Não temos condição de superar esse momento sem o PMDB, diz líder petista

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Entrevista: Luis Nassif e Cíntia Alves
Vídeo e imagens: Pedro Garbellini

Jornal GGN – O deputado federal Paulo Teixeira (PT), vice-líder do governo na Câmara, defendeu, em entrevista exclusiva ao GGN, na manhã de segunda-feira (24), a aproximação do PT com o grupo do vice-presidente Michel Temer e do senador Renan Calheiros, ambos do PMDB, na tentativa de atravessar a atual crise política e econômica e manter a presidente Dilma Rousseff no cargo até 2018. Na visão do parlamentar, não há “condição alguma” de o PT “superar esse momento” de ameaças de impeachment “longe do PMDB”.

A declaração do deputado ocorreu após a imprensa noticiar que Temer estaria decidido a abandonar a articulação política do governo e se afastar da presidente, dando a “senha” para que o PMDB saia do arco de alianças e liberando a bancada para negociar com a oposição o processo de impeachment. Para Teixeira, “as fofocas atribuindo conflitos dessa natureza também servem ao jogo de desestabilização”. 

O petista observou, entretanto, a crise que o próprio PMDB vive em função das reações intempestivas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, à Operação Lava Jato. Segundo Teixeira, é pelas mãos de Temer e Renan que esse assunto deve ser tratado. Por parte do PT, a ordem é aguardar a aceitação das denúncias contra Cunha pelo Supremo Tribunal Federal. “Mas a impressão que eu tenho é que o tempo dele está sendo um tempo curto. A agenda dele tem sido uma agenda muito pesada”, indicou o vice-líder, que ainda defendeu a retomada do rodízio entre PT e PMDB pela presidência da Câmara.

Sobre a movimentação de Gilmar Mendes, do Tribunal Superior Eleitoral, que solicitou nova investigação sobre as contas da campanha de Dilma, Teixeira comentou que o ministro o faz lembrar das “vivandeiras da ditadura”, sempre em busca de motivos para justificar um golpe. “Mas Gilmar não toca na questão central: ele sentou em cima de um voto que acabava com o financiamento empresarial [de campanha], que é um problema para o País”, disparou.

Confira, abaixo, os principais trechos da primeira parte da entrevista.

https://www.youtube.com/watch?v=MawGULzpHF8 width:700 height:394]

Jornal GGN – Qual o balanço das últimas semanas em relação à conjuntura política, que inclui recuo de jornais e empresariado em relação ao impeachment, mas uma jogada do ministro Gilmar Mendes em cima das contas da campanha do PT.

Paulo Teixeira – Temos que ter um olhar um pouco distante, se não ficamos muito envolvidos pelo momento. Acho que temos que localizar alguns aspectos muito positivos da conjuntura. O primeiro é que todas as centrais sindicais se uniram em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff. Outro aspecto são os setores empresarias. O principal empresário da área do álcool já há mais tempo disse que o rumo está correto. Agora o Roberto Setubal, e um pouco antes dele a FIRJAN e a FIESP. Então, o setor empresarial também se desloca desse clima político ruim e indica que o caminho é a manutenção do mandato da presidente. E que esse impasse, o pedido de impeachment, afeta negativamente a economia.

Acho que a Folha, me parece que Globo também, teria se despregado dos demais [veículos], mostrando um clima diferenciado e que também não quer continuar na direção da manutenção desse impasse político.

Em relação ao Gilmar Mendes [do Tribunal Superior Eleitoral], eu me lembro daquela estória das vivandeiras, do tempo dos quartéris. [Antes, havia] políticos que viviam nos quartéis pedindo pelo golpe. Nós temos hoje políticos que vivem nas instituições de Estado pedindo para que lhes deem algum argumento contra a presidenta.

Então, tem um ministro do TCU [Tribunal de Contas da União] que milita, antes inclusive que seu voto seja analisado pelo seus pares, de um órgão auxiliar da câmera. Inclusive a decisão terá de ser submetida à Câmara. E o ministro Gilmar Mendes também contribui com as vivandeiras agora. Quer dizer, ele aprovou as contas da presidente, e agora coloca em questão as contas. O fato de ter aprovado e agora reabrir [o debate] demonstra que ele também se deixou envolver por esse clima.

O fato é que essas empresas [investigadas na Lava Jato] fizeram contribuições legais para o PT e para o PSDB. Agora eles começam a questionar como se houvesse alguma ilegalidade nas contribuições feitas ao PT. E o empresário, do jeito que ele disse, contribui porque tinha medo de perder contrato. Mas ninguém o pressionou, o fez tomar essa decisão.

Gilmar também não toca na questão central. Ele sentou em cima de um voto que acabava com o financiamento empresarial. E, na minha opinião, é um problema para o nosso País. Acho que o que está acontecendo agora é a oposição – muito desse circuito Aécio, do PSDB na Câmara, com Carlos Sampaio – está procurando uma razão para não deixar a presidenta governar. 

GGN – O fato de Aécio não ter conseguido desenvolver nenhuma outra bandeira explica essa insistência dele nessa questão política do impeachment?

Teixeira – Acho que sim, eu acho que o Aécio não se conformou com a derrota e desde então ele tenta inviabilizar a presidente. Mas, na minha opinião, também o PSDB se colocou nesses meses num caminho que se mostrou perigoso. De um lado, com um discurso muito radicalizado, com conteúdo de ódio. E de outro lado, na prática na Câmara, votando uma série de matérias que eles defendiam no passado e que todo mundo está vendo que se forem implementadas agora, inviabilizariam o orçamento público.

GGN – A reação do meio empresarial mostra que há um erro de enfoque do PSDB, que julga que o Brasil de hoje é similar ao de 1964. Em termos democráticos, o país está mais maduro do que em qualquer outro período?

Teixeira – É, acho que há maturidade democrática no Brasil, e me salta os olhos também a serenidade com que a presidente tem conduzido esse momento. Quer dizer, é um momento em que eles estão numa linha muito irresponsável, mas ela, de uma maneira serena, tem conversado sobre os temas do Brasil e conseguido também ajudar a sair desse impasse.

https://www.youtube.com/watch?v=IeQ03FcNv64&feature=youtu.be width:700 height:394]

GGN – Como explicar esse tiroteio de informações em Brasília, especialmente esse que aponta conflito entre o governo e o grupo do Michel Temer. As fontes do Palácio não são superestimadas pelos jornalistas?

Teixeira – Olha, Nassif, eu acho que as fofocas atribuindo conflitos dessa natureza também servem ao jogo de desestabilização, não é isso? Eu não acredito que nós consigamos superar esse momento, com o PT longe do PMDB, mais propriamente do PMDB do Temer e do Renan. Nós não temos condição alguma de superar esse momento sem ter uma forte coesão com eles. E acho que esse deve ser o esforço da presidente Dilma Roussef, acho que ela tem feito.

Eu recentemente participei de uma reunião de vice-líderes e ela estavam também. Ela reforçou muito o papel que ele [Temer] está tendo [na articulação política]. Acho que tem um nível de fofoca grande.

Por outro lado, temos que reconhecer que tem uma crise no PMDB agora, mais propriamente a crise relacionada a denúncia que o MPF [Ministério Público Federal] fez em relação ao atual presidente da Câmara [Eduardo Cunha]. Mas acho que essa própria crise relacionada ao Cunha tem que ser administrada junto com o Temer e o Renan. Nós temos que buscar retomar o nosso acordo anterior de períodos [de rodízio no comando da Câmara]. Quer dizer, o PMDB vai até o fim do ano de 2016 [na presidência da Casa], e o PT retoma a direção, de 2016 até 2018. Acho que nós devíamos reconstruir esse pacto. E, claro, tem uma crise que vai requerer uma solução, que não é para agora. Temos que esperar a aceitação da denúncia [contra Cunha] pelo STF [Supremo Tribunal Federal]. E até lá, conversar com o PMDB sobre uma solução para a crise na Câmara.

GGN – Mas esse pacto pelo rodízio na presidência da Câmara não foi respeitado na eleição de Cunha. O PT decidiu ter candidato próprio, e essa afronta aumentou ainda mais a crise com ele, não? Não é um “mea culpa” agora dizer que quer o acordo de volta?

Texiera – Esse acordo, na minha opinião, era muito difícil de acontecer com o Eduardo Cunha. Eu acho que tem que ser com o PMDB governista, o PMDB do Temer. Foi assim que nós fizemos [no passado] o acordo para o Temer ser presidente, o Arlindo [Chinaglia, o Marco Maia e o Henrique Eduardo Alves. Houve uma ruptura desse acordo com a candidatura de Eduardo Cunha. Eu retomaria o acordo considerando que o que era para ser deles já foi. 

GGN – Eduardo Cunha conseguiu, de fato, montar uma frente pessoal de apoio ou há uma insatisfação generalizada com o governo apenas?

Teixeira – O Cunha, no período anterior à presidência da Câmara, aglutinou uma série de aliados. E depois, já na presidência, acabou prestigiando esses aliados. Mas a impressão que eu tenho é que o tempo dele está sendo um tempo curto. A agenda dele tem sido uma agenda muito pesada. Ele tem procurado trabalhar temas muito negativos para a sociedade e para o governo. Temas que demonstram um desequilíbrio e eu não creio que, daqui para frente, ele consiga permanecer mais com força. Acho que a tendência é a perda de força dele até um determinado momento, que acho que tem que ser discutido depois da denúncia do Supremo. Nós temos que buscar uma solução para esse impasse junto com a parte do PMDB que está no governo.

GGN – Entre nós jornalistas há uma expressão muito usada que é: “Quem não pauta é pautado”. Quando conversamos com o senador Romero Jucá (leia mais aqui) sobre a Agenda Brasil, proposta por Renan, ele falou sobre o projeto provocar uma virada de página, para dar ao ajuste fiscal a dimensão correta e mudar um pouco a pauta da mídia, que só fala em crise e impeachment. Quando o senhor fala que não há possibilidade de superar a crise sem o PMDB, significa que o PT abriu mão da pauta e apoia a Agenda Brasil?

Teixeira – Não, eu acho que é diferente. Eu concordo com o Jucá. Mas sou mais por fazer a pauta. Há aspectos da Agenda Brasil que eu concordo. Por exemplo, aprovar o imposto sobre herança. Acho que já deveria ter sido enviada para a Câmara a proposta de taxação sobre grandes heranças. O que nós estamos precisando é definir alguns pontos da Agenda e colocar em debate. O governo teria que fazer a sua agenda, e parte dela a Agenda Brasil já contempla. Eu tenho divergências quanto à questão do SUS [Sistema Único de Saúde, não podemos deteriorar um sistema virtuoso, temos é que aperfeiçoá-lo. Uma outra divergência é relacionada ao tema indígena. Não podemos, digamos assim, querer limitar os direitos dos povos indígenas. E também discordo desta agenda que quer mexer na área de licenciamento para suprimir os cuidados. Mas podemos abrir mão do rigor. 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  1. “GGN – Mas esse pacto pelo

    “GGN – Mas esse pacto pelo rodízio na presidência da Câmara não foi respeitado na eleição de Cunha. O PT decidiu ter candidato próprio, e essa afronta aumentou ainda mais a crise com ele, não? Não é um “mea culpa” agora dizer que quer o acordo de volta?

    Texiera – Esse acordo, na minha opinião, era muito difícil de acontecer com o Eduardo Cunha. Eu acho que tem que ser com o PMDB governista, o PMDB do Temer. Foi assim que nós fizemos [no passado] o acordo para o Temer ser presidente, o Arlindo [Chinaglia], o Marco Maia e o Henrique Eduardo Alves. Houve uma ruptura desse acordo com a candidatura de Eduardo Cunha. Eu retomaria o acordo considerando que o que era para ser deles já foi”:

    EU TAMBEM nao deixaria o alucinado canalha entrar no terceiro lugar em comando da presidencia de METADE DA AMERICA LATINA!  Se eh que poderia ter sido diferente com uma arquitetura menos confrontacional, eu nao sei, nao entendo o Brasil suficientemente.  Talvez foi culpa de Dilma, claro, talvez nao.  O problema eh esse:

    Agora temos uma canalhada enorme na camera e congresso NAO se tornando responsavel pela eleicao de Cunha!  Sim, a culpa EH DE DILMA.

    Ora, os analistas podem ir pastar.  Eu tambem me oporia com unhas e dentes a esse canalha.  Terrivel impressao ficou no ar:  que a “culpa” foi de Dilma.  Sim, eu posso pensar isso e posso falar isso.  O PIG e os “analistas” nao podem:  eles simplesmente nao tem moral pra o falar, eles apoiaram Cunha, um canalha com marca registrada.

  2. Paulo Pereira

    Paulo Pereira, vice-líder do governo e liderança petista!!!! Será que fica difícil de entender por que a base do governo Dilma está fragmentada e por que o PT tornou-se um partido de covardes? Acho que não, nè?

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