Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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“Agricultura sem Nome”, Dibujos II, por Rui Daher

Dibujos

“Agricultura sem Nome”, Dibujos II, por Rui Daher

Penso começar a escrever um novo livro. Não será uma compilação dos artigos que venho publicando sobre a atividade agrária, embora certos textos mereçam inclusão. Título: “Agricultura sem Nome”. Não simpatizo com os inúmeros qualitativos que, hoje em dia, formam-se como penduricalhos modernosos a dar-lhe proeminência já intrínseca, com virtudes e defeitos.

Devido à abrangência necessária e à perspectiva recorrente de finitude, não creio ser este o meu segundo livro. Mais provável o último, após o “Dominó de Botequim” (dezembro de 2016, Edição do Autor), de crônicas independentes, publicadas durante alguns anos em Terra Magazine e GGN dos jornalistas Bob Fernandes e Luís Nassif, respectivamente, e colaborações especiais dos amigos Luiz Fernando Juncal Gomes e Manoel Mendes Vieira.

Sem apoio de editora, o livro vendeu (alguns saíram “no Vasco”) 600 exemplares de banca caseira. Graças a caridosos amigos, financeiramente empatei. Pareceu-me razoável em tempos de economia destroçada.

Colaboraram amigos de CartaCapital, citados no próprio livro, e serviram de impulsos o prefácio do jornalista, escritor e bandolinista Luís Nassif, e a carinhosa contracapa do publicitário, escritor, roteirista, mágico e escultor Márcio Alemão, que galhofeiro como eu sugeriu subtítulo: “não precisa ler, basta comprar”.

Até lá, cerca de 20 anos publicando textos esparsos nas impressas e digitais. Mesmo não sendo ou me considerando jornalista, dá-me orgulho quando assim me tratam.

Possível terem visto em meus artigos espécie de contra manada bem-humorada. Causos passados em andanças sertanejas, opiniões políticas nunca disfarçadas e nem sempre convergentes com as dos leitores. Para uns, valeu a pena considerar; outros preferiram descartar como fosse esquerdopatia. Ambos me divertiram e fizeram manter a trilha da escrita.

Pois bem, até aqui, tudo o que escrevi sobre a atividade agrária veio de leituras e de percepções obtidas no trabalho junto ao ambiente rural. Uma “Misturada” que remete à composição do maior percussionista brasileiro, Airto Moreira, hoje radicado nos Estados Unidos, mas, entre os anos de 1966 (formação) e 1969 (dissolução), pertencente ao “Quarteto Novo”, excelência soberana na música brasileira, junto a Hermeto Paschoal, Heraldo do Monte e Theo de Barros. Apesar de ter gravado apenas um LP (Odeon, 1967), em mais de meio século, continua cultuado no país e fora dele.

Amigos perguntam: “Por que não escreve um livro sobre a sua atividade agropecuária e viageira, afinal são 43 anos nisso? Poucos trataram do tema com o olhar das ciências sociais, obtido da prática e dos Barracões da USP. Poderia unir segurança alimentar, preservação ambiental, tecnologia e seus efeitos sobre o trabalho rural, a danação política na salvação de regiões desassistidas do Brasil, capitalismo planetário em transição e transgressão, por aí”?

Medo seria a resposta mais digna e sincera. Prefiro desculpas: falta de tempo e talento, incapacidade de abrangência e aggiornamento para pesquisas mais profundas, acesso a estatísticas e inovações, comparações externas.

O patrimônio que tenho despenca de estantes em quatro locais diferentes e a memória das viagens que me fizeram reconhecer regiões, atributos culturais dos homens, mulheres e crianças que sobrevivem das mais de cem lavouras plantadas em nossas terras.

Como é costume, hoje em dia, não poderia reduzir “Agricultura sem Nome” às vocações e aptidões do país ou às nossas características edafoclimáticas, de solos, bacias hidrográficas, sementes, tratamentos, manejos e colheitas que nos fazem supor “potência mundial”.

Haveria que ampliar diversidades e mazelas antropológicas, sociológicas, políticas e culturais. Não seria, pois, tarefa fácil. Pudesse escapar dos triques-triques do trabalho diário ou desfrutar períodos sabáticos, até ousaria, mas não sobreviveria. Não aufiro soldo como o fazem generais e capitães reformados. Será que antes das reformas pedem orçamento?  

Peço, porém, que se o livro for publicado impeçam Jair, Mourão, Ronaldo e seus Lobões em Ovelhas Caiados, joguem-no na fogueira descrita pelo escritor norte-americano Ray Bradbury (1920-2012), em “Fahrenheit 451” (1953), cena reproduzida no filme dirigido por François Truffaut, em 1966.

https://www.bing.com/videos/search?q=quarteto+novo+misturada&qs=n&sp=-1&ghc=1&pq=quarteto+novo+mist&sc=0-18&sk=&cvid=3C28A284BD364FF9885D12F3B24F806F&ru=%2fsearch%3fq%3dquarteto%2bnovo%2bmisturada%26qs%3dn%26form%3dQBRE%26sp%3d-1%26ghc%3d1%26pq%3dquarteto]

[video:https://www.bing.com/videos/search?q=quarteto+novo&view=detail&mid=3D007797C17F3A9F34D23D007797C17F3A9F34D2&FORM=VIRE

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

7 Comentários

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  1. Esquerdopatia

    Caro Rui,

    Um trecho do seu artigo, “Para uns, valeu a pena considerar; outros preferiram descartar como fosse esquerdopatia. Ambos me divertiram e fizeram manter a trilha da escrita” me remeteu à Presidente Cristina Kirchner que, nesta semana, falou que precisamos de novas categorias para classificarmos posições políticas: esquerda/direita não dá mais.

