Crise: O Maquiamento das Estatísticas Oficias

Recessão Industrial
A ponta do iceberg da crise capitalista
O que está por trás da “instabilidade” do crescimento da indústria brasileira?

Até o presente momento, neste ano,  a indústria brasileira tem crescido 2% de acordo com as estatísticas oficiais. O que esses números, já maquiados, não mostram é que a indústria só apresenta um muito relativo crescimento devido aos gigantescos repasses de recursos públicos.

A burguesia comemorou a suposta alta do PIB de 1,5% no segundo trimestre, apesar de, no primeiro trimestre, ter ficado estancado, da mesma maneira que deverá acontecer no segundo semestre. Mas esse número também não passa de um artifício estatístico. Na realidade, não há qualquer crescimento real, mas trata-se dos lucros das grandes empresas capitalistas garantidos com a disparada do parasitismo estatal que tem provocado o aumento generalizado do endividamento, em primeiríssimo lugar da ultra-parasitária dívida pública federal. No sistema capitalista, crescimento da economia é entendido como os capitalistas obtendo lucros, independentemente da esmagadora maioria da população encontrar-se na miséria.

As crescentes dificuldades para manter o “crescimento” com o objetivo de sustentar os lucros dos parasitas capitalistas têm ficado cada vez mais evidentes. Em julho, a produção industrial, apesar das isenções fiscais, e as demais operações parasitárias, caíram 2% em relação a junho. Nos últimos 12 meses, a produção industrial acumula “alta” de 0,6%. Os bens de capital, ou seja, máquinas e equipamentos, que representariam investimento, produtivo, supostamente tiveram crescimento de 15,2% em julho em relação ao mesmo mês de 2012. Na realidade, mais uma maquiagem descarada dos resultados.

 

A produção industrial em queda livre

 

Os dados do próprio IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) apontam que o carro chefe da produção industrial, os veículos automotores, registraram queda de -5,4% e que, dos 27 ramos pesquisados, 15 registraram queda.

A imprensa burguesa e o governo têm apresentado como um grande resultado o dado oficial da balança comercial ter registrado o primeiro superávit do ano, de US$ 1,2 bilhões em agosto. Mas, mesmo assim, no acumulado do ano, a balança comercial está negativa em US$ 3,8 bilhões.

Nos últimos 31 meses, desde janeiro de 2011, apesar do absurdo parasitismo em cima dos recursos públicos e a descarada maquiagem das estatísticas, a produção industrial registrou 15 quedas.

De fato, todos esse números são muito piores. Não há qualquer crescimento industrial real. As importações de produtos e insumos têm aumentado, o que tem provocado a piora da recessão industrial. Trata-se do resultado óbvio do chamado “modelo de crescimento Lula”, por meio da imposição que o imperialismo tentou conter o aprofundamento da crise capitalista, aumentando o papel exportador de matérias primas da maioria dos países atrasados para o mercado manufatureiro asiático, a começar pela China. Os efeitos iniciais até foram relativamente positivos sob a lógica dos especuladores financeiros, pois conseguiram manter altos lucros, após terem migrado enormes volumes de capitais da especulação imobiliária para a especulação nos mercados futuros de commodities(matérias primas), em cima dos quais os nefastos derivativos financeiros ganharam novo fôlego durante aproximadamente três anos. Como segundo pilar do “crescimento”, o mercado foi inundado com crédito podre (turbinado por meio de recursos públicos) para fomentar o consumo. Esses mecanismos artificiais se esgotaram no ano passado e, agora, o Brasil, assim como acontece com a economia capitalista mundial, se encaminha para a pior crise da história, inclusive devido à completa impossibilidade de elaborar uma política alternativa ao chamado neoliberalismo, tal o grau extremo de parasitismo.

 

O petróleo: ponta de lança do colapso do “modelo de crescimento Lula”

O governo brasileiro precisou acionar as termoelétricas no Nordeste devido aos reservatórios de água terem ficado baixos durante todo o ano. Nas regiões Sudeste e Centro Oeste, a situação tornou-se preocupante, pois representam 70% de toda a geração do Brasil e, em agosto deste ano, os níveis já estavam em 55%, o pior dos últimos dez anos. O custo das termelétricas, neste ano, pode chegar a R$ 9 bilhões.

Em 2006, o presidente Lula tinha lançado uma enorme campanha propagandística tentando mostrar que o Brasil teria alcançado a “autossuficiência” em relação à produção e consumo de petróleo. Tratava-se de uma autossuficiência fajuta porque, a pesar do número de barris exportados e importados coincidirem, as importações eram de produtos manufaturados e óleo leve (o chamado tipo Texas) enquanto as exportações era óleo cru e pesado (o chamado tipo Brent), 20% mais barato que o leve.

O aumento das importações dos derivados de petróleo e do complexo de combustíveis, no ano passado, foi responsável por um déficit do setor de US$ 11 bilhões, devido à falta de investimentos adequados no setor de refino de petróleo e ao gigantesco parasitismo no setor sucro-alcooleiro, sob crescente controle direito dos monopólios. Neste ano, o rombo já supera os US$ 16 bilhões.

 

Os monopólios imperialistas aumentam os repasses para as matrizes

 

Em agosto, saíram do País US$ 5,8 bilhões, o que representa a maior saída de dólares para o mês desde 1998. Nada menos que US$ 4 bilhões saíram pela via financeira, o que revela a nefasta dependência dos capitais especulativos para fechar as contas públicas. Os restantes quase US$ 2 bilhões foram destinados a cobrir o déficit comercial da balança comercial aprisionada pela queda das exportações da meia dúzia de matérias primas que respondem por 60% do total.

Em 2011, as contas correntes (a diferença entre as entradas e saídas de capitais do Brasil) sofreram um déficit de US$ 52 bilhões. No ano passado, o déficit foi de US$ 54 bilhões. A expectativa para este ano é que o déficit fique em torno aos US$ 75 bilhões.

Um dos impactos do aumento do saque tem sido o aumento do endividamento das empresas que têm contraído crescentes empréstimos em dólares, todos eles garantidos pelo estado. Em 2009, a Aracruz e a Sadia foram resgatadas com bilhões de dólares dos cofres públicos para evitar que quebrassem. No próximo período, o estado brasileiro, que está com as contas sufocadas, deverá destinar recursos muito maiores para os resgates. Isso acontece nas condições em que hoje mais de 47% do orçamento público federal está destinado ao pagamento dos serviços da ultra-parasitária dívida pública.

O grosso do crescimento da economia nos meses de novembro e outubro não se relaciona com o crescimento das atividades produtivas, com a economia real, mas com o aumento artificial do consumo, sustentado mediante a liberação de recursos por meio do sistema bancário, e o aumento das facilidades para a entrada de capitais especulativos no País, devido à aversão ao risco nos países centrais, à captação de recursos no exterior pelo governo brasileiro e pelas principais empresas e à desvalorização do real.

A realidade é que a economia brasileira foi atingida em cheio pela crise capitalista mundial e já está em recessão. Se descontarmos somente as manipulações estatísticas e a disparada do endividamento público, devido aos repasses de recursos públicos para os capitalistas, a economia brasileira, longe de ter crescido míseros 1% em 2012, decresceu vários pontos percentuais.

Os resultados estatísticos são obtidos em cima de grotescas manipulações e mecanismos artificiais, baseados principalmente em cima de fartos repasses de recursos públicos com o objetivo de manter um mínimo de crescimento para viabilizar a especulação financeira e as taxas de lucro. O efeito colateral é o incontível endividamento público que, apesar de todas as maquiagens, atinge níveis cada vez mais incontroláveis.

Em resumo, com o objetivo de apresentar a economia sob um certo controle, o governo e os capitalistas estão armando gigantescas bombas relógio que deverão explodir no próximo período.

