“Dilma escolheu uma pauta que vai contra a gente”, diz Lindbergh

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – “A pauta que a Dilma está escolhendo vai contra a gente. É um movimento consciente por parte da presidente de se afastar das nossas políticas, dos nossos programas”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), em entrevista ao Estadão, manifestando a insatisfação de ala do partido com o governo, intensificada com as propostas de ajuste fiscal, a reforma da Previdência e o projeto que entrega o pré-sal às multinacionais.
 
“A reforma da presidente colide diretamente com o movimento sindical, com as nossas bases. Estamos no meio de uma guerra, a guerra do impeachment. E tem uma luta nas ruas inclusive. A presidente escolheu uma pauta que vai contra os nossos”, lamentou Lindbergh.
 
Para o senador, a reforma fiscal “vai no sentido oposto” do que o partido defende para a economia. Nesse momento de crise, aponta, “o Estado tem que ampliar os investimentos e os seus gastos sociais”, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez em 2008 e 2009.
 
Ao ser questionado do por quê a presidente insiste nas propostas que o partido discorda, o petista foi direto: “o afastamento é muito mais dela do que nosso”, criticando a agenda construída com a oposição, inclusive na votação do pré-sal. “[Dilma] quer passar a ideia de que é a presidente de todo País”, reagiu. “Ela tem a ilusão de que pode diminuir essa raiva contra ela, a favor do impeachment, apresentando uma agenda desse tipo, se rendendo a um outro projeto”, disse.
 
Para o senador, o efeito das políticas apresentadas será o inverso: “nem vai conseguir acalmar os que estão contra ela no andar de cima e pode acabar perdendo a base dela”, concluiu. Ainda assim, o parlamentar acredita que ainda há chances de restaurar o apoio: “o que a gente quer é que ela aceite um pouco nossas opiniões, revise o planejamento para este ano”, defendeu.
 
Leia a entrevista completa publicada neste domingo (28), no Estado de S. Paulo:
 
Como se chegou a este ponto de tensão entre o PT e a presidente?
 
Minha tese é que a pauta que a Dilma está escolhendo vai contra a gente. É um movimento, na minha avaliação, consciente por parte da presidente de se afastar das nossas políticas, dos nossos programas. A reforma da presidente colide diretamente com o movimento sindical, com as nossas bases. Estamos no meio de uma guerra, a guerra do impeachment. E tem uma luta nas ruas inclusive. A presidente escolheu uma pauta que vai contra os nossos.
 
A reforma da Previdência é o ponto central da discordância?
 
E a reforma fiscal que foi apresentada pelo ministro Nelson Barbosa (Fazenda) que congela até a política de valorização do salário mínimo, que fala em redução do salário do funcionalismo. Essa política de reforma fiscal vai no sentido oposto do que a gente acha para a economia. A gente utiliza a experiência (da crise) de 2008 e 2009. O que o Lula fez? A gente aproveita esse momento em que as famílias estão economizando, as empresas também. O Estado tem que ampliar os investimentos e os seus gastos sociais. Em 2008 e 2009, o governo gastou mais.
 
Mas como gastar mais se o governo enfrenta uma grave crise? De onde vai tirar recursos?
 
Em 2014, nós pagamos R$ 300 bilhões de juros. Em 2015, foram R$ 500 bilhões. O espaço para gastar mais é o espaço de baixar a taxa de juros. Achamos que há caminho. Lula aumentou gastos porque baixou juros. Quando você baixa, sobra dinheiro, porque o impacto fiscal é muito grande para incentivar a economia. O maior problema para a gente não é fiscal. É o desemprego, a recessão. Se Dilma for nesse caminho, podemos em dois anos perder as conquistas de 12 anos.
 
Por que a presidente insiste nas propostas das quais o PT discorda?
 
