Por Rui Daher
*Patrocinado por Estampas EUCALOL
– Pestana, com o Nestor ainda convalescendo da golfada na testa que tomou na última entrevista, penso em ir sozinho à próxima. Você se incomoda?
– Claro que me incomodo! Não será com a prefeita Erundina? Votei nela e continuo seu admirador. Se quiser, me livre do Russomano.
Aqui uma explicação. A etiqueta política e da meritocracia brasileira manda que na presença de antiga autoridade de Estado nunca a mencionemos como ex-ministro, ex-governador, ex-o-que-tiver-sido. Mesmo que não tenha ficado mais do que alguns meses no cargo e ocorrido 60 anos atrás. Equivaleria dizer: “você não é mais nada, ninguém se lembra do que fez”. Para mostrá-lo importante, se vivo, aja como se o cargo fosse vitalício. Evitará também que os mais jovens, pré-informados da importância do gajo, não se imaginem frente a remador no Clube de Regatas Tietê ou craque da peteca no posto 6, em Copacabana.
– OK, Pestana. Problema é que ela está com certa idade, é tida como pessoa de conduta ilibada, mas tem características pessoais polêmicas, fala na cara quando não gosta da pergunta, e tanto o Nestor como você, menos, gostam de ir um pouco além da medida.
– Bem, como um dia revelou Chico Buarque sobre Vinícius de Moraes, que homem não gostaria de ir um pouco além da medida?
– Entendi. Será aqui amanhã. O Nassif permitiu usarmos a sala principal do jornal. Inclusive sugeriu gravarmos em vídeo para apresentação no Sala de Visitas, do GGN.
– Lembrou de pedir ao motorista para ir busca-la?
– Perguntei. Disse que vem com o Gol 2003 dela.
– Dirigindo?
– Claro! Essas minhas preocupações com sua presença na entrevista.
– Modelo 2003 ainda é aquele quadradinho? Vejo muitos deles em reportagens na periferia, fotografando chacinas em botecos.
– Nada disso vem ao caso. Vamos pensar numa pauta de perguntas.
São Paulo, domingo, 17 de julho de 2016.
– Bom dia, prefeita Luiza Erundina. Obrigado por aceitar ser entrevistada por este blog. Como estamos gravando em vídeo, vou fazer pequena introdução. A senhora nasceu numa cidade do interior da Paraíba, Uiraúna. Começou a trabalhar ainda na infância, entregando bolos feitos por sua mãe. Cursou o ginásio em Patos e se formou assistente social na Federal da Paraíba, em João Pessoa. Veio para São Paulo, em 1971, para fazer mestrado na Escola de Sociologia e Política. Um ano antes, em Campina Grande, iniciara militância política.
– Bom dia, jornalista Rui. Tudo isso você tirou do Wikipédia. Se for para contar todo o meu passado, é melhor mandar seus leitores pesquisarem lá. Prefiro falar de temas atuais. Além do que você está desatualizado. Deixei a prefeitura de São Paulo, há 23 anos, hoje sou deputada federal. Era do PSB, estou no PSOL, partido que me lançou para concorrer à prefeitura de São Paulo.
– Sim, desculpe-me, mais uma vez agradeço-lhe ceder seu tempo neste domingo ao blog.
– Dispenso. Não faço nada aos domingos e se eu não der entrevista aqui, quem irá me convidar?Folha, Estadão, Veja, Isto É, Contigo, TV Globo? Etiquetas e convenções você deixa para os demais candidatos. Aliás, o último que você entrevistou que comédia, hein?
Pestana se anima:
– Deputada, qual a sua idade?
– Em novembro, vou fazer 82.
– Recentemente, a senhora se candidatou à presidência da Câmara e teve 22 votos. Esperava um desempenho melhor?
– Não, temia. Já pensou o que seria ganhar ou, ao menos, ser muito votada por aquele bando de picaretas. Vergonha.
Volto:
– A menção aos picaretas do Congresso me faz lembrar de Lula. Ainda gosta dele, conversa, o apoiaria em 2018?
– Na sequência: gosto, não converso, e o apoiaria caso eu não estiver na disputa.
Pestana insiste:
– Mas em 2018 a senhora estará com 85 anos.
– E daí? O Fidel Castro, em agosto, completará 90 anos. Aqui mesmo, esse interino está com 75 anos. A considerar os dez quilos de maquiagem, empata comigo. Mao, na China, foi até 82. O vietnamita Ho, até 79.
– Verdade, se bem que todos ditadores. Tanto que os asiáticos citados precisaram morrer para passar a bola. O Fidel tem um irmão chamado Raúl Castro.
– E por acaso o irmão é jovem? Está com a minha idade e chupou o Obama.
Por mais que eu repita aos meus repórteres para não transformar entrevista em debate, eles não aprendem. Interfiro, oferecendo a todos um chá.
– Temos camomila, boldo e verde.
– Tem de enxerto-de-passarinho? Tomo para a asma.
