O medo da Esquerda em se tornar café pingado, por Francy Lisboa

por Francy Lisboa

Já nao da mais para viver defendendo o indefensável e, não, não falo do PT.

Dizer que no PT tem corruptos virou a nova invencão da roda para milhares de comentaristas politicos frutos da profusão da internet. Mas, o dicurso que chama mais atenção é o da Esquerda Professoral. Ela realmente acredita que com o discurso de metralhar a floresta devido à algumas árvores secas é um gesto de solidariedade, de proteção ambiental da esquerda outrora representada pelo Partido dos Trabalhadores.

O paciente odeia mais o médico do que a própria doença. Dizer que o PT vitimiza-se ao invés de assumir seus erros é outro mantra tipico da esquerda que quer reinventar os outros, mas é incapaz de se flexibilizar e perceber uma outra obviedade, a de que o Brasil não é um samba de uma nota só.

O cachorro morto encarnado pela instituição PT é tratado pela Esquerda Professoral como a nova mulher do século vinte. Ela deve seguir o ordenamento da pureza, ser recatada, nao andar em companhia de estranhos, jamais se aventurar a ganhar uma eleição. Dar palestras? ter dinheiro? Dar consultoria? Barco de lata? Pedalinhos? Receber presentes de autoridades internacionais? Ter blog? Fazer vaquinha? Se defender de acusações? Sao todos comportamentos inaceitáveis para toda dama que deseja ser vista como exemplo de luta contra o capitalism burguês e malvado.

Quanto tempo faz que a esquerda defende as mesmas bandeiras? E quais foram seus avanços em termos de expressão política fora do exercício do Poder? Aqui mais uma obviedade vem a tona: discurso bonito e inflamado sem o exercício do poder com o minimo de governabilidade não tem eficácia.

Milhares de brasileiros costumam tomar café da manhã já no caminho para o trabalho. Ao olhar aquele líquido escuro sendo invadido por míseras gotas alvas de leite a pergunta se fez imperativa: por que a Esquerda Professoral não aceita ser café pingado?

Por que soa tão absurdo admitir que o Estado deficitário como o Brasil não pode nos prover de forma eficiente com tudo que desejamos? É o medo do pecado original? De ser persuadida pela serpent malévola do mais-valia? É essa esquerda que quer reinventar os outros?

O café pingado não deixa de ser café só porque recebeu pequenas gotas de Leite. Não, não, e não, esquerdista. Você não irá para o purgatório enfrentar o julgamento severo de Marx por ter admitido que melhor seria o Estado focar em pontos-chave do que se preocupar com cada centímetro de rodovia desse país continental. Tão pouco será achibatado pelos anjos operários vingadores quando finalmente perceber que a estabilidade no concurso público gera distorções de toda ordem como bem lembrado pelo Nassif em seu texto sobre servidores e autoridades.

Venha para esse século, venha para a realidade e pare de acusar os outros como beatas imaculadas de novela das seis. Se queres reinventar alguma coisa começe por si mesmo, pois essa esquerda professoral lembra um museu quando demoniza arte de ceder para seguir em frente, um receio enorme de se tornar café pingado.

Redação

25 Comentários

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  1. Sectarismos ideológicos nos

    Sectarismos ideológicos nos tempos atuais perderam todo o sentido. Nada mais anacrônico do que o aferramento à posições doutrinárias rígidas num mundo, não líquido como expressam os pedantes, mas volátil mesmo. Por esse viés, a crítica do articulista tem algum fundamento.

    Alguma razão, mas não TODA razão. A questão é bem mais sutil que a caricatura dos “dogmáticos” traçada no texto dando-lhes a pecha de “professorais”. Diz respeito a natureza do processo político, e mais especificamente a transformação que o PT sofreu quando no Poder. Resta então a dúvida: o PT pingou leite no café ou colocou água, desnaturando sua essência ao ponto de abafar quase totalmente seu aroma e gosto original? 

    A questão de fundo não são realmente pedalinhos, vaquinhas, ter dinheiro e dar consultorias. Nem tampouco, acrescento eu, se aliar com antigos adversários para assegurar a governabilidade para a partir daí promover as mudanças necessárias no país. 

