O capitão nunca esteve tão próximo do Planalto, por Ricardo Cappelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O capitão nunca esteve tão próximo do Planalto
 
por Ricardo Cappelli 
 
É preciso reconhecer a capacidade de Bolsonaro de gerar delírios. Ele funciona como uma espécie de entorpecente capaz de turvar a visão da esquerda e da direita ao mesmo tempo.
 
Uma multidão delirante o recebeu em Juiz de Fora. Após a fatídica facada, o delírio mudou de lado. Parte da esquerda abriu sua caixa de loucuras.
 
O atentado, feito por um lobo solitário desequilibrado, teria sido na verdade uma conspiração internacional tramada com a família Marinho e colocada em prática pela dupla CIA/Mossad. “Cadê o sangue?”, gritavam os “esquerdominions”. 

 
O Capitão lidera a pesquisa, subiu no último Ibope, e resolveu contratar um israelense ninja que no meio da multidão desferiu um golpe milimétrico que por pouco não o mata. Faz todo sentido.
 
Ou pior, a conspiração envolveu todos os médicos, enfermeiros e toda a polícia federal. “A verdade é que não existe corte, é coisa de Hollywood!” Chega a ser ridículo.
 
A facada entrou para a história pelo paradoxo de suas conseqüências. Atingiu o coração da democracia e catapultou o candidato que mais ameaças representa ao sistema democrático. Cortou em pedaços Geraldo Alckmin e pode levar a uma unificação de forças impressionante.
 
O assunto atraiu audiência no planeta. Deu a Jair o que ele não tinha e jamais sonhou. Uma avalanche de mídia espontânea positiva, permitindo-o furar o equilíbrio imposto pelas regras eleitorais à cobertura jornalística de candidatos.
 
Dores pessoais têm o poder de humanizar o mais ogro dos mortais. Fragiliza o fortão e o traz para perto das pessoas de carne e osso. 
 
Fica a imagem do homem destemido que resolveu enfrentar o sistema e acabou perseguido, ferido mortalmente. Um cidadão que colocou a própria vida em risco pela missão de salvar o Brasil. A fala dele com a sonda no nariz no hospital é devastadora.
 
Se já tinha o poder de se comunicar com seu eleitorado como um “Lula da direita”, simples e objetivo, direto, se somou ao ex-presidente agora na condição de vítima. Temos duas vítimas do sistema, um preso e outro sangrando em cadeia nacional.
 
Qualquer marqueteiro será capaz de reduzir agora suas dificuldades com o eleitorado feminino. Basta trazer sua família e sua mulher para a cena chorando, dizendo da dor que seria perder um marido e um pai maravilhoso. 
 
Se já estava difícil que a profecia de derretimento de Jair se concretizasse, agora ela parece impossível. Que eleitor vai abandonar seu escolhido gravemente ferido no leito de um hospital? Esqueçam, o brasileiro é altamente solidário na dor porque a conhece de perto.
 
A rejeição do Capitão deve cair e as próximas pesquisas devem indicar alguma subida. A facada teve o poder de transformar o general Mourão num defensor do devido processo legal para o agressor. A mudança é radical.
 
A grande mídia está com a faca e o queijo na mão. Pode colocar Bolsonaro na TV 24 horas por dia sem nenhuma contestação. Trata-se de um fato jornalístico. Quem teria a coragem de questionar a cobertura da situação de uma pessoa gravemente ferida?
 
A pressão do establishment sobre o PSDB será insuportável. Ao garantir vaga no segundo turno com Jair passarão a sonhar com uma vitória consagradora no primeiro turno. Alckmin foi o verdadeiro atingido pela facada. Está virtualmente morto. 
 
A justiça tende a radicalizar contra a aparição de Lula no processo eleitoral. Se a briga entre o PT e Ciro por uma suposta vaga no segundo turno se tornar insana, o risco de um abraço de afogados será enorme.
 