– Creio que não.
– Prefiro café. Puro.
– Durante a sua gestão como prefeita de São Paulo, entre 1989 e 1993, a senhora teve graves dificuldades com seu próprio partido, o PT. Isso prejudicou a sua administração? A senhora tinha um timaço de secretários municipais, lembro Paulo Freire, Mário Sérgio Cortella, Marilena Chauí, Juarez Soares, o velho “China” que trouxe a Fórmula 1 para São Paulo, fez o sambódromo. O que não deu certo e a senhora não conseguiu eleger seu sucessor, Eduardo Suplicy.
– Primeiro, o sucessor. Uma tartaruga bem-intencionada concorrendo com um cara que até hoje jura não ter dinheiro no exterior e todos acreditam.
– É, em São Paulo, para derrotar Paulo Maluf precisa muita esperteza.
– Põe muito nisso. O príncipe tonto de Higienópolis não sentou na cadeira do Jânio antes de ganhar e tomou? Segundo problema foi a porra do IPTU progressivo. Quis tirar de quem tem mais e isso, no Brasil, é pecado. A Câmara dos Vereadores foi contra, que chamou a mídia, que chamou a classe média, que fez o STF derrubar o projeto.
– Familiar com o que ocorre nos dias atuais, não Erundina?
– Até que enfim alguém me chama aqui pelo nome.
– Não teme que, se eleita, o PSOL, pelas suas divisões internas, possa fazer o mesmo que o PT da época? Conversou com a Luciana Genro? Ela apoiou sua candidatura?
– Não sei. Falei com o pai dela, o Tarso. Disse que mandou uma foto da Coreia do Norte. Estava encostada num míssil, toda vestida de preto, sol nos cabelos loiros. Faz um curso: “Como desestruturar o sistema capitalista através do choro em massa”, e está engajada numa campanha para exigir que a Coreia do Sul ceda metade do seu PIB ao Norte, como reparação ideológica ao pós-guerra separatista.
– Aquele Constantino disse na Veja que ela está enviando cartas, assinadas pelo Kim Jong-un, convidando lideranças da esquerda brasileira para adesão. Embora fonte não confiável, relata que o Rui Pimenta (PCO) e o Zé Maria (PSTU) estão de malas prontas para ir conhecer o país.
– Luiza …
– Está melhorando. Mais uma vez, ouço meu nome.
– Ha, ha, ha, no final das entrevistas sempre deixamos espaço para que o candidato fale sobre suas ideias para administrar a cidade.
– Rui, permita-me, antes disso, introduzir uma última pergunta.
– Medo. Segue, Pestana.
– Deputada, como a senhora definiria a cor de seus cabelos? Supla ou Marta Suplicy?
– Cor de burro quando zurra depois que lhe introduzem algo no rabo. Essas minhas palavras finais.
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ERUNDINA/CIRO GOMES
Amigos, depois de ler esta entrevista (espero que não seja ficção, pois, está história da Coréia é inacreditável!) sugiro uma chapa Erundina/Ciro, metralhadoras giratórias, atuando em duas frentes. Seria muita sorte para nós. Porém, se o eleitorado vai suportar tamanha dose de franqueza, é o que gostaríamos de ver. Ah!, como os brasileiros estão precisando ser sacudidos pela golea…!
Afonso,
põe ficcional nisso! Mas aceito a propaganda eleitoral e penso que a dupla sugerida é uma alternativa real. Abraço
A Erundina está linda. Não
A Erundina está linda. Não adianta a Marta pintar o cabelo da mesma cor, nunca vai igualar o glamour e a beleza de Luiza.
Essa chapa Ciro/Erundina também é dez. Finalmente dois brasileiros para governar o Brasil.
Já os entrevistadores, muito fracos. Sem estofo para alguém de tamanha estatura. Precisam estudar mais.
Um abraço.
José,
para equilibrar minha autoestima, espero que o texto tenha deixado explícito o aspecto ficcional da entrevista, onde os personagens-repórteres foram (e continuarão) construídos como paspalhõess mesmo. Abraço
Por isso ainda hoje se diz
Por isso ainda hoje se diz que paraibana é mulher macho. É por serem quase todas as nordestinas, culturalmente, muito incisivas e diretas. Preferível que sejam assim, porque já estamos fartos de ver as caras dos cínicos, falseando a verdade.
Sinto grande admiração por Erundina, e acho que, de todos os dissidentes do PT, ela é, talvez, a pessoa que mais fez falta, justo pela sua trajetória de vida, e por essa sinceridade de quem não tem medo de ninguém e nem de coisa nenhuma. Admirável!
Maria
Como essas entrevistas são ficcionais e abusivas no humor, pelo respeito que tenho por Erundina, foi muito difícil escrevê-la. Até no vídeo musical inserido tratei de fugir do “mulher macho”. Se saiu do PT é porquê previa o que vinha por aí. Abraços.