasileira dizia que era só tirar Dilma Rousseff da presidência que a economia começaria a crescer. Os fatos comprovam que a economia piorou em razão da crise política criada pela imprensa para levar Michel Temer ao poder. As iniciativas neoliberais do usurpador aprofundaram a depressão econômica produzindo mais desemprego, menos investimentos e uma catastrófica redução da arrecadação tributária que obriga a elevar os juros obrigando o Estado a privatizar as riquezas do país comprometendo seu futuro.

Não há futuro sem planejamento. Esta é uma lição que nos foi dada pela Ditadura militar:

“Ao longo do período 1947-62, o fator dinâmico do desenvolvimento do país foi o processo de substituição de importações, que permitiu a consolidação do setor industrial a um grau razoável de complexidade. A substituição de importações foi o único fator dinâmico de crescimento e, dentro da fase histórica em que ocorreu, cumpriu seu papel. Hoje, o Programa reconhece a necessidade de diversificação dos fatores dinâmicos de crescimento como único caminho que poderia levar o país ao desenvolvimento auto-sustentado a longo prazo. A concentração em apenas um fator dinâmico, como, por exemplo, o investimento público autônomo, ou mesmo o investimento privado, encontram barreiras no imperfeito ou incompleto desenvolvimento de outros setores da economia, particularmente dos setores infra-estruturais, sendo, portanto, de vida curta.

Por estas razões, a política de investimentos em  ‘áreas estratégicas’ definida no PED pretende, através do investimento em áreas bastante diversificadas, substituir os fatores dinâmicos que vinham promovendo o desenvolvimento industrial até 1961. Ou seja, dado o esgotamento do processo de substituição de importações, o plano optou por uma ‘diversificação das fontes de dinamismo’ que consistirá basicamente num bloco de investimentos concentrado principalmente em infra-estrutura (80%). De certa forma, portanto, o PED adotou a teoria do desenvolvimento equilibrado, onde os incentivos dos investimentos em massa promoveriam a necessária ampliação de mercado que os tornaria rentáveis.”  (Planejamento no Brasil, Betty Mindlin Lafer, editora Perspectiva, São Paulo, 1975, p. 103/104)

Planejar o futuro é importante. Mas saber que os planos são relações de coisas que nem sempre acontecem e que estão sujeitos a fatores externos incontroláveis também é essencial. Os choques do petróleo arrebentaram o planejamento econômico brasileiro e a década de 1980 foi totalmente perdida. Os últimos governos militares e os primeiros governos civis administraram os prejuízos. A capacidade de planejar o Brasil somente foi recuperada durante o governo FHC em razão do Plano Real concebido pelo governo Itamar Franco. Todavia, inspirados pelo Consenso de Washington os tucanos se dedicaram mais a planejar a continuidade no poder. O planejamento do país foi por eles abandonado e o resultado foi a fome generalizada que levou Lula ao poder.

Lula soube se cercar de homens capazes de planejar o futuro do país. Em razão de sua origem e carisma, a presença dele no centro do poder abrandou as disputas sindicais e o país voltou a crescer pautado na inclusão econômica e na diversificação dos parceiros internacionais. Mais consumidores, mais mercados, mais atividade econômica, mais empregos, mais arrecadação tributária, mais universidades e cursos técnicos, mais mão de obra qualificada, mais eficiência econômica. O sucesso de Lula despertou o ódio da imprensa monopolista/conservadora e os jornalistas e comentaristas passaram a atacar ferozmente os acertos econômicos do governo petista como se eles fossem erros.

A eleição de Dilma Rousseff aprofundou o ódio da imprensa, pois o candidato escolhido pelos jornais e telejornais foi derrotado. Dilma Rousseff deu seguimento a bem sucedida política econômica de Lula acrescentando a ela um ambicioso programa de obras públicas que preparariam o país para crescer mais e melhor. A imprensa continuou atacando o governo, desdenhando o planejamento estatal e exigindo uma virada neoliberal. Mas o candidato neoliberal foi novamente derrotado e o golpe começou a ser urdido logo depois do TSE anunciar que Dilma Rousseff havia sido reeleita.

O resto é história. A crise política virou crise econômica e esta se aprofundou possibilitando o golpe de estado disfarçado de Impedimento por causa de pedaladas fiscais. Empossado, Michel Temer passou a dar pedaladas fiscais diariamente, mas isto se tornou irrelevante porque ele esta fazendo o que a imprensa queria que fosse feito. O planejamento governamental foi abandonado e uma estúpida agenda neoliberal apoiada pela imprensa foi imposta de maneira ilegítima ao país.

A exclusão social, que acarretou o rápido empobrecimento de dezenas de milhões de brasileiros e afetou negativamente o comércio e a indústria (comprometendo, por via de consequencia, a arrecadação tributária), foi planejada. Mas ela não é o resultado de um planejamento estratégico que tem como meta o crescimento futuro do país. De fato a única coisa que a quadrilha de Michel Temer planejou foi chegar ao poder para ficar impune. A adesão do PMDB ao neoliberalismo se deu não por razões programáticas, mas para agradar a imprensa que queria qualquer coisa menos ver o Brasil crescendo de maneira sustentável sob o comando de governantes petistas.

Michel Temer se mostrou incapaz de governar um país que foi destruído com ajuda dos erros, distorções e falsificações intencionalmente difundidos pela imprensa anti-petista, para que algumas dezenas de marginais fiquem em liberdade. De fato ele nem mesmo é reconhecido como governante do Brasil pela imprensa internacional.

Os novos investimentos, prometidos pela imprensa e pelos golpistas, não ocorreram. E o patrimônio público vai sendo rapidamente dilapidado para pagar as despesas correntes de um presidente que se esmera em gastar mais e mais em banquetes e em subornos parlamentares para não sair do Jaburu para a Papuda.

Em alguns anos os empresários que apoiaram o golpe de 2016 irão colher o que plantaram. A falta de planejamento estatal tornará a energia, o combustível e a água (bens que serão privatizados) muito mais caros. O lucro que os comerciantes e industriais esperavam acumular com a redução dos direitos trabalhistas serão transferidos para os bancos e para os super-ricos (brasileiros e estrangeiros) que comprarão tudo: dos poços de petróleo à infra-estrutura  que possibilita o bombeamento de gás da Bolívia para o Brasil, dos rios e aqüíferos às usinas hidroelétricas e nucleares, etc…  

Não é possível planejar qualquer coisa quando precisamos vender a comida do jantar para poder encher a barriga no almoço. O golpe de 2016 conseguirá algo inédito: ele deixará tanto os pobres quanto os comerciantes e industriais com fome. Apenas os super-ricos irão lucrar, mas eles provavelmente investirão seus excedentes no exterior. Bem feito. Foram eles que acreditarem nos erros, distorções e falsificações que foram proposital e intensamente difundidos pela imprensa contra os governos petistas. Se quiserem minimizar os prejuízos que amargaram, amargam e amargarão, os comerciantes e industriais só tem uma saída: entrar com ações de indenizações contra as empresas de comunicação. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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