A facada na democracia materializou o crescente processo de radicalização, o descrédito nas eleições e nas instituições. Fez o país pender perigosamente para uma extrema direita que agora, oportunamente, recolhe os dentes. 
 
As próximas semanas serão intermináveis. Os progressistas e democratas podem ser impelidos a seu unir ainda no primeiro turno. Nunca o Capitão esteve tão próximo do Planalto.
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Análise do Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania

    “Não faltou quem dissesse que o ataque que quase matou o extremista de direita Jair Bolsonaro “mudará a eleição”. Essa premissa sobre “mudar” a eleição pode ter mil e um significados, mas o pretendido pelos seus propagadores é o de que Bolsonaro sairia (eleitoralmente) mais forte desse ataque.

    A análise não procede cem por cento, mas não dá para acreditar  que nada aconteça nas intenções de voto após um episódio como esse. Alguma coisa Bolsonaro irá lucrar.

    Mas quem achar que alguém deixará de votar no candidato do PT para votar em Bolsonaro só porque ele foi esfaqueado, não está nem conseguindo raciocinar direito. O eleitorado de Lula – e, por extensão, de seu candidato, caso não possa concorrer – tem crescido consistentemente apesar da maior campanha difamatória já movida contra um brasileiro. Não votará em alguém que  prega violência só por esse alguém ter sido alvo daquilo que prega.

    O eleitorado de Ciro Gomes, idem. É composto de gente com cérebro.

    Mas o que ganha Bolsonaro, então?

    Se Bolsonaro extrair algum lucro do raríssimo ato de violência do qual foi vítima – ele costuma ser autor, só que de  violências verbais -, certamente será de um eleitorado descerebrado como os de Alckmin e Marina…

    Por que o eleitor de Alckmin ou de Marina é descerebrado? Porque apoia candidatos que poderão prejudicá-lo.

    Senão, vejamos:

    1 – Alckmin é um Michel Temer com punhos de renda. Liderou a adesão do PSDB ao governo Temer e é responsável por excrescências como a cada vez mais odiada reforma trabalhista, que está empobrecendo legiões de brasileiros trazendo de volta subempregos que na era PT tinha deixado de existir.

    2 – Marina Silva quer aderir ao neoliberalismo de Temer e Alckmin, aliou-se a Aécio Neves na última eleição presidencial e nunca criticou malfeitos de Temer como a reforma trabalhista, o teto de gastos, a terceirização indiscriminada, enfim, tudo que está afundando o Brasil.

    O eleitor de Alckmin e o de Marina está muito mais sujeito a votar em um energúmeno como Bolsonaro porque é tão estúpido que não percebe que a política econômica do tucano e da ambientalista aprofundaria  o empobrecimento do povo em curso no Brasil.

    Pode-se dizer, enfim, que Bolsonaro foi esfaqueado, mas quem faleceu foram as candidaturas de Marina e, sobretudo, de Alckmin. Esses já podem pegar o boné e irem para casa. O segundo turno será disputado por Lula/Haddad e Bolsonaro – civilização contra barbárie.

    Será emocionante, além de ser assustador que alguém como Bolsonaro chegue tão longe.”

  2. Cirondeiro fanático ou bolsominion?

    Cirondeiro fanático ou bolsominion?

    Quem não conhece o autor dirá, após a leitura da matéria, que ele é um seguidor de Bozonaro que, depois de elencar os ganhos do seu herói com a facada, conclui que à esquerda desesperada só resta tentar um abraço de afogados para tentar deter a já certa vitória do seu mito.

    SóQueNão! O autor é Ricardo Cappelli, um Cirondeiro fanático, e o seu artigo é apenas mais um dos seus, onde tenta, novamente, dar uma facada em Lula e no PT para beneficiar o seu verdadeiro herói e patrocinador, o Língua Grande Ciro Gomes. Vai vendo, Ricardinho!

  3. Barriga de Aluguel

    Nassif: vou renovar a pergunta —a quem interessaria o Jair finando-se?

