Uso do volume morto faz sistema entrar em colapso, diz especialista

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Coordenadora do Instituto Socioambiental, Marussia Whately, expõe erros do governo de São Paulo no Sistema Cantareira
 
 
Jornal GGN – “O uso do volume morto do Sistema Cantareira é uma medida questionável, que coloca em risco um dos maiores sistemas produtores do Brasil, e não necessariamente é uma solução. Ao contrário, mostra a falta de preparo do governo do Estado, da Sabesp ou mesmo do sistema de gestão de recursos hídricos estadual, e mesmo federal, para uma crise como essa”, disse a especialista em recursos hídricos e coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA) Marussia Whately.
 
A entrevista foi concedida à ONG Greenpeace, que lançou há duas semanas sua revista online. A primeira edição trouxe a reportagem “Água: Crise e Colapso em São Paulo”, concluindo que a atual situação da falta de água foi ocasionada pela omissão e descaso do governo de São Paulo e de gestores da Sabesp.
 
“São uma série de medidas que poderiam ser adotadas e não foram. Já em dezembro, o Sistema Cantareira estava em um nível baixo, já existiam projeções de clima para o período, para os três meses seguintes, e era muito possível se falar: ‘olha, não vai chover nesse verão, então a gente precisa fazer a redução de consumo’. Isso nos teria dado um pouco mais de sobrevida no sistema antes de entrar no volume morto”, defende Marussia Whately.
 
A especialista explica que o problema é também questão climática, por chover menos nos últimos três verões. Mas que, por isso mesmo, deveria ter preparo e gestão para lidar com essa “tendência daqui para frente”, de falta de chuvas. “Se você for pensar que nos últimos 10 anos, desde que se fez a outorga do Sistema Cantareira em 2004, existia um compromisso de que a Sabesp diminuisse a dependência desse Sistema, e pouco foi feito nesse sentido”, disse.
 
Leia mais: Demora em enfrentar crise pode gerar racionamento por longo prazo
 
Whately afirma que, agora, quem pagará pelo descaso é a população. “A situação é realmente grave, no Estado de São Paulo, não só na Região Metropolitana. A maior gravidade na Região Metropolitana vai incidir sobre o abastecimento urbano, que não é o maior usuário de água na Bacia do Alto Tietê, então você tem a parte industrial, que usa bastante água, a própria diluição de esgoto, que é o Pinheiros, a Billings, Guarapiranga, essa conexão desses corpos d’água, acabam usando bastante água. Mas ao que parece, a conta vai cair no colo do consumidor”.
 
Outro problema apontado pela coordenadora do Instituto Socioambiental foi a omissão do governo para a real crise em que se encontra o Sistema Cantareira. “A primeira [medida], a curto prazo, é que a situação seja colocada com mais transparência e que a sociedade, sociedade civil organizada, o setor industrial, os setores todos que utilizam a água sejam chamados a conversar. A garantia de água para o abastecimento humano é prioridade”.
 
Ainda explica as consequências de se utilizar o volume morto, uma questão não discutida com a sociedade e que “resolve” momentaneamente a falta de água, mas sem prevenções e prejudicando a médio e longo prazo. “É importante a gente entender, o que é o volume morto? É a água morta para o abastecimento. Ela é uma água que precisa ficar lá para que o sistema não entre em colapso. Porque se você retirar aquela água, não só a represa seca, mas todo o entorno dela, os lençois freaticos e toda a capacidade que aquela represa vai ter de se recompor a hora que começar a chover fica muito comprometida”, expôs.
 
Assista a entrevista completa:
 
https://www.youtube.com/watch?v=DPy_5W8pr_g width:700 height:394
 
A reportagem também traz relatos da população que está sofrendo com o racionamento. E conclui: “no último dia nove de setembro, Catarina de Albuquerque, relatora da ONU (Organização das Nações Unidas), declarou que a crise da água não pode ser justificada pela estiagem: cabe ao Estado prever e prevenir a população de circunstâncias como esta. Diante da crise, o recém-eleito governador Geraldo Alckmin continua negando a interrupção do abastecimento – praticada há pelo menos três meses – e descartou a necessidade de racionamento em 2014”.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

26 Comentários

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  1. incompetencia tucana.
    mais

    incompetencia tucana.

    mais uma comprovação das falácias tucanas, agora da especialista ambiental e o do próprio greeenpeace.

  2. Alguns adendos

    O sistema já entrou em colapso

    Se tivermos chuvas recordes ainda assim o sistema só conseguirá repor uma parte muito menor da encontrada neste início de ano logo após o período de chuvas.