    Não, não se trata disso, mas do processo de descaracterização gradual pelo qual passou o partido e a acomodação no que tange a certas demandas alardeadas quando oposição e esquecidas enquanto Poder. Por que exigir dos “professores” silêncio ou coonestação quanto a isso?

    O interessante é que as concessões à Direita, algumas infames, a começar pelas parcerias com figuras de práticas políticas execráveis e o imobilismo para com algumas pautas progressistas, não merecem o mesmo espírito crítico. Sem falar que “nunca na história deste país” as margens de lucros(vá lá: mais-valia) alcançaram patamar tão elevados. Os bancos, coitadinhos, que o digam.

    Talvez mais que a crítica à crítica da Esquerda ou Extrema Esquerda, deveríamos nós mais nos preocuparmos é, sim, com a restauração da imagem do partido e o respeito a seus líderes e simpatizantes. Defender, sim, as conquistas, os avanços, mas não usá-los como escudo para esconder os erros e omissões gritantes. 

     

     

    1. Qual eh a questao de fundo,

      Qual eh a questao de fundo, caro JB Costa?

      Isso de “recuperar a imagem”por si soh ja delata a vontade de querer ser visto como algum impoluto, ou nao?

      Eh preciso perceber que quando se vai para uma batalha, e nesse caso me refiro ao exercicio do poder por meio da eleicao, muitos morrerao. Se a intencao eh se manter inalterado que o PT nao entrasse na batalha afim de nao perder ou mesmo alterar alguns dos seus preceitos.

      O ancronismo estah em querer forcar o PT a aceitar candidatura de Erundina pelo bem da chapa pura. Que que isso? Eugenismo a esquerda?

      Todo militante do PT deveria se abster de sonhar com a despoluicao politica devido a inalteravel condicao humana. O demonio estah sempre nos outros porque o mesmo surge dos nossos desejos de  enxergar o que nao somos.

      A RealPolitk nunca me pareceu tao util como nos tempos atuais. A tal politica de causas, como bem salientado pelo AA, estah acabando com o pais, pois a causa hoje eh destruir o legado do PT. Como se ve, essas causas sao como ventos e o ultimo deles nao eh nem tranquilo nem favoravel.

      1. As respostas a todas as tuas

        As respostas a todas as tuas indagações, caro Francy Lisboa, estão no meu comentário. Não irei me repetir, apenas reforçar.

        Tenho algum crédito para arguir críticas contra o PT e seus líderes. Detalhe: só o faço aqui, neste espaço mais gabaritado, onde se pode travar um embate de ideias num nível mais civilizado. 

        Sobre governabilidade: já defendi inúmeras vezes a necessidade do PT se valer de alianças políticas haja vista a pulverização de partidos e a práxis histórica nesse aspecto. O grande problema é que o PT(Lula) nunca soube, ou nunca quis, mesmo quando no auge do prestígio e num contexto (econômico, político e social) amplamente favorável se impor enquanto sócio majoritário, possuidor da maioria do “capital”. Ao contrário: ficou a reboque de chantagens e, como é o caso, olhando de cima, quase com desdém, para os indesejáveis companheiros de jornada situados à esquerda do espectro político. 

        O caso Maranhão talvez tenha sido o mais emblemático dentre muitos. 

        Mas até tudo mais ou menos. O pior foi simplesmente virar às costas, se omitir, com relação ao que faziam esses aliados, em especial o PMDB. Se não fosse o “São” Sérgio Machado, toda a Lava a Jato estaria no colo do PT. 

        Sei, política é pragmatismo. Mas tudo tem um limite, se não aparece outro “ismo”: o cinismo a fazer companhia ao vitimismo.

        O PT e seus líderes sofreram, e sofrem, a maior perseguição política já vista neste país. Isso nunca neguei. Entretanto, tal fato não pode, insisto, servir de biombo para justificar  erros crassos. 

         

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        1. Entendo JB, mas eu não me

          Entendo JB, mas eu não me refiro a justificar erros. Eu começo dizendo justamente isso, pois parece que os erros do PT são coisas novas, novidades. Alguém em sã consciência achava que não ter[íamos mortos e feridos durante o governo do PT? Esse é o ponto: a realidade dos fatos é a velha obviedade de que não há como qualquer entidade partidária impunhar a bandeira da ética durante o exercício do poder. Antes tudo bem, é jovial, é bonito, é instigante. Mas depois, bem depois…

  2. Esquerda “Peter Pan”

    Resiste-se em amadurecer e encarar a realidade. Como jovem que enamora anos sem a coragem nem a “responsabilidade” de assumir o seu relacionamento e casar com a noiva, muito menos ter 200 milhões de filhos e cria-los.

