Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Quem foi que inventou o Brasil?, por Izaías Almada

Lamartine Babo não viveu o suficiente para ironizar o tempo da pizza, das maracutaias que acabam em pizza

Quem foi que inventou o Brasil?

por Izaías Almada

Foi seu Cabral, foi seu Cabral!

No dia vinte e um de abril

Dois meses depois do carnaval…

A saudosa marchinha de carnaval de Lamartine Babo faz uma brincadeira irônica sobre o Brasil, ignorando a descoberta e levantando a hipótese de uma “invenção”. Fato perfeitamente possível, por que não? Se não fosse em 1500, esse nosso incrível país teria sido inventado anos depois, é claro. 

O que não se pode negar, no entanto, é ver o Brasil ser reinventado depois de Cabral de tantos em tantos anos, sobretudo após a proclamação da república, nos intervalos entre as ditaduras e seus arremedos que nos perseguem. Vide, 1934, 1964 e 2016.

Aliás, a história política brasileira – se bem avaliada – nos mostra que gostamos de passar por períodos autoritários em nossos governos de vez em quando, pois nos períodos democráticos fazemos da democracia uma espécie de casa da mãe Joana. Temos uma fixação e uma compreensão malandra de democracia, não é mesmo? Sempre e quando ela nos interessa de algum modo…

Nesse início de 2019, por exemplo, foi aberta a temporada de caça à inteligência nacional onde, chefiados por grandes e competentes ministros de estado, grupos de extermínio saem a pregar pela extinção do “marxismo cultural”, contra a soberania nacional, pela extinção da defesa ao meio ambiente, pelo não reconhecimento dos direitos civis, pelo não reconhecimento dos direitos dos trabalhadores, pelo uso de armas em aviões de linha comercial, pela Universidade somente para a elite, pela espionagem aos bispos católicos, pela intervenção em países vizinhos, pela tal escola sem partido… E por aí vamos.

Depois

Ceci amou Peri

Peri beijou Ceci

Ao som…

Ao som do Guarani!

Do Guarani ao guaraná

Surgiu a feijoada

E mais tarde o Paraty.

Lamartine Babo não viveu o suficiente para ironizar o tempo da pizza, das maracutaias que acabam em pizza. Ou entender uma das mais calhordas frases já ditas sobre o conceito de se fazer justiça: “não tenho provas, mas a literatura jurídica me permite condenar”. Inventamos e compactuamos com essa imoralidade deontológica, se assim posso me expressar.

E também inventamos e compactuamos com outros crimes e imoralidades em nome do poder democrático ou do poder autoritário. Para nós brasileiros, tanto faz. Nossa compreensão e participação da vida política, quando existe, é superficial, anêmica. Se a vida me estiver correndo bem, tanto faz que o presidente seja Lula ou Bolsonaro. Visto uma roupa “chique” e me cerco de mucamas…

Depois

Ceci virou Iaiá

Peri virou Ioiô

De lá…

Pra cá tudo mudou!

Passou-se o tempo da vovó

Quem manda é a Severa

E o cavalo Mossoró

E bota cavalo Mossoró nisso, Lamartine.

Agora sim, parece que o entreguismo e a submissão atingem nível de traição. E o Brasil continua a se reinventar: um general do exército brasileiro ao que tudo indica irá bater continência ao seu superior hierárquico, um general do exército norte americano, passando a pertencer a um exército estrangeiro. Será que entendi bem?

Ao ler a inacreditável notícia, lembrei-me de uma pergunta feita por um filho meu: pai, por que as FFAA brasileiras não gostam do Brasil?

Eu nunca soube como responder.

 

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

4 Comentários

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  1. são várias variáveis como dizia a música do Gessinger. Existe a hegemonia acachapante dos EUA. Nem mesmo os partidos socialistas do Chile e Portugal quando estão no poder parecem pôr em causa a utilidade prática para seus respectivos países de serem obedientes ao Tio Sam. Existe tb o individualismo do brasileiro q parece se importar só com seus interesses e no máximo extende o olho para os parente e amigos. Nossa elite sempre amou os EUA, desde q eles surgiram. Na proclamação da república, feita por um milico, eles copiaram o nome dos EUA e por muito pouco não copiaram tb a bandeira (bom, parece q Sâo Paulo copiou….). E é essa elite q dá o tom para o resto. Os militares não tem vida própria. Precisam q alguém deposite todo mês nas contas deles no BB. E por isso seguem fielmente a cartilha dos q mandam neles, a elite, que por sua vez obedece aos americanos. Para mudar esse estado de coisa só se os não da elite ocupassem os seus lugares na divisão de poder. Mas aí seria esperar demais

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