Merval Pereira está certo, por Luis Nassif

Os militares legalistas precisam, primeiro, controlar a inteligência das FAs, para não serem driblados pelos infiltrados do general Heleno

A cobertura da crise é uma colcha de retalhos de notas daqui e dali que precisam ser costuradas para mostrar toda a vestimenta.

Vamos a alguns pedaços:

Peça 1 – Heleno despachando do Palácio

Foi motivo de pilhéria nas redes a fala do “patriota”, no dia 2 de janeiro, dizendo que a ordem que veio de Brasília, para contornar o desânimo dos militantes, é que o General Heleno está despachando “de dentro do Palácio do Alvorada”. Dizia outras sandices.

Obviamente confundiu de Palácio. Tratava-se do Palácio do Planalto. Mas, na algaravia de informações que chegavam aos “patriotas” sobressaía a informação do controle do general Heleno sobre o Palácio.

À medida em que o quebra-cabeças vai sendo montado, vai ficando nítida a informação de que a peça central do desmonte da defesa do Palácio foi o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) deixado pelo General Heleno. Uma excelente reportagem de Marcelo Godoy, no Estadão de hoje, mostrou a farsa dos infiltrados de Heleno.

O que demonstra que o novo governo ainda não tem controle dos sistemas de inteligência.

Peça 2 – nós perdemos, Mané

Viralizou a resposta do Ministro Luís Roberto Barroso aos provocadores, em Nova York: “Você perdeu, mané”. Seria mais apropriado um “nós perdemos, mané”.

Segundo o professor Francisco Teixeira, especialista em militares, a politização e partidarização da tropa se deveu ao “morismo”, não ao bolsonarismo. Jair Bolsonaro foi apenas a ferramenta política para a partidarização dos militares.

Ou seja, enquanto Barroso flanava de norte a sul, distribuindo entrevistas e palestras sobre o novo iluminismo, e surfando nas ondas da Lava Jato, ajudava a plantar as sementes da ultra direita militar.

Peça 3 – um poder sem rumo

Confira-se a Marinha.

Ex-comandante da Marinha no governo Bolsonaro, o almirante Almir Garnier Santos cometeu a insubordinação de sequer comparecer à posse de seu sucessor, o Almirante Marcos Sampaio Olsen. Recentemente, houve rixa em um grupo de WhatsApp da Marinha devido às críticas disparadas contra Olsen, pelo simples fato de ele ter agradecido a Lula por sua indicação.

Não se trata apenas de grosserias de grupos de WhatsApp, mas de uma amostra rápida de como o bolsonarismo emburreceu completamente o poder militar.

Olsen é a esperança da Marinha, finalmente, ter seu submarino nuclear, projeto que foi abafado nas gestões Temer-Bolsonaro. E a esperança é em função do fato do projeto do submarino ter nascido na gestão Nelson Jobim-Lula, como forma de defender a chamada Amazônia Azul e em função, também, do reatamento de relações com a França. Inclusive com a reabilitação do Almirante Othon, uma das referências do programa nuclear brasileiro. Será fundamental para a defesa da  Elevação do Rio Grande – tema essencial sobre o qual escreverei amanhã.

Peça 4 – a cautela no desmonte dos golpistas

Por tudo isso, Merval Pereira está certo, ao recomendar cautela no tratamento da questão militar. Os militares legalistas precisam, primeiro, controlar a inteligência das Forças Armadas, para não serem driblados pelos infiltrados do general Heleno. Depois, fortalecer os postos chave com militares legalistas. 

Para tanto, é essencial que o Ministério da Defesa lance as base de um novo Plano Nacional de Defesa, para dar um objetivo a esse pessoal e evitar a máxima de que “cabeça vazia é a oficina do diabo”. 

A partir desses passos iniciais, será mais fácil separar os verdadeiros militares daqueles que se valem da força para proselitismo vazio.

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. “Para tanto, é essencial que o Ministério da Defesa lance as base de um novo Plano Nacional de Defesa, para dar um objetivo a esse pessoal e evitar a máxima de que “cabeça vazia é a oficina do diabo”. ”
    PERFEITO!
    PERFEITÍSSIMO.
    Um queixume, na verdade uma reverberação, que ouvi de parente próximo de oficial, em serviço em Brasília me deixou de orelha em pé; muito preocupado. Sentindo-se inútil e sem perspectivas. Presa fácil pros Helenos da vida e suas manias de Pompeus romanos.

  2. Caro Nassif, diferente de países que não podem baixar a guarda, como Irã, Turquia, Israel etc. o Brasil não tem contencioso nas suas fronteiras. Nem alhures. Nas nossas pacíficas fronteiras reina, lamentavelmente, o contrabando. Solução: aumentar o efetivo da PF nas fronteiras e profissionalizar a defesa. Aqui, aproveitando a boa vontade do mundo e do mercado, reformar as FFAA pro século XXI. Focar nos projetos estratégicos(FX, nuclear e AVIBRAS) e transformar a AMAN(celeiro olavista) numa academia moderna, integrada com as universidades civis.

  3. As maiores dificuldades são, em primeiro lugar, o Ministro José Múcio acordar completamente do seu sonho de Poliana e começar a agir. No caminho correto, como sugerido por Nassif. Compete a Lula acordá-lo de vez. Em segundo lugar, o Ministro Flávio Dino descer do palanque que o leva a falar muito, acelerar as investigações e as denúncias consequentes e dar freios de arrumação nas polícias que lhe são subordinadas. Enquanto isso, Lula e os demais ministros têm de atacar os demais problemas do país, que são enormes e pedem ação urgente.

  4. Muito se fala em Múcio e até Merval . OK !!!
    Mas por onde andará um tal Ministro e um Gerente de Banco ???
    Em baixo da cama ou passando pano , ou sendo entrevistado pela Miriam ???
    Se Lula correu risco , corremos todos !!!
    A Democracia precisa de Fortes !!!

  5. O Brasil precisa entrar na OTAN, é contraintuitivo, mas a única forma de acabar com o golpismo é botando nossos militares sob supervisão estrangeira, do contrário vamos viver fingindo que temos uma soberania que nunca tivemos, vide caso de espionagem da CIA no governo Dilma, Dilma tentou agir corretamente e foi atropelada pela real politic, não temos soberania militar e se tivéssemos seria dar poder a golpistas anti-democraticos, por isso digo que é melhor ter “responsabilidade compartilhada” nesse tema com toda Europa e EUA.

  6. As FFAA partem de uma premissa que o “PODER” é oriundo e sustentado pelas FFAA! Afinal, qual é o cotidiano e rotina das FFAA? Honestamente não sei!!! Pelo que vi ate então, o risco do Brasil é golpe a ser tentado pelas FFAA, para tanto utiliza-se de massa de manobras (direita radical) para fins não democráticos. Para acabar, fundamentam que são capazes de suprir quaisquer necessidades, obvio que não se inclui a DEMOCRACIA.

  7. É impossível, dada a importância do Brasil na região, os militares tentarem um golpe sem o apoio dos EUA. Caso os milicos teimem e sigam em frente, o Brasil estará de joelhos no dia seguinte diante de tantas sanções ou algo pior! O que temos são muitos militares jogando para a plateia reacionária para angariarem cacife para outros voos. Golpe militar no Brasil sem o dedo do Tio Sam não existe…

  8. O comentarista que sugeriu pôr as FArmadas sob co-comando dos EUA deve ter vindo diretamente de Marte e nao saber nada das tentativas de golpe financiadas nos EUA e até provocadas pela CIA. Aconselho que leia o artigo “Como a CIA montou uma Maidan no Brasil”, do jornalista Pepe Escobar, artigo que está agora no Brasil 24/7.

  9. Pois é “seo Nassif”, Lula pegou esse pessoal passando fome, o expediente acabava as onze por falta de comida, até o tal serviço obrigatório estava em estudos pra acabar….outra turma caindo aos pedaços era os fiscais de aeroportos, os impressores de passaporte, viviam amontoados em prédios em ruínas na boca do lixo …o que devolveram em gratidão???…até um filho de Lula foi envolvido numa compra de caças, um dos processos mais absurdos quando aquele departamento estapafúrdio da receita iria finalmente ser investigado, inventaram uma estória fantasiosa pra livrar a cara dos tubarões de sempre,e dividas de dezenas de bilhões puderam ser perdoadas, eu não tenho esse grandeza, eu daria é nada pra eles….

  10. “Por tudo isso, Merval Pereira está certo, ao recomendar cautela no tratamento da questão militar. Os militares legalistas precisam, primeiro, controlar a inteligência das Forças Armadas, para não serem driblados pelos infiltrados do general Heleno. Depois, fortalecer os postos chave com militares legalistas. ”

    João Goulart continua esperando a chegada dos tais “militares legalistas”, desde a madrugada de primeiro de abril de 1964. Seu ministro da guerra, amigo fraternal, também.

  11. O petista Tarso Genro, numa entrevista para um youtuber, traçou as três estratégias que a PM do Distrito Federal poderia ter usado para impedir o ataque aos Três Poderes. Ele até por0pôs um ato pela legalidade, que poderia ser realizado pelo governador do RGS, Eduardo Leite. A situação é evidente: Falta um em Nuremberg, governador Ibaneis Rocha. Ou teremos mais um RIOCENTRO>

  12. Parece que, de certa forma, até o 08/01 não foi fake news dizer que o Helenão continuava despachando do Palácio do Planalto. O GSI praticamente abriu as portas da casa para os terroristas e só hoje o braço direito do antigo sinistro foi exonerado. Era mentira ou mais um “apito de cachorro”?

  13. Os EUA espionam os próprios aliados da OTAN, vide a espionagem contra Ângela Merkel. A OTAN é uma forma dos EUA controlarem estes países, vide a Europa, mesmo tendo prejuízos apoia os ucranianos, quando quem está ganhando é a indústria armamentista dos EUA. O Brasil na OTAN, litoral brasileiro e sua Amazônia azul vai poder ser espionada e prospectada a vontade por navios da OTAN no seu litoral.

  14. O morismo e o bolsonarismo tem em comum a leniência dos órgãos de fiscalização, ambos agiram como quadrilhas sustentadas pela mídia e o ódio à política de estado do PT, inclusive de gente como merval.
    Os comentários do Merval Pereira são tão odiosos, bosais, travestidos de ideologia tacanha que quando fala uma obviedade parece soar como um conselho. Mas o o óbvio sempre foi o obvio. Dizer que pra trocar uma lâmpada precisa de escada não é jornalismo.

  15. Se de um lado vemos próceres de um esquerdismo infantilizado e anacrônico a denunciar um suposto movimento de acomodação e anistia para o golpismo fardado e a exigir imediata degola de generais e seus apaniguados, de outro temos os tradicionais porta vozes da ‘elite do atraso’ a defender estratégias de não confrontação e caminhos suavizados para se extirpar rebeldes e de reconstrução democratica de uma instituição carcomida por uma perversa ideologia que não lhe convém.

    Ora, em se tratando de problemática aguda com raízes históricas e culturais, permeada de monumental complexidade, visto que move-se por forças difusas, inclusive de caráter geopolítico transnacional, não cabe ao atual governo ter como fiel conselheiro nenhuma das partes supracitadas.

    Como diria o velho Mino Carta, até o mundo mineral sabe que para os verdadeiros donos do poder, cabe ao governo Lula tão somente o papel de estanque e de neutralização de forças que saíram de seu controle e resultaram na paradigmática hidra bolsonarista.

    Ao perder seu poder de influência sobre os estamentos armados, os mesmos lacaios empobrecidos de outrora, seduzidos agora não apenas por nacos de poder e benesses materiais ilimitadas, mas finalmente protegidos pelo biombo de legitimidade civil, ungida e galvanizada no voto popular, o que se pôs em marcha é um contragolpe fruto do reagrupamento de nossas elites de fato.

    Busca-se com apoio da mídia nativa a criação de um sentimento de libertação nacional e de capitulação tardia e apoteótica do poder da bufunfa pelos marginalizados, que na figura de seu maior e mais odiado inimigo histórico, constituira-se na única alternativa viável para refrear a consolidação de uma autocracia miliciana que já preparava-se, com notável sucesso, para longos anos no poder.

    Nao devemos jamais esquecer que cumprido o intento e com a devida eliminação das variadas cepas de lideranças golpistas, volta-se à carga para a manutenção do status quo, do mesmo Brasil de sempre, paraíso rentista, subjugado e simulacro de democracia colorida e festiva para inglês ver.

    Lula deve, mais do que nunca, confiar em seu instinto de estadista visionário e mesmo sob risco de não obter êxito, não ceder aos conselhos interessados de Mervais, Mucios, Farialimers ou Bolcheviques sonhadores de uma revolução sem povo na rua pra sustentar.

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