    Primeiramente, ao seu Partido. Está sem tempo de TV, na propaganda eleitoral. O vice, homem de armas, estrategista dos bons, assessorado pelos seus amigos do serviço de inteligência do Jaburu, assumiria a cabeça da candidatura e, de quebra, usaria a túnica ensanguentada do de cujus, numa propaganda próxima a dos nazis. A grande mídia, capitaneada pelos do Jardim Botânico, em chamadas monumentais pelo âncora ancorado do JN, estamparia cenas e cenários mirabolantes. Sempre vinculando à esquerda o atentado, como no caso do Carcamano da Moóca, em 2014. O corpo seria exposto em câmara ardente e depois seguiria em carreata pelas 26 unidades da Federação. Os Brigadeiros disponibilizariam um jatinho, se o da polícia do Príncipe de Paris não pudesse ser cedido. Os CisnesBrancos, no convés do Minas Gerais, fariam uma celebração pirotécnica na Baia da Guanabara E os verdeoliva desfilariam com os restos mortais do soldado covardemente abatido em campanha, num Brucutu, pela explanada dos ministérios, até às portas do Çupremão. Para possível regozijo do vice do finado Jair.

    Mas não se pode descartar manobra da vanguarda “vangélica”, de onde AdelioBispo recebeu a mensagem celeste. Pode ter sido captada pelas poderosas antenas no Templo de Salomão. Ou por aquele demiurgo, regiamente contratado pelo Carcamano da Moóca para dizer que NoveDedos cuspiu na cruz de Cristo. Muito antenado nas mensagens de Deus, dizem-no de fé mercenária. Não vem ao caso. O importante é vencer a corrida pro Jaburu. O primeiro decreto do eleito selecionado seria cancelar o dízimo às Igrejas engajadas na campanha. Passaria, então, a 20% a capitação, livre de IR. Sabem que o vice do (quase) finado seria sensível a tal apelo.

    Tem, ainda, as tramoias da dupla infernal toga-farda, o mais importante grupo de enfrentamento político da Nação. A facção da Corte Mor de Suplicação Eleitoral, vulgo TSE, sonha com um candidato que garanta sua recente Bula inquisitória, contra o MelianteOperárioNordestino. Até contra a liminar da ONU. O Çupreminho e o Çupremão estão também nessa toada. As negociações, com promessas de apoio incondicional ao governo da bala, seriam bem recepcionadas pelo vice do (quase) finado Jair.

    E, finalmente, aquela frente espúria PSDB/DEM/PPS/(P)MDB+Detritos_de_Maré_Baixa (dizem que os Bancos privados e empresários safados já pediram ingresso ao grupo), tirariam do páreo um candidato com potencial de derrotá-los. Ofereceria, de compensação, 5 ministérios de ponta ao Partido, e, ao vice, pensão vitalícia , com casa, comida e roupa lavada, mais U$ 1mi/mensal, nas Cahimãns, chova ou faça sol. E, Xuxu na cabeça. Tem político que resista? Nem o vice do (quase) finado Jair.

    Contam história de caso semelhante, um governante romano que foi apunhalado quando chegava ao senado. Só que naquele tempo não tinha faquinha de pãopullman, nem HospitalAlbertoEinsten para lançar boletins do estado de saúde dos pacientes a toda hora pro pessoal do JardimBotânico. Com essa Jair safou-se e o vice, que de nada sabia, continuou vice.

    Como não deu certo a encenação e a bagaça do tempo de TV continua apertando, vem agora, com o pomposo discurso, o Ministro da Guerra, insinuando que vai passar o serol em todos os esquerdopatas, começando pelo que já tá em cana.

    Ou seja, se Jair finar-se vem o golpe_do_golpe. Se Jair não finar-se, vem o golpe_do_golpe. Porque o golpe_do_golpe foi criado pelo triunvirato toga-farda-Jaburu para durar 20 anos.

     

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