Como salvar o amor na crise de grana, por Xico Sá

Sugerido por Odonir Oliveira

Do  El  País

Como salvar o amor na crise de grana

A reforma fiscal na vida do casal é mais difícil que cortar no osso de retirante de quadro do Portinari. Tudo que tem amor no meio é mais doloroso

Por Xico Sá

Ele vai à feira e diz que não comprou o mamão papaia da amada porque estava os olhos da cara. Ela diz que sem o milagroso fruto não resolve uma das maiores questões da enfezada humanidade: a prisão de ventre. Ele vibra: o papel higiênico anda um horror de tão caro. Tudo pela economia no lar doce lar.

É apenas um episódio do “Casal na crise”, tirinha de humor criada e publicada por Helder Santos e Camilla Loyolla nesta página do Facebook. Ele, pernambucano, é desenhista e escritor, autor do romance “Raiar”. Ela, paulistana, assistente de direção de filmes e programas de tv. Os pombinhos, ainda sem herdeiros, habitam a cidade de São Paulo, SP.

Sim, preocupado leitor, a reforma fiscal em casa são outros quinhentos. Falo em casa de classe média-média. A nova classe C, que entrou recentemente em novíssimos costumes nunca dantes, corta com mais facilidade, a memória da carência e da carestia ajuda a saber como a vida é e como a vida era antes de pegar o elevador social etc.

Se bem que é sacanagem, seu Quinca Levy, mal provaram o gostinho… Talvez seja mais difícil ainda, talvez. “Acontece com as melhores famílias do Morumbi”, pensará o Quinca mãos-de-tesoura. “I love Paraisópolis”, diria o amigo jornalista Paulo Francis, vivo fosse, com um Butantã inteiro escorrendo pelo canto da boca charmosamente torta.

Maracanã X Cinema

Cortar na vida do casal é uma comédia. Seja mamão, papel higiênico ou a cesta básica do entretenimento. Outro dia, aqui em Copacabana (ai de mim, Copacabana), ouvi no bar e restaurante “Príncipe de Mônaco”, um papo firme sobre o mesmo tema:

“Você exagera com o Flamengo, esse Maraca está comprometendo o orçamento”, diz ele, cara de bom moço, tipo intelectual fofo, rapaz da geração Los Hermanos, 30 e poucos anos.

 “Você não sai do cinema e muito menos da livraria, vamos rever essa parada!”, diz ela, vestida com uma camisa vintage do Zico.

Ele nem ai para futebol, apenas uma simpatia distante pelo Botafogo. “O Bota tem um certo existencialismo… Jean-Paul Sartre, o filósofo, era Botafogo”, juro que lembro do moço dizendo mais ou mesmo isso, mais ou menos.

Cortar na vida do casal é mais difícil que cortar no osso de retirante de quadro do Portinari. Tudo que tem amor no meio é mais doloroso. Este cronista economicamente inviável que vos escreve, por exemplo, jamais cortaria o luxo da namorada, mesmo ela ganhando muito mais que eu. Sou da escola do macho-jurubeba, aquele que sempre diz, diante de qualquer dificuldade: “O que você me pede chorando, eu faço sorrindo”.

Não há meta fiscal no amor.

Minha religião é o agrado. O agrado à mulher que amo. Mesmo aquela mulher que sequer sabe-se amada. Seu Quinca Levy, meu velho, nesse critério, sempre estouro o orçamento. Haja rombo. Lembro bem meu primeiro cheque sem fundo: ainda foca, morador de pensão no Recife, fiz a graça de levar uma paquera, até prove em contrário a mulher da minha vida àquela altura do devaneio, para almoçar no “Leite”, o mais antigo restaurante do Brasil, aberto desde 1882.

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Redação

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