    O PT saiu da “estrela do nunca”, onde brincava de jovem idealista contra piratas e encarou o mundo real, com todas as suas dificuldades. Até a “sininho” foi para as manifestações de rua anos atrás (rs, rs, rs).  

    A esquerdinha infantil não perdoou ao PT- Pan pela sua passagem ao mundo adulto, embora este tenha tentado dar o seu exemplo. Vamos aguardar para o amadurecimento das esquerdas, que acho melhor que a nova infantilização do PT, pois aí sim que deixaríamos tudo nas mãos dos piratas mesmo.

  3. Clap, clap, clap, Francy.A
    A esquerda é recheada de discursos teóricos e fechados,; o discurso vasilina da direita leva vantagem.

    Porém, há que se ter um discurso ideológico exatamente para demarcar pensamentos,; no mesmismo a direita leva vantagem.

    Há que se unir a esquerda (povo unido jamais será vencido – Ex. Turquia); com fragmentação a direita leva vantagem.

    Recentemente o próprio PT se posicionou equidistante de Dilma; não foram poucas as críticas a este postura aqui no blog.

    Para concluir, pela minha observação, Dilma acendeu o pavio do golpe quando terminou por fortalecer, com a nomeação de a Levi, as posições da direita. A política de Levy enterrou o governo.

    Sem discurso que aponte a divisão ideológica, a direita, que tem a mídia hegemônica a seu favor, vence todas.

    1. por isto, Assis

      é que fiquei desanimado na entrevista do Cirão ao FLUXO: é CONTRA a Regulação da Mídia!

       

      Depois desta #MidiaBandida ser o aríete imprescindível – em seu trabalho diuturno de desmoralizar a esquerda e a centroesquerda do PT, com ilações, mentiras e perseguições fascistofarsescas, me vem o Ciro e se diz CONTRA o ponto um do Brasil tentar adentrar um Regime Democrático REAL: uma mídia regulada, não este infame oligopólio fascista de direita/ultradireita…

       

      Ah, nem…

       

      🙁

    2. O PT não é mais de esquerda,

      O PT não é mais de esquerda, Assis Ribeiro? Afinal, qual a ideologia do PT, hoje? Em que esse partido se transfigurou?

      A pergunta é retórica porque sei a resposta: o PT virou um ser informe em termos doutrinários. Qualquer chapéu lhe é cabe na cabeça: esquerda, direita, centro, centro-esquerda……..Eis a verdade(pelo menos no meu ponto de vista) que incomoda tanto. 

      Quanto a questão Levy: o “golpe” parlamentar nada teve a ver com a nomeação desse ministros e sua política econômica ortodoxa.  Viria com ele ou sem ele. 

       

       

      1. discutindo sinal de trânsito?

        Não quero nem saber sobre esquerda ou direita, analogia trazida desde a formação das bancadas na França, há muitíssimos anos.

        Aqui não deve haver dúvida, pois existem duas opções principais para este país: Ou lutamos por uma nação independente, desenvolvida e justa socialmente, ou nos entregamos ao mundo neoliberal. O resto é conversa de professor em boteco.

  4. “Por que soa tão absurdo

    “Por que soa tão absurdo admitir que o Estado deficitário como o Brasil não pode nos prover de forma eficiente com tudo que desejamos? É o medo do pecado original? De ser persuadida pela serpent malévola do mais-valia? É essa esquerda que quer reinventar os outros?”

    A questão é outra, não essa. A questão é que sem um estado forte jamais sairemos da nossa condição de país subdesenvolvido. Aliás, deveríamos nos lembrar que a grande questão para o Brasil ainda é superar o subdesenvolvimento. As pessoas esqueceram-se disso e discutem nossa política como se tivéssemos as mesmas opções de quem vive nos EUA, nossa única diferença seria que temos um pouco menos de dinheiro que eles. Nada mais errado. A diferença de renda não mostra o tamanho do atraso que temos que superar em termos de organização social e tecnologia, entre outros campos.