    Sobre a responsabilidade federal que o artigo menciona, desde maio que (ver o link): “ANA manda Sabesp reduzir em 10% captação de água do sistema Cantareira”

    A culpa de Alckmin foi gritante e ainda assim a população de São Paulo o reelegeu com ampla maioria. Nesse sentido se tornaram cúmplices desse desastre, assim como a imprensa e especialistas que só estão “abrindo o bico” quando a situação já se tornou completamente dependente, para se reerguer, de outros mananciais fora do sistema.

    1. Meu caro Assis,
      Tudo o que

      Meu caro Assis,

      Tudo o que escreveste recebe a minha concordância. O que houve em São Paulo não foi só desídia, mas crime de responsabilidade. E assim deve ser enquadrado.

      Como já expus anteriormente, são três os pontos chaves, fatores, áreas, o que seja, mais cruciais, portanto estratégicos, em termos de serviços públicos: água, energia e telecomunicações. Com o fornecimento d’água bem adiante das demais por razões óbvias.

      Como, então, se admitir que se entregue às forças da natureza toda a responsabilidade por um bem tão precioso, porque de essencialidade extrema? 

      Aqui no Ceará, região bem menos chuvosa, desde Virgilio Távora no final da década de 70, passando por Tasso Jereissati, Ciro Gomes, Lúcio Alcântara e agora Cid Gomes, foram empendidos esforços para garantir a segurança hídrica tanto de Fortaleza, como das demais cidades do estado.

      Fortaleza hoje conta com um sistema apto a suportar anos de sêca. Há tempos não sabemos o que significa racionamentos ou coisa parecida. 

      O que houve: Planejamento, antecipação de ações(proatividade), e AÇÕES efetivas. 

      Se esse governo paulista não recebesse tanta condescendência da mídia e do próprio povo paulista já estaria defenestrado há tempos. 

      Mas, infelizmente, para eles vale mais ser anti-PT. 

       

  3. Depois de exaurido o volume

    Depois de exaurido o volume “morto”, o apoiadíssimo governador Geraldo Alckmin, reconduzido depois pela….sei lá mais quantas vezes ao governo de São Paulo, vai recorrer a quê? Ao VOLUME DAS “ALMAS PENADAS”?

    Como se diz aqui no Ceará: isso(apoio incondicional aos tucanos) não é mais amor: é hemorróida. 

  4. Cassaçã de Mandato

    Creio que diante de uma irresponsabilidade destas, deveriamos ter mecanismos para cassar o mandado do governador Alckmin e punição exemplar a outros envolvidos.

    Não se pode conceber um Estado da importância de São Paulo ser administrado de forma tão irresponsável e o incompetente principal continuar na mesma tocada, ignorando a crise.

    Falta muito para arrumarmos este país…mas chegaremos lá!

  5. Catarina e Jarirí – Uma paixão sobre-humana

    Voltei a escrever na minha página aqui do Blog o meu texto “Catarina e Jarirí – Uma paixão sobre-humana”. Quem quiser acompanhar, basta entrar entrar na minha página daqui em diante.

  6. Greenpeace

    Há um consenso sobre a má aadministração do sistema hidrico em nosso país ,mas o Greenpeace é suspeitissimo para nos criticar !

  7. Como paulista é informado…

    Pois é, e a “culta” e “informada” turma de São Paulo reelege Alckmin no primeiro turno! Paulista, rico e pobre, como diria o Pavão da Boca Torta, é mesmo muito informado.

  8. Sabesp admite falta de água três dias após eleições

    Sabesp admite falta de água em SP três dias após reeleição de Alckmin

    Três dias após a reeleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Dilma Pena, admitiu “falta de água pontual” à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal de São Paulo na manhã desta quarta (8). A comissão investiga queixas de falta de água na capital paulista.

    Ela usou o conceito técnico para justificar que não há racionamento: “O racionamento é efetivo quando se despressuriza 100% das redes da cidade, com uma área da cidade ficando sem água efetivamente. Isso não acontece no Estado de São Paulo. Toda a área atendida pela Sabesp está com as redes pressurizadas”, garantiu.”Não existe racionamento. Existe, sim, falta de água pontual em áreas muito altas, muito longe do reservatórios setoriais que distribuem água e em residências que moram muitas pessoas que têm reservação muito pequena. Nessas situações sim, tem falta de água”, declarou Pena.

    http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/10/08/sabesp-admite-falta-de-agua-em-sp-tres-dias-da-eleicao-de-alckmin.htm

    1. Tucanês

      Ora, no tukanistão o idioma é o tucanês.

      “Não existe racionamento. Existe, sim, falta de água pontual em áreas muito altas, muito longe do reservatórios setoriais que distribuem água e em residências que moram muitas pessoas que têm reservação muito pequena. Nessas situações sim, tem falta de água”

       

  9. O caput do art. 132, do

    O caput do art. 132, do Código Penal prescreve que:

     

    “Art. 132 – Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:

    Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.”

     

    A crise da água em São Paulo é conhecida a uma década. Desde o início do ano as autoridades paulistas vinham sendo alertadas de que a Cantareira ia secar. De olho nas eleições, Geraldo Alckmin (que já não havia feito qualquer obra para melhorar a capacidade de abastecimento de São Paulo) preferiu evitar o racionamento de água. O resultado está aí: a Cantareira secou e o lodo do fundo está sendo bombeado para as estações de tratamento da Sabesp. 

    A saúde e a vida de milhões de pessoas foram colocadas em risco pelo ambicioso governador que queria ser reeleito. Mesmo assim o MPF e o MPSP não o denunciaram como incurso nas penas do art. 132, do Código Penal. A proteção a Alckmin deixou de ser política para se tornar criminosa. Autoridade do MP que deixa de denunciar criminoso comete crime de prevaricação (art. 319, do Código Penal).

     

  10. Pois é, pegando no texto essa

    Pois é, pegando no texto essa parte: “agora, quem pagará pelo descaso é a população”;

    Para o paulista o preço é APENAS a falta d’água em suas torneiras,mas o problema MUITO MAIOR é quanto ao resto do país, caso SÃO PAULO desequilibre e também eleja o Aécio, como já fizeram com o Alkmim.

  11. A SABESP É UMA DROGA!

    Todos sabemos o porquê da Sabesp ser ineficiente e não trabalhar em benefício da população.

    Ela é um grande cabine de empregos. Basta visitar seus escritórios. Não cabe mais ninguém. Tem gente trombando.Tem muito mais gente do que mesas e cadeiras.

    E tem mais: tem ações nas bolsas. A SABESP precisa dar lucro. E, sendo assim, não investe, para dar lucros.

    E isto não interessa ao povo, mas é importante para os investidores.

    Sabia que tinha que investir. Sabia o que tinha que fazer. Não fez porque precisa dar empregos e lucros aos acionistas. Por sinal, lucra mais de um bilhão todos os anos. E o povo paga pela água e vai continuar pagando mesmo sem ter água.

    É, assim, por este motivo que a SABESP é uma droga!

     

     

     

  12. São Paulo reelegeu o pior

    São Paulo reelegeu o pior governador desse estado em toda a sua história. Como essa tragédia pode acontecer?

    É evidente que a principal culpada foi a mídia de São Paulo, que escondeu da população os erros cometidos por esse governador, sobretudo no que diz respeito ao abastecimento de água que está moribundo e logo mostrará suas graves mazelas. E, agora, todos nós sofreremos o equívoco daqueles que votaram em Alckmin. Nem caminhões pipa amenizarão esse grave problema.

  13. Paulista tiveram a chance de

    Paulista tiveram a chance de mudar de rumo e sair da crise hidrica via investimentos. Escolheram ficar como esta. Se ficarem sem água, assim o merecem!

      1. Nem todos são tucanos e burros

        Um grande numero de pessoas que eu conheço em sampa, não são nem tucanos e nem desconhecem o problema da agua.

        São Paulo é manipulado por jornais (Falha e estado), redes de tv (globo, Sbt, record, Bandeirantes), mais o conjunto de rádios ligadas a esta rede, que são fudamentais para desviar o pensamento público dos fatos mais importantes.

        Entenda uma coisa: PROPAGANDA CONVENCE PESSOAS. MESMO DE ABSURDOS. A ALEMANHA NAZISTA, SEM TV E OUTROS, QUE O DIGA!

        Daí esta atitude anti paulista é uma coisa medíocre. São Paulo foi o berço de muitos políticos mediocres, mas tambem foi a cidade e o estado que permitiu que Lula chegasse onde chegou!  Em nenhum outro lugar do Brasil. um nordestino. operário, teria a oportunidade, feliz para nos todos, de chegar a presidencia do Brasil!

  14. o ridículo foi o que saiu no

    o ridículo foi o que saiu no jornal hoje da globo.

    com a maior ara de pau, a moça da meterologia

    e a apresentadora gozavam a   notícia que deram:

    exatament no dia 25, um dia antes da eleição,

    choverá em ão paulo o suficiente para resolver o problema.

    haja manipulação.

    esperem,

    esperem, que tudo um dia será resolvido.

    típico do alquimista e do pig.

  15. A morte dos bagres

    O que Mariana Silva teria a dizer sobre a morte dos bagres nas principais represas que abastecem a cidade de São Paulo ? 

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