 

A disparada das pressões inflacionárias

 

De acordo com as estatísticas ultra-manipuladas do IBGE, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) subiu de 0,03% em julho para 0,24% em agosto, acumulando 6,09% em 12 meses. Esse índice já seria muito alto para uma economia que, na realidade, sofre recessão. Mas é ainda pior quando consideramos que a inflação sobre os trabalhadores que ganham até salários mínimos. Segundo o próprio IBGE supera os 7% e segundo o Dieese (departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos) supera os 11%. Na realidade, supera os 15% quando é considerado o impacto do peso dos alimentos, energia e moradia sobre o orçamento dos trabalhadores pobres.

A alta do dólar tem impactado em cheio a inflação devido à crescente dependência das importações. A farinha de trigo, por esse motivo, ficou 2,68% mais cara.

Os altos índices inflacionários representam um fenômeno típico da época imperialista. Não é possível contê-los com medidas monetaristas. Com a disparada da especulação financeira na última década, crescentes recursos têm sido absorvidos convertendo o mundo numa espécie de casino financeiro especulativo devido às crescentes dificuldades de extrair lucros da produção.

A alta de juros de 8,5% para 9%, segue a política de tentar manter os lucros dos capitalistas a qualquer custo. Trata-se da principal, e quase única política do governo, para tentar conter o aumento das pressões inflacionárias.

O governo brasileiro e a própria burguesia se encontram em estado de completa perplexidade perante o avançado contágio da crise capitalista no Brasil. A demagogia sobre a suposta blindagem, baseada nas reservas soberanas e o fundo bancário (depósito compulsório dos bancos), caiu por terra a partir do segundo semestre do ano passado, e, com particular intensidade, a partir do segundo trimestre de 2012. Todos os planos implementados pelo governo, a começar pelas isenções de IPI para a linha branca, de novembro de 2011, não conseguiram mas que arrancar alguns suspiros a mais do falido capitalismo tupiniquim, garantindo as taxas de lucro dos capitalistas, disparando o endividamento público e repassando o peso da crise para os trabalhadores por meio da erosão inflacionária e o arrocho salarial. As medidas têm sido baseadas na implementação ainda mais profunda das políticas neoliberais – uma adoção em larga escala do programa da direita. O motivo? A completa falta de alternativas, de base material para implementar uma política que as substituam.

 

O crescente endividamento dos trabalhadores

 

O consumo, neste ano, ficará com o freio de mão puxado devido às pressões inflacionárias corroerem o poder de compra e à disparada do endividamento. Os trabalhadores contraíram dívidas, algumas de longo prazo, para comprar carros e casas, em cima de recursos públicos. Hoje, em torno de 21% do orçamento das famílias está comprometido com o pagamento de juros e o principal da dívida. O aumento da taxa de juro básico, a Selic, deverá provocar o aumento de todas as outras taxas. Como inflação e dívidas estão comprometendo uma parte da renda, o consumo inevitavelmente irá sofrer ainda maior contração. 

O impacto inevitável para o próximo período, conforme a crise capitalista se aprofundar, será o aumento da inadimplência, o que, por sua vez impactará o lucro dos bancos e reduzirá o consumo e a produção industrial. Somente no ano passado, o Banco Itaú destinou R$ 17 bilhões para o provisionamento de títulos inadimplentes.

O aprofundamento da crise capitalista no mundo e no Brasil, assim como a falta de políticas alternativas, tem colocado à ordem do dia a necessidade imperiosa para os capitalistas de aumentar o repasse da crise capitalista sobre as massas trabalhadoras. Isso somente é possível por meio de um ataque em larga escala sobre a qualidade de vida da esmagadora maioria da população. Por esse motivo, têm aumentado as mobilizações golpistas no sentido de atacar as liberdades democráticas. Conforme tem ficado muito claro no golpe militar no Egito, o golpe de estado a la Pinochet  está muito longe de ser um filme de ciência ficção. Quando a burguesia perde lucros e enfrenta a ameaça do ascenso das massas, ela é capaz de botar fogo no planeta para manter os privilégios.

 

http://www.pco.org.br/economia/a-ponta-do-iceberg-da-crise-capitalista/aiyi,o.html

Redação

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