O afastamento é muito mais dela do que nosso. Fico pensando até se não é algo consciente, se afastar do PT, tentar construir uma agenda com parte da oposição, o que a gente viu na votação do pré-sal foi isso. Quer passar a ideia de que é a presidente de todo País. Ela tem a ilusão de que pode diminuir essa raiva contra ela, a favor do impeachment, apresentando uma agenda desse tipo, se rendendo a um outro projeto. Ela acha que vai acalmar e pacificar o País com isso. Ela nem vai conseguir acalmar os que estão contra ela no andar de cima e pode acabar perdendo a base dela. Vai ter um ato no dia 31 de março, contra o golpe, contra o impeachment, mas vai ser diferente, vai ter como centro pautas contra a reforma da Previdência, contra o ajuste fiscal, em defesa da Petrobrás. Vai ser um ato com tom muito mais crítico a ela, dos movimentos sociais. Ela está conseguindo algo impensável, se afastar de sua base. Ela não vai amenizar o andar de cima. Esse pessoal quer tirá-la do governo. Ela está se oferecendo para esse pessoal e esquecendo sus base. Você sabe que no Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, o personagem Riobaldo tenta oferecer a alma ao diabo, mas o diabo ignora.
 
O que aconteceu na votação do projeto do pré-sal?
 
Achava que o rubicão dessa relação difícil com a Dilma ia ser em abril, quando ela apresentasse a reforma da Previdência e a reforma fiscal, porque nosso pessoal não vai aceitar. Essa pauta de retirada de direito dos trabalhadores é desnecessária. Mas foi antecipado para a votação do pré-sal, houve uma grande decepção com o que aconteceu. Não era um projeto qualquer. Eu estive de manhã no Palácio, com Berzoini (Ricardo Berzoini, ministro da Secretaria-Geral da Presidência), a orientação era contra o projeto, íamos ganhar. De uma hora para outra chegou Romero Jucá (PMDB-RR, relator do projeto) e anuncia apoio do governo. A gente se sentiu abandonado no meio de uma guerra. O governo mudou de lado, nós perdemos porque o governo mudou de lado.
 
Qual o futuro do PT, diante dessa tensão com o governo?
 
A gente só tem um nome, que nos unifica, do presidente Lula, que está sendo violentamente atacado por causa das eleições de 2018. Como acreditamos que ele vai sair ileso disso tudo, ele tem que ter uma narrativa para 2018. Qual é a narrativa? O seu governo.
 
Acredita que a presidente possa deixar o PT?
 
Espero que não, o que a gente quer é que ela aceite um pouco nossas opiniões, revise o planejamento para este ano. Esperamos que ela discuta a reforma da Previdência com os trabalhadores, os sindicatos. Que não mande a reforma, como disse o ministro Nelson Barbosa, independente de acordo com sindicatos. Se fizer isso, será um passo quase de rompimento com setores de sua base social.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Se ela desse uma voltinha de

      Se ela desse uma voltinha de 10 minutos no facebook enxergaria a realidade. Mas a Dilma tem o problema que alguns políticos e administradores que viveram no RS tem… Uma capacidade incrível de ser teimoso, de não enxergar a realidade que está ali na sua frente, de demorar fazer as mudanças que já deveriam ter sido feitas.

  1. Lindbergh mostra como

    É assim que se tenta salvar o governo, não se fazendo de cego, surdo e mudo, como alguns comentaristas aqui gostam de fazer. Se o governo continuar na (falta de) direção que Dilma está impondo, a destruição do projeto de inclusão social será inevitável, com consequências catastróficas para o País.

    1. Sinto-lhe dizer, mas já está

      Sinto-lhe dizer, mas já está destruído. Não tem mais salvação pro projeto social do país. A Dilma realmente conseguiu fazer a cagada mor… E não tem como ela se esquivar disso.

  2. “Senador” Lindbergh, antes de

    “Senador” Lindbergh, antes de petista, o senhor é Senador da República e representa os interesses da sua unidade da Federação. Seu Estado está falido, entre outras coisas, por conta de obras absolutamente desnecessárias incentivadas pelo senhor e seu partido tais como Olimpíadas e Copa do Mundo, mas principalmente por conta da Previdência dos servidores estaduais que nunca foi reformada, exatamente como o senhor prefere. O RJ não tem dinheiro para colocar papel higiênico em hospitais e postos de saúde. O governo federal, que é ocupado pelo mesmo partido do senhor, tampouco tem capacidade para fazer os investimentos mínimos necessários para o aproveitamento do pré-sal. O acordo que foi feito entre Dilma e Congresso pode ter lhe desagradado pessoalmente, mas vai assegurar a viabilidade dos próximos leilões de campos do pré-sal, proporcionando uma receita adicional de alguns bilhões de reais ao governo federal e um fluxo igualmente importante de royalties ao governo estadual para as próximas décadas.