    Outro ponto a ser levantado é que a crise atual não é bem uma crise da esquerda, mas sim uma crise do lulismo, crise essa que surge à medida em que o lulismo mostra que seus limites são estreitos demais para resolver nossos problemas, justamente por não ter entendido o ponto anterior que mencionei. O tipo de liderança que precisamos ter para superar o subdesenvolvimento tem que ir além de onde o lulismo foi, do contrário não atacará os problemas estruturais brasileiros de concentração de renda e propriedade, apenas para tocar em um ponto ainda que central. Infelizmente, desde a morte política de Brizola, não há uma liderança nacionalista no horizonte político brasileiro capaz de ter este tipo de visão.

  5. quem mais tem culpa?

    Realmente é irritante o tom professoral da esquerda, com sua cara de “não falei?”

    O PT bem que poderia devolver a cobrança a esta esquerda: o que fizeram contra a ofensiva da direita acusando o PT de obstinado para o crime? Bem que pegaram carona no discursinho mal intencionado, achando que poderiam alargar suas bases caquéticas.

    Se se dispusessem a enfrentar o massacre nas conversas com seus conhecidos, em lugar de se confundirem com os falso moralistas, talvez tivessem reduzido danos. Agora só se preocupam em repassar sua culpa; 

  6. Concordo totalmente que esse

    Concordo totalmente que esse papo de “refundação ética” é um saco. Nunca me iludi com esse negócio de “bandeira da ética” que o PT ostentava. Não é para “não roubar” que um partido de esquerda chega ao poder. Não discuto política nesses termos, “fulano rouba, fulano não rouba”.

    Isso é a velha armadilha da direta, para todo sempre udenista, para derrotar a esquerda. Comparando os programas de governo lado a lado, não tem como ganhar eleição. Tentaram com o pig metralhando escândalos em véspera de eleição. Perderam em 2006, 2010 e de novo em 2014. Por isso desistiram de eleição e deram o golpe.

    Para mim o grande erro do PT foi não ter se preparado para o momento em que a direita desistisse de eleição. Acomodou-se nas vitórias, na popularidade do Lula e no reconhecimento internacional. Foi presa fácil da burocratização consequência da inércia de ser governo por tanto tempo.

    Não percebeu que precisava dar passos adiante, para realmente consolidar a mudança. A democratização da mídia sendo o mais importante de todos. Com ela poderia haver uma reforma política em seguida, fruto da educação polítca da população pressionando o parlamento, que obivamente jamais poderia ser esse, se tal educação tivesse havido

    1. A obsessão com a tal “democratização da mídia”

      Essa mania de achar que a causa da derrocada do PT foi não ter feito a tal democratização da mídia é um resquício da antiga pretensão da revolução cultural, quando os intelectuais achavam que iam ditar aquilo que o povo devia acreditar. Pois bem, na Argentina a mídia foi democratizada. Adiantou?

      É tolice achar que o povão lê editorial de jornal e assiste noticiário de TV. Quando o povão liga a TV, é para ver novela. A mídia só influencia quem tem um nível intelectual mais elevado, e sobretudo, quem quer ser influenciado. E tampouco o povo dá pelota para corrupção, desde que o político roube, mas faça. Note bem: a mídia vem denunciando a corrupção desde 2005, e o PT venceu três eleições desde então. Mas quando a prosperidade acabou, o povão deu as costas. Por isso é inútil discutir se o impeachment foi ou não produto de um golpe de estado; tenha ou não sido, o fato é que o povo não saiu às ruas para defender o mandato de Dilma, e assim deu respaldo implícito ao afastamento dela.

      Quem derrubou o PT não foi a mídia, foi a economia.

  7. As esquerdas e o brasileiro existente.

    Existe um problema de fundo nas esquerdas brasileiras: não têm votos, para além do PT, capazes de vencer um pleito eleitoral majoritário.

    O PT foi e é o partido que entendeu a formação sociocultural dos brasileiros, em sua grande maioria, individualista, desinformada e consumista. Ajuntado a isto uma religiosidade cristã conservadora. O Papa Francisco é novidade, antes tínhamos o Papa João Paulo II e o Papa Bento XVI dando um viés mais voltado ao espiritual e não um trabalho de união espiritual e social.

    Opus Dei, Renovação Carismática Católica, Neopentecostais, Universal & Cia. certo? Estavam, ainda estão, no centro da religiosidade brasileira. A Igreja Católica está em um processo inicial de renovação, inicial, certo?

    A preocupação com o social não foi nem é uma bandeira dos brasileiros. Temas como desigualdade, Justiça Social, distribuição de renda, temas culturais, temas ligados à formação de uma identidade cultural nacional, etc. “desligada está a chavinha” de nossa sociedade.

    Pensemos, como exemplo, na Literatura e um Projeto Nacional de criar uma Identidade de nosso povo, de criar um conceito de Nação, de Brasil inexiste, praticamente. Falamos em Literatura Francesa, em Literatura Inglesa, em Literatura Russa, em Literatura Italiana, etc. no Brasil falamos de autores, Gonçalves Dias, José de Alencar, Machado de Assis, Aloísio de Azevedo, etc.

    O Brasil não buscou sua identidade, seu Projeto de Nação. As elites nacionais sempre foram mais cosmopolitas e sonham até hoje fazer parte da Nação símbolo do “Imperialista de ocasião”. Inglaterra, França, EUA. Olhamos para fora. Pouco importou a pobreza, a ausência de uma reforma agrária, as ocupações de morros e encostas nas grandes cidades, as favelas, os moradores de rua, a fome, etc.

    Somos individualistas, desinformados e conservadores.

    O PT não inventou esta característica individualista, desinformada e conservadora dos brasileiros. Vem de muito antes, desde a colonização.

    Não dá para dissociar o brasileiro que temos da realidade atual.

    Você tira o País do Mapa da Fome mundial e a população não se vê orgulhosa deste feito. Talvez, nem se dê conta desta vitória. Incluso, aqui, boa parte das esquerdas não petistas. Muitos esquerdistas queriam estar no lugar do PT nesta vitória, se não estou procuro “pelo em ovo” para não perder a chance de ser “eu” o protagonista. Este é um exemplo para mostrar como o individualismo está acima do coletivo na sociedade brasileira.

    Todo o bom esquerdista já participou das assembleias estudantis, e dos arranca-rabos para ver qual é a proposta mais plausível para uma determinada situação, qual a chapa que será vencedora do DCE, etc.

    Todos se dizem “socialistas”, mas não socializam a Luta, nem a busca coletiva de um “bem maior”: o social. É a minha corrente que tem de vencer e ponto final. Meu Projeto e não a realização dele. Muitas das vezes impraticáveis.

    No Brasil, se não fosse o PT jogar o jogo, nós teríamos saído do filme da direita no Poder e adentrado na possibilidade de ascensão e inclusão social de mais de 40 milhões de brasileiros, de inclusão nos estudos técnico-universitário de milhões e milhões de brasileiros e brasileiras? Antes alijados no universo estratificado da “Casa grande & Senzala”, tão marcante nos tempos pré-PT no Governo Federal?

    Do que adianta um discurso purista ao extremo se na hora da Eleição por já 3 legislaturas o PSOL, por exemplo, só consegue eleger 5 deputados federais? Que mudança social se faz com 5 deputados num universo de 513 deputados?

    Não devemos pensar que discurso o brasileiro gosta de ouvir? Está-se sendo possível outro discurso para além do da corrupção como indutor de nosso diálogo com a sociedade?

    Como afinar um discurso com a sociedade sem que se distancie do que ela quer?

    Precisa-se olhar para dentro de si mesmo e descobrir a direção que aglutina.

    O PT embaralhou o jogo, este é um mérito dele. Fez a direita brasileira se tornar um amontoado de desesperados em busca de se salvar do enforcamento, o mesmo enforcamento que tentam produzir em Lula e Dilma e não se consegue (só na base da Ilegalidade Jurídica).

    É muito fácil acusar, difícil é fazer a transformação seguindo o fluxo da realidade concreta e da “personalidade” dos brasileiros.

    Corrupção se inventa, se aumenta, também. Ninguém está imune de ser colocado na roda da corrupção no Brasil do oligopólio midiático capitaneado pela Rede Globo, todos nós sabemos.

    O puritanismo de partes das esquerdas nos legou Michel Temer.

    Não houve a sonhada Revolução Social de PSTU e PPL. Ouve é o silêncio sepulcral da população média brasileira.

    O brasileiro, em sua grande maioria, só sai de casa se for alimentado pela velha mídia, em especial a Rede Globo, e mesmo assim, um público restrito e concentrado nas classes média e médio-alta tradicionais. O povão quer saber de trabalhar e não muito mais que isto.

    A juventude tem passado ao largo da Política institucional. Manifestações da esquerda contra o Impeachment têm como público: a intelectualidade, os formados de universidades de décadas anteriores a esta, sindicalistas e militantes dos movimentos sociais, a massa dos trabalhadores brasileiros não está nem no grupo pró-impeachment e nem contra o impeachment da Presidenta Dilma.

    Iremos discutir se a inclusão social promovida pelo PT foi baseada no consumo foi correta?

    Ou será que é da própria formação sociocultural dos brasileiros, por décadas: americanizada, a valorização do consumo de coisas em detrimento de valorização da Cultura e seus tentáculos ligados a um Projeto de Nação e desenvolvimento social coletivo?

    Eu penso que as esquerdas não podem dissociar o “brasileiro e seu modo de Ser” da discussão de que Brasil queremos e como implementá-lo, para que não se perca a possibilidade de dialogar com a sociedade que temos, com o brasileiro que existe no mundo real e não na vontade de nós: os “revolucionários”.

    Teorizar o mundo é fácil. Requer apenas ideias, quem sabe, um gravador para difundir o teorizado via voz ou teclas para difundir via textos escritos. Isto eu faço daqui do meu computador agora, todos nós fazemos.

    Agora, a realidade prática vai além do computador, da sala de ar-condicionado, dos livros.

    A realidade é o CPTM lotado às 6 horas da tarde, é o shopping center: a praça de alimentação e o cinema que o brasileiro adora ir no domingão e o smartphone última geração para a selfie mais divertida com os amigos.

    Enfim, se as esquerdas vivenciarem o mundo da Teoria, a direita deita e rola. Ser puritano e acreditar que o brasileiro quer ser socialista, quer divisão igualitária de bens, quer ser importunado/impedido ao/de ter o anseio de chegar ao ponto de ter um iate… Não vai trazer a solução eleitoral almejada por nós.

    Sendo realista. O trabalhador se puder escolher vai querer ser “burguês”, também.

    Esta é a dura realidade que precisamos encarar. 

      1. Walter!

        Fico feliz que gostou.

        Precisamos polemizar um pouco mais. 

        E ter em mente que a direita não acena contra o fim de eleições diretas, não dá Golpe, não quer a “caveira” do Lula de graça. É que o “lulismo” que dizem ter acabado, pensei neste ponto agora, continua vivinho da silva. 

        O brasileiro gostou do “lulismo”. E, parece que aos poucos Lula volta a ter um horizonte – 2018. 

        Este é o grande medo da direita e das esquerdas que sonham substituir o legado de Lula, a volta dele, imprimindo a marca nova e distante do lulismo. 

        Lula e seu Projeto de Nação independente, porém, inclusivo e de inserção do Brasil na Globalização como protagonista e de inclusão e ascensão social de todos os brasileiros.

        Talvez, as esquerdas se ressabiem do fato de ser uma inclusão na globalização e a direita o fato de não ser uma inclusão seletiva. 

        Lula embaralhou o Brasil. 

        Abraço!

        Alexandre. 

        1. Excelente e ilustrativo comentário, Alexandre!

          agora, me diga uma coisa – voce que tão bem  interpretou o Lulismo e afins: vc já acompanhou/acompanha o PCO do Rui Costa Pimenta? Se sim, o que vc me diz deles?

           

          minha saúde não tá 100% e eu queria continuar a ACREDITAR no futuro, como tão bem nos propos o Lula-1 – que nos tirou da DEPRESSÃO fhciana. Enfim…

           

          Abraço!

          1. Under!

            Valeu por gostar do comentário!

            O PCO é um partido que amadureceu e com uma visão global. Enxergou o Golpe desde o início. E, também, não fez o discurso oportunista de dar a mesma nota para PT e PSDB, por exemplo. Claro que são totalmente diferentes suas administrações e resultados. 

            PSTU e PPL, e, parte do PSOL são partidos que vivem uma Revolução possível nos manuais, não na prática cotidiana do povo brasileiro. 

            Não somos a Turquia. O brasileiro não é, em sua grande maioria, ativo, é apenas reativo. 

            Um pacto de Dilma com a Globo e não teríamos este processo todo. Esta é a realidade nua e crua.

            Apesar de  os “coxinhas” terem certa independência, eles precisam de um pavio aceso. E o pavio do ódio foi aceso e os levou para as ruas, ai já sem precisar da Globo para dizer o que fazer. 

            É a independência, penso eu, desinformada. Estar ao lado do pato da Fiesp, por exemplo, e pedir o fim da corrupção “petista”, do “empresário” que não tem empresa, dos maiores sonegadores do País, só o faz quem é desinformado.

            E muitos desses foram manipulados nas suas ideias pelos meios de comunicação hegemônicos. Viram a vida deles melhorar, o salário aumentar 5 vezes ou mais com o PT e, agora, podem jogar tudo pela janela, sem Miami, sem nada por tempo indeterminado. 

            O Projeto neoliberal de Temer não prevê renda capaz de alimentar a cadeia de consumo que possibilite ir muito além do Gaurujá, como foi por décadas, bem sabemos, quando apenas as elites viajavam de avião e iam para o exterior. 

            Sou filho de classe média, médio-alta tradicional, este é o meu mundo, e sei o que a gente fazia nas férias. Ia pro Litoral, enquanto o povão ficava em suas casas na periferia. Avião, uma vez ou outra. Viagens para o exterior eram solitárias, ou seja, o filho solteiro juntou grana por anos e ia, não a família toda. 

            Quando se conseguiu ir além do “sempre igual” se deixou levar pela mídia e voltaremos ao habitual do trabalho o ano inteiro e férias no Guarujá. 

            Em outro lugar com uma população menos alienada nunca mais se voltaria ao passado dessa realidade que exclui quase todo mundo, só havendo a diferenciação de ir ou não para a praia nas férias e de colocar os filhos em escola particular, hoje, nem sei se será possível, de tão radical que vem o ultra neoliberalismo dos golpistas. 

            Abraço,

            Alexandre!

    1. O intelectual pensa que é o povo

      O problema do intelectual é que ele se convence tanto de que fala em nome do povo, que fica surpreso quando vê que está falando sozinho e o povão mesmo não está nem aí. Repete suas divisas tantas vezes que acaba acreditando nelas, e então surpreende-se, como bem colocou o autor do post acima, quando o povão não mostra orgulho por haver o país sido tirado do mapa da fome. E por acaso antes de 2002 a população vivia faminta? Melhora houve, mas nem de longe tão grande quanto vocês se autoconvenceram. Essa retirada do mapa da fome é apenas uma manipulação de dados estatísticos: as fronteiras do tal mapa são ardilosamente colocadas no limiar, coisa semelhante ao que foi feito para demonstrar que o Brasil agora era um país de classe média, bastando para isso declarar que classe média é qualquer família com renda maior que mil reais. Outra coisa é a tal de inclusão de milhões em cursos técnicos e universitários.

      O que ocorreu de fato nos anos do PT foi um notável aumento do poder de consumo das massas trabalhadoras, e foi graças a isso que o PT obteve o apoio que lhe permitiu vencer quatro eleições: o que o povo quer é consumir. Quem gosta de socialismo é intelectual, o povo gosta é de celular, TV, geladeira. Mas esse aumento do poder de consumo foi o produto de um longo trabalho desde o Plano Real, que acabou com a inflação que inviabilizava compras a crédito de longo prazo, e passou pelo boom das commodities na década passada. O PT surfou nessa onda enquanto deu, mas quando a prosperidade acabou, o povão retirou seu apoio. É ilusão achar que foi a mídia que fez o povo abandonar o PT, pois o povo não está nem aí para a corrupção desde que o político “roube, mas faça”. Em 2006 a mídia já vinha denunciando o mensalão e isso não impediu o PT de vencer a eleição. Foi a economia que derrubou o PT. Simples assim.

      1. o sr só se esqueceu

        de que, qdo Lula pegou o barco afundando do FHC o plano Real já tinha se acabado há tempos…

         

        Lula, com o arrocho dos primeiros 2 anos de governo foi quem recuperou a situação.

        O resto é conversa de viúva de FHC/PSDB.

        1. Não só não tinha acabado…

          O Plano Real não só não tinha acabado, como Lula manteve a macroeconomia herdada de FHC, o que garantiu a estabilidade e o bom desempenho da economia em seu governo. O arrocho dos dois primeiros anos foi a consequência de uma crise de confiança dos mercados, que só acabou depois que os investidores se convenceram de que Lula não ia fazer aquelas doideiras que havia prometido no palanque em outros tempos.

          O Plano Real só começou a ser desmantelado após ao anúncio da Nova Matriz Econômica, ainda no segundo mandato de Lula, mas que só foi implementada mesmo por Dilma, com os resultados que todos conhecemos.

  8. Só não concordo com uma coisa

    O fim da estabilidade para o servidor público.

    Passar a defender isso só pra se igualar à Direita, evitar temas espinhosos por medo do espinho e pra “arejar” o discurso – com esse governo que aí está? Com esse Parlamento prostituído e essa Justiça descaradamente parcial? Pois se todos não hesitaram em derrubar uma presidenta reeleita na mão grande, o que não fariam com um servidor público que denuncie o golpe?

    Essa ideia é muito boa pros golpistas, e é jogar os servidores público que se posicionam contra o golpe automaticamente na demissão…

    Ou vocês acreditam na magnanimidade, na ética e no discurso de “respeitar as diferenças” do Temer, Eliseu Padilha, Aécio, Serra, Cunha, Aloysio Nunes, Caiado, Paulinho da Força, Gilmar Mendes & cia?

  9. A esquerda ‘pragmatica’ é um fracasso retumbante.

    A questão não é moral ou de moralismo, é pragmática. Sob o ponto de vista ‘pragmático’ o PT foi um retumbante fracasso. Não precisa ser professor para perceber o óbvio, basta não ser um fanático que transforma o pragmatismo em um principio. Não exergar os fatos não é tomar café puro nem com leite, é ainda estar dormindo. 

    Porque não adotar pontos dos programas de direita ou adotá-lo integralmente mantendo o nome de ‘esquerda’? Por um motivo ‘pragmático’, a direta faz isso melhor. Quando a esquerda tenta ser direita, fracassa sob todos os pontos de vista: não consegue nem levar adiante e manter pontos de um programa de esquerda nem levar os de direita até a sua conclusão. e acaba sendo tirada do poder, por golpes ou por eleições. Acaba se engasgando com o café com leite. Afinal se é para fazer o mesmo que a direita, porque não deixá-la ou colocá-la no poder? Pelo menos a direita pratica seus princípios e não cede ‘pragmaticamente’ a esquerda.

    Quando o PT foi mais ‘pragmático’ adotou o discurso do ‘equilibrio fiscal’e pingou mais leite no café, não consegui levar adiante nem politicas de esquerda nem as de direita e foi apeado do poder pelo golpe. Veja o que está acontecendo com o ‘pragmático’ Partido Socialista de Hollander na França, ou a que levou o ‘pragmatismo’ dos Blaristas no partido trabalhista inglês, o Partido Social Democrata alemão que depois de um governo ‘pragamático’ deixo a CDU no poder a quase duas décadas.Tomaram tanto café com leite que acabaram escondidos no banheiro com diarréia um tempão.

    O PT com todo seu pragmatismo,fracssou politicamente de forma desastrosa. Conseguiu ter uma presidente eleita tirada do poder por um golpe sem que fosse preciso dar um tirinho sequer e com as FA dormindo, algo inédito no Brasil. Um golpe dado pelos mesmos com quem tomava café com leite todas as manhãs em nome do pragmatismo. E o pior de tudo: foi incapaz de mobilizar a maioria da população contra o golpe, de ter a maioria da população ao seu lado. Ao contrário consegui ter a maior manifestação pública da História do Brasil a favor do golpe.

    1. Diga-me voce, qual seria

      Diga-me voce, qual seria saida? A do deixa que eu chuto, como faz Erundina e a esquerda que quer reinventar os outros?

      Fracassou politicamente? O PT se manteve no poder mesmo sendo odiado pelo establishment. Voces tem que chgar a um acordo. Ou o PT nao soube ser pragmatico ou parem de dizer que ele se entregou ao pragmatismo. Afinal, pragmatismo eh bom ou eh ruim? Eh melhor ou pior do que a estrategia sempre salvadora da esquerda que faz coro com o jornalismo da globo quando lhe convem?

       

       

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