    Concorde plenamente com ela e vi isso nas entrelinhas desse excerto do seu artigo.

    Como é possível- ao defender o pré-sal, a Petrobrás, a Embraer, os minérios, a Amazônia, a agricultura familiar (que põe nas nossas mesas 70% dos alimentos que consumimos), etc., etc., etc. – ser chamado de esquerda e demonizado?

    E como é possível fazer o contrário e ser, simplesmente e apenas, ser chamado de direita?

    Sei que estão querendo revogar a revolução francesa, mas que venham. Parece mais um canto de cisne da… (aí é que não vem a palavra certa!).

    Sei não, mas talvez a resposta esteja no que emerge da visão de pessoas como o artista de rua Eduardo Marinho, antes que o deformem. 

    Sei não ainda, mas se eles querem ir tão fundo na anulação do processo civilizatório, bem que poderia lhes ser atribuída uma categoria do passado, em contraposição a uma atual para o outro lado.  Tipo um corte paradigmático temporal, como fazem os grandes artistas. Tô indo no sentido do que falou a Kirchner?

    1. BIPOLARIDADE ESQUERDOPATA

      Caro Anabi, a bipolaridade apresentada no seu comentário sintetiza aquilo que é o Brasil nestas 9 décadas. O tal Nacionalismo que você defendeu, que inclusive Lula defendeu em seu Governo, nunca foi prática política nem da Esquerda nem de Esquerdopatas. Aliás, toda esquerda mundial é antagônica a Nacionalismo. Nos casos citados de Riquezas e Empresas Brasileiras são bandeiras dos Governos Militares, o que aumenta ainda mais a bipolaridade tupiniquim. Usar de tamanha riqueza de forma plural produzindo bens e capital é a base do Capitalismo. Você quer produzir bens e capital, transformando a condição social dos Brasileiros sendo conduzido por Esquerdopatas? Primeiramente precisamos tratar desta Bipolaridade, então compreenderemos nosso país. Ou continuaremos como estes 88 anos. abs. 

    2. Anabi,

      Com a mesma crueldade da direita militarista que aqui comenta, Cristina foi injustiçada (talvez, um pouco menos – os argentinos não estão nem conseguindo decidir a Libertadores) como Lula e Dilma. Gosto do que ela diz e você nos reproduz.

       

      Abraços

  2. “DO POVO, PELO POVO, PARA o POVO”

    Caro sr., o ranço esquerdopata está lá. Marca indelevel de uma geração que nasceu e morreu nos anos 60. E não se livra deste período, mesmo em contas poupudas e abastadas. Seus Salários, Cargos, Influências e Amizades financeiramente estratosféricos, mesmo assim, não os permitem enxergarem como Elite. Elite é sempre um outro. Uma ‘Lenda Urbana’ que gravita no Imaginário Tupiniquim. Sabemos que encontaremos. algum dia em ônibus lotado, Dr. Walter, Ariano, Melodia ou Diretor de MultiNacional que se torna Empresário (‘Gente Comum’. Gente como a gente), enquanto pratica o AntiCapitalismo Acadêmico. Quase uma obrigação institucional até 2013. O Brasil dos pós-Golpe Ditadorial Caudilhista Fascista Assassino de 1930 é o Estado Absolutista que engessa, burocratiza e criminaliza qualquer iniciativa da Sociedade Civil (como havia até 1930) levando cerca de 30 a 40% das Riquezas Nacionais em Impostos, enquanto consome em Salários e Benefícios de Elite de Classe Pública, de 90 a 130% do Orçamento. O que resta, gastamos em Carimbos, Cartórios, Pedágios e Taxas. Mas o problema nacional devem ser os Brasileiros, que praticam sua Função Social, Econômica e Financeira, por exemplo na Agropecuária, que resulta em grandes méritos, como Empresas do Setor iguais à JBS ou Milhares de Sitios e Fazendas espalhados por Continental Nação, tentando sobreviver no meio da carnificina. Fica evidente porque Operações Policiais e CPI’s são da JBS, Odebrecht, Grupo X. Mas nunca CPI do Temer, do Aécio, do Lula, do Picolé…O Estado Absolutista de Feudos, Capitanias Hereditárias, Corporativismo, Sindicalismo Pelego e Ditadura de Federações como OAB soube se preservar nestes 88 anos. Mas Elites. sabemos, são os outros. Quanto ao Livros, não falta interesse. Pelo contrário, existe um desespero por Saber. Faltou sim comunicação e divulgação. Como fazem por exemplo, com suas Filosofias de Auto-Ajuda, Pondé, Cortella, Tiburi,..Precisamos mais de Conhecimento sobre nossa Nação e a mais eficiente e melhor forma de Ocupação do Nosso Território ou de Filósofos que nada costruíram na Filosofia, fora filosofar a Filosofia os outros? De muito filosofar e pouco trabalhar e desenvolver estamos nesta paralisia por quase 1 século (País de muita Ciências Sociais e pouca Engenharia). Andemos. E para frente. Andanças são capitais. abs.   

  3. Bom fim de semana, em boa companhia!

    Rui Daher faço parte daqueles que não compraram o Domino de Botequim. Mas espero poder fazê-lo. Não sei se posso encomendar em livrarias. Aqui a boa livraria lusofona na Place de l’Estrapade tira a nossa pele toda vez que encomendamos um livro brasileiro… Logo, espero a proxima ida ao Pais dos Bruzundangas para voltar com mala pesada de livros. Lima Barreto corretissimo, hein?!

    Quanto ao teu proximo livro ser queimado. O que hoje para impossivel, amanhã, vista a distopia geral, é provavel. A pediatra de meu filho, uma senhora de origem hungara, me disse: o mundo esta repugnante. 

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