    Se o senhor é contrário ao projeto, mas se importa com a situação do povo do seu Estado e com a solvência da máquina pública local, então deveria propor outra solução que permita arranjar de um dia pro outro bilhões de reais para equacionar as demandas emergenciais dos governos estadual e federal sem mexer no regime do pré-sal. Mas se o senhor, que é muito bem pago para se informar e defender os interesses do Estado, não propõe nada e só reclama, então confirma que está satisfeito com a situação de penúria do RJ, quiçá porque pretende dela se beneficiar para se lançar candidato ao governo local em 2018. Nada mais vergonhoso, mas pensando bem, nada menos espantoso também vindo do senhor.

    PS – Da próxima vez que quiser saber o que o governo pensa antes de uma votação, não perca seu tempo falando com um aspone como Berzoini, cuja única função no governo é cumprir a cota de alto escalão do PT-SP. Liga pro gabinete do Presidente da Casa onde o senhor atua, Renan Calheiros, e se informa direto com ele.

    1. Ela não vai conseguir é nada

      Ela não vai conseguir é nada com isso. O governo tem sim capacidade de fazer os investimentos do pré-sal. E mesmo que não tivesse era melhor deixar aquilo parado, esperar o caixa melhorar e fazer os investimentos, por que os royalties quando recebidos de uma empresa privada vem numa % menor do que quando são pagos pela petrobrás. Resumindo, perdemos o controle das reservas e também perdemos dinheiro pra saúde e educação. Outro motivo é que o valor do petróleo está baixo e qualquer zé mané no mercado sabe que aquilo vai subir. Então não é momento de discutir isso agora. Outro problema é que a petrobrás tem uma dívida grande aí como ela vai pagar isso se o petróleo que poderia extrair pode não ser extraído por ela?

    2. A insusopeita Exame

      A  “insuspeita” Exame de Abril, há alguns anos atras fez uma reportagem como os prefeitos do litoral norte estavam gastando os royaties do petroleo. Mal e porcamente e provavelmente com  desvios. Acredito que o estado do RJ  agia tambem desse modo visto as figurinhas que lá passaram.

      Uma farra com dinheiro dos impostos!

       

      Eles achavam que era a arabia… ou o texas.

       

      O RJ  está desse jeito porque o carioca teima em votar em demagogo e incompetente para os governos.

      Vide garotinho, cabral, e outros tantos.

  3.  Presidente de todo o país?
    É

     Presidente de todo o país?

    É claro, foi eleita. Foi eleita com base em um programa de governo, apresentado e discutido na campanha. Programa com o qual ela tem um compromisso político e moral. E eleita por um partido e aliados. Esse partido, presumivelmente, também tem compromissos com suas bases e com a população que nele votou. Se isso não for verdade, a democracia vira uma farsa. Ela não foi eleita rainha absolutista do Brasil por alguns anos. Governar não significa estar acima das clivagens sociais inerentes à sociedade capitalista em nome de um suposto “bem geral”. Significa atuar em meio a esses conflitos, e fazer as opções que a política e a democracia permitem e o programa e a campanha impõem.

  4. Eu acho que o lindinho está

    Eu acho que o lindinho está sendo  oportunista senão mau carater. No meio dessa guerra toda dar entrevista detonando o governo para o Estadão?

    A batalha do pre-sal ainda não está perdida, ainda vai para a câmara. O Cunha deve ser processado pelo STF em breve e a correlaçâo de forças deve mudar.. Acho que o governo sentiu que podia perder e conseguiu aprovar um substitutivo menos pior acreditando que pode mudar mais a frente. Isso o que compreendi do que li sobre o assunto.

    O Lula para conseguir aprovar o regime de partilha teve que entregar ministérios de porteira fechada. O jogo ali é pesado. É hora de unir forças e usar o cargo e o poder que tem um senador para ajudar a virar o jogo, em vez de agir como se estivesse discusando no gremio estudantil.

    Aí vem o lindinho e fica dando chute na canela da Dilma no meio da briga, dando munição pro inimigo, bradando aqueles clichês: a Dilma entregou o pre-sal, a Dilma está tirando os direitos dos trabalhadores.

    Será que ele fica achando que vai ser poupado pela mídia dos esqueletos dele? Devia mudar para a Rede.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador