Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Entrevistas Clube dos Garotos – 9, por Rui Daher

Por Rui Daher

Texto de ‘fricção’ confeccionado em organdi pelos jornalistas Rui Daher, Nestor Gruppo e Regularte Pestana, patrocinado pelas Estampas Eucalol com apoio dos baralhos “Dirigindo não Jogue”.

Garanto-lhes ter defendido com unhas e dentes ideia diferente da que me trouxeram Nestor e Pestana. Talvez a senilidade me fez ceder.

Como glorioso final para a série de entrevistas 1º turno, propunha trazer a debate os dignos Ricardo Young (REDE), Altino (PSTU) e o injustiçado Levy Fidélix e sua graciosa filha, Lívia (28.028), candidata à vereança (doutor, indo às origens gregas os óbolos ainda não chegaram).

Agora que o governo, cada vez mais interino do intestino Michel “Legrand Merde” Temer, rebaixou o salário do Bloc(g)o dos Sujos, achei que o debate seria uma forma de cutucar a proeminente pança das folhas e telas golpistas. Afinal, não seríamos nós a remeter esses candidatos ao esquecimento do mainstream.

Como disse, fui vencido. Pestana, o mais equilibrado, ponderou:

– Você, na condição de Publisher do BRD, precisa se posicionar como já fez o New York Times, a favor de Hillary Clinton, e fizeram Mino Carta e seu amigo inesquecível Fritz Utzeri, na primeira eleição de Lula.

– Não gostaria. As coisas mudam, Fritz logo se decepcionou com o Molusco, como ele o chamava, e passou a mandar bala no metalúrgico, como o Mino ainda o chama. Outro dia, a jornalista Leneide Duarte-Plon, ex-colega de Montbläat, me lembrou disso. Brigávamos e Fritz dizia suas críticas estarem à minha esquerda. Acertava.

– É, mas agora a barra é outra. Se o PT fez merda, a deles poderá ser pior.

– Já está sendo. Fabricassem uma cloaca do tamanho da China, o cocô produzido não seria tanto.

Sim, essa foi do Nestor.

– Mas, sei lá, posicionar-me por quem? Sou apaixonado pela Erunda e tem o Haddad, de quem muitos amigos falam maravilhas e apoiam. Todos que o detestam são de direita, o que lhe dá um bom crédito.

– A paixão pela Erundina, entendo. Ela chegando nos 82, você com 71, paixão de adolescente pela professorinha gostosa, paixão Rede Globo.

Nunca Pestana faria observação dessas.

– Rui, esquece o Nestor. Quais seus senões com Fernando Haddad?

– Não sei bem. Meio claudicante, talvez. Tomou uma porrada em junho de 2013, com as tarifas de ônibus, e foi de bobo na do Geraldo, e do MPL que não era Movimento Passe Livre porra nenhuma, mas sim o ovo da serpente, a grande oportunidade para a direita fazer aquilo dar nisso.

– Mas, apesar de sua implicância histórica com o Jilmar Tatto, você precisa reconhecer que o Fernando retomou as rédeas da administração e foi bem. Leu o que a Lauroca escreveu quinta-feira, em sua coluna na Folha?

– Corajosa, essa menina. Ela e quem assim pensa são a nova esquerda. Tenho algumas dúvidas sobre o que ele fez para a periferia, vocês não?

Nestor:

– Cacete! É onde você deveria ter menos dúvidas. Seu filho, Gabriel, é arte-educador em Paraisópolis. Todos os dias chega falando de como a vida pode mudar lá através da educação, com entidades privadas, ONGs, e o apoio do Fernando.

– Qual Fernando? O Juncal?

– Não, o prefeito. Aliás, seu amigo de bunker e AK-47 está empenhado na campanha pela reeleição.

– Tenho considerado isso. Confio nele. É autor de alguns capítulos do “Dominó de Botequim”, a ser lançado em novembro, se o nosso landlord nos enviar logo o prefácio e o Márcio Alemão, nominado para o Emmy, a contracapa.

– Então vamos lá, seu editorial, por favor. Como se não soubéssemos que, na essência, suas dúvidas são apenas firulas de um Canhoteiro (antigo ponta-esquerda do tricolor de nosso amigo Raí) fora de forma.

Pego o laptop e sigo até uma mesinha que temos no jardim do velho casarão. Quando volto, pedem que leia o texto em voz alta.

– O BRD, Blog-Boteco Rui Daher, representado por uma Redação unida em torno de ideais salineiros e de siris portadores de pinças só à esquerda, apoia Fernando Haddad, para reeleger-se prefeito de São Paulo.

Dois motivos nos unem. Primeiro que, à exceção de Luiza Erundina, os demais candidatos são medíocres. Segundo, que sempre à esquerda estarão nossas opiniões, muitas delas feitas aos próprios governos petistas, que se apropriaram de nossos ideais e os venderam pela merda da governabilidade.

Somos assim por vocação humanista, daí vivermos fragmentados. A direita é sólida, se consolida em seus modelos de um capitalismo feito só em benefício próprio. Cada vez mais raro ouvir de um empresário, que deveria saber que a distribuição de renda move o consumo move e o mercado, dizer uma palavra contra o crescimento da miséria. Pensam viver dela. Quando tratam de economia é sempre com índices totalizantes. Nunca metem gente no meio. Preferem alimentar seus patos amarelos até eles estourarem.

A esquerda vive eterna utopia? Pode ser, mas como queria Cazuza, precisamos de uma ideologia para viver. Alguma coisa nos fez ficar assim. O cristianismo, o Iluminismo, compaixão por desafortunados, a boa e intensa leitura de Karl Marx, os patrões que bem nos pagam para usufruir de mão de obra inteligente, sem a visão de um mundo individualista e imoral, o planeta com valores cada vez menos produtivos e mais papeleiros, a burrice incrustrada no Lobão e ausente em Chico e Gil.

Sim, o PT me envergonhou, desvaneceu o entardecer de uma finitude com a esperança de ver um país livre, socialmente menos desigual. Ainda assim, votarei em Fernando Haddad.

– Parabéns, chefe!

– Porra, Nestor, Pestana, parem de chorar, se não choro também.

– Chefe, uma só correção. Disse que os empresários nunca metem gente no meio. Errado. Os empresários metem no meio da gente.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. Charada Jumanji: Quem eu escondi?

    Na ilha do bajulador,

    Tem um Triplex para ti,

    Quem “Mourou” é morador,

    E na “Moral” eu escondi.

  2. entrevista….

    O Haddad que foi a Marta que foi a Erundina (a Marta já foi a esquerda. Que tombo, hein?!). Depois desta trilogia toda, a cidade de São Paulo continua desta forma? Onde estão creches? Seriam feitas centenas com o cimento gasto na “Cidade do Samba” em plena Marginal Tiete, ou milhares com o material gasto no estádio de um certo time de futebol, sempre a mendigar favores. Ainda mais que dos anos de 1990 para cá, cada vez menos crianças (mas também muito menos competência). Onde estão as ciclofaixas e ciclovias no percurso das marginais, iguais àquela que o Serra construiu na frente dos Jardins, da Berrini e dos estúdios da RGT? (a favela que exisitia embaixo das suas  cameras foi implodida, mas isto é apenas detalhe. Um sacrificio pelo progresso, segundo a lógica tucana. Social democrata, se não me engano)). Num percurso totalmente plano, poderíamos de bicicleta atravessar a cidade toda. Vamos lá, quanta exigência?! Em época de “bem estar animal ” ( … “troque seu cachorro por uma criança pobre…sem parente, sem carinho, sem rango, sem cobre. Deixe na história da sua vida, uma notícia nobre”…) Bons tempos, aquelas décadas de 1970/80, das pessoas sem automóvel, sem escola privada, sem asssitência médica particular, quando os atuais coxinhas eram apenas petistas, e não tinham condições de ter carro, quanto mais pagar pedágio. Quando uma criança pobre vala ao menos um pouco mais que os atuais “pets”. Ar condicionado em ônibus lotado. Seria possível? Temos tecnologia para tanto? 2016. O que restará para São Paulo fora desculpas? Talvez a tragédia de um Dória? Abs.

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