Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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Clima de perseguição, por Gilberto Maringoni

Jornal GGN – Os professores da UFABC Gilberto Maringoni, Giorgio Romano e Valter Pomar, se depararam com a Comissão de Sindicância Investigativa. O motivo? O lançamento do livro “A Verdade Vencerá”, realizado dentro da Universidade e tendo Maringoni como um dos autores. O livro da Boitempo traz uma extensa entrevista com o ex-presidente Lula e vários artigos sobre o petista e sua atuação na política.

Das vítimas deste arbítrio, Valter Pomar não tinha nenhuma ligação com o evento, mas entrou na “lista dos culpados de sempre”, tão comum nos tempos de arbítrio.

Gilberto Maringoni, um dos autores do livro, em postagem no Facebook, se manifestou sobre a situação na UFABC e esses novos velhos tempos que nos cercam, em que delação anônima coloca em risco todo um processo democrático e de educação. Leia o comentário a seguir.

Clima de perseguição

por Gilberto Maringoni

Há um padrão perigoso sendo desenhado em processos administrativos no setor público. O acusado recebe uma intimação para responder determinadas questões em prazo exíguo, sem saber do que está sendo acusado ou no que consiste a investigação em curso. É algo antidemocrático. Só posso me defender corretamente se souber que falta me imputam e qual o teor da denuncia.

A isso se soma o fato de a delação poder ser realizada de forma anônima. Denuncias anônimas se justificam quando o acusador está sujeito a riscos – inclusive de vida – por sua ação. A banalização do anonimato em um ambiente persecutório e de ativismo judicial é capaz de dar margem a barbaridades típicas de regimes ditatoriais. Qualquer um, a partir de fatos corriqueiros, tem a prerrogativa de constranger a outro de forma irresponsável.

No caso das universidades, ações desse tipo envenenam o ambiente acadêmico, a convivência profissional e dão força ao oportunismo. Tempo, trabalho e recursos públicos são gastos inutilmente em iniciativas que em nada contribuem para a justificada transparência e impessoalidade que deve nortear o serviço público.

Mais importante do que as acusações feitas a nós professores da UFABC é evidenciar essa lógica de constrangimento que não pode se espalhar pelo setor público.

SOBRE A UFABC, UMA NOTA

Vale a pena enfatizar que Giorgio Romano, Valter Pomar e eu não estamos sendo alvo de uma investigação por parte da reitoria ou de algum órgão da UFABC. Aliás, a direção da Universidade vem tendo uma conduta solidária e democrática nesse episódio que tem como mote o lançamento do livro “A verdade vencerá”, do ex-presidente Lula.

Não nos esqueçamos que entre a eleição do novo reitor – novembro de 2017 – e sua posse – junho de 2018 – passaram-se quase sete meses.

O processo e o questionário que nos enviaram foram instaurados pela CGU – Controladoria Geral da União – e enviados à Universidade. É uma dinâmica de fora para dentro.

 

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

2 Comentários

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  1. Interessante.
    Maringoni

    Interessante.

    Maringoni quando questionado sobre as delações na lava jato (em 2015) disse apenas que elas estavam regulamentadas em lei e eram internacionalmente utilizadas no combate ao crime organizado. E que toda investigação é enviesada mesmo, que não existe ação desse tipo isenta, mas isso não era razão para desativar a operação. Disse ainda: “Atacar a Lava Jato agora equivale a defender a impunidade nos crimes cometidos na Petrobras e em outras esferas do poder público.”

    (somente recentemente ele tem se posicionado de forma mais critica ao golpe e a operação)

    As pessoas tem que entender que legitimar o arbitrio dá nisso. Ontem foi o PT, o Lula…. Hoje qualquer um  pode ser vitima do abuso. Maringone, inteligente, deveria saber disso, que o problema é o guarda da esquina….

  2. Clima de perseguição no serviço público

    Lamentavelmente a prática de perseguição já vem ocorrendo no serviço público. Desconheço a realidade em outros Estados, mas no Paraná o governo persegue servidores com leis da ditadura.

    Segue abaixo trechos de um artigo publicado no Jornal Resistir, de Curitiba:

    “O governo do Paraná, conduzido até recentemente por Beto Richa (PSDB) e hoje por sua vice-governadora, Cida Borghetti (PP), tem sido bastante produtivo na perseguição a ativistas sindicais nos serviços públicos, fundamentalmente educadores. Na abrangência sindical da APP-Sindicato são 12 mil denúncias, em sua maioria supostamente anônimas, e mais de 3 mil sindicâncias abertas com a possibilidade de se tornarem processos administrativos que podem levar ao risco de severas punições, aí incluídas demissões.

    Trata-se de uma verdadeira epidemia autoritária contra o direito de livre organização, o direito de greve e, em muitos casos, até mesmo de opinião. E o respaldo para isso tem sido leis da ditadura militar. Ou seja, se os militares não voltaram ao mando do governo do país, no Paraná suas leis autoritárias estão sendo ressuscitadas para perseguir o ativismo sindical nos serviços públicos.”

    ….

    “É fato público e notório que centenas de outros procedimentos administrativos contra professores da rede estadual de ensino foram instaurados com base em denúncias anônimas que intentam criminalizar a discussão política em sala de aula ou nas áreas comuns durante os intervalos.

    É ainda sabido que tais ‘denúncias’ foram endossadas até por direções de escola, subservientes ao governo do Estado….”

     

     

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