Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Sonho de uma noite de outono, por Rui Daher

Quando o fogo amainou, todos passaram à malhação sem dó. Começara a malhação dos Judas.

Sonho de uma noite de outono, por Rui Daher

Não sei qual a razão, mas Jesualdo, Geromel e Heinrich, me convidaram para uma malhação virtual de Judas. 

Antes de dormir, costumo pensar em situações muito boas, alegres, algumas inconfessáveis, para ver se sonho com elas. De volta, quase sempre, pesadelos horríveis.

Na mensagem dos três, perversos, escolheram a esquina do bairro do Cambuci, em São Paulo, outrora endereço do botequim do português Serafim, onde aos domingos chegávamos para o café da manhã, e depois para os tabuleiros de dominó, cachaças e cervejas. 

Pelo menos, até que as bravas cônjuges saíssem da missa do meio-dia e nos servissem o lauto almoço, invariavelmente, macarrão passado do ponto e frango assado, aquele de TV de cachorros, comprados do Netinho, assador e ajudante de Serafim.

Cabisbaixos, retiravamo-nos para a tortura de uma tarde na cama, vendo algum jogo de futebol, para mim, amante do esporte, tanto fazia qual. Antes de sairmos, o portuga encerrava as portas, anunciando: “Maria Conceição preparou para a Páscoa, um bacalhau a Zé do Pipo”. E lá íamos nós para o indefectível “frango de viração”. Sorridentes para disfarçar as oito cervejas consumidas e as risadas por piadas inconsequentes, em geral sobre as atitudes de nossas esposas, isto em casa, no boteco, mulheres mesmo.

Mas isso são reminiscências dos bons tempos, embora ache que o Dominó de Botequim Celestial, dê muita alegria a Serafim e nosso Conselho Consultivo.

Voltemos à malhação de Judas. Todas as noites, antes de deitar-me faço uma oração-consulta a Darcy, Ariano, Melodia, Dr. Walther, Alfredinho e a Madrinha Beth. Harmônica está ausente, cuidando das noites de Weintraub. Vira e mexe coloca Auschwitz e Buchenwald em seus sonhos. Abraham acorda suado, em prantos, o pintinho já mínimo, mais encolhido ainda. No xixi matutino, nem mesmo tem coragem de olhar para o diminuto membro. A urina cai sempre fora do vaso sanitário. Cruel, nosso assassino em série.

Não se envergonha, já falou e fez coisas piores. Quando Weintraub lembra ser ministro da Educação, solta um discreto peido. Não poderia imaginar que a lúcida esquerda da comunidade judaica colocou sonorizadores sob sua cama.

Aconselhado pelo Conselho, em forçar o sonho, sigo ao Cambuci, SP. local escolhido por JGH para a malhação de seus Judas. Não mais de cinco adeptos de camisa amarela, como eles.

Começo o papo. “Oi tudo bem? Quais os Judas, Lula, Dilma, Haddad, Maia, Gilmar Mendes, Gleise, eu, que irão linchar”?

– Mulheres, não. Gleise e Manu, estão fora. Gostosinhas.

– Ah, como fizeram com Marielle Geromel?

– Primeiro que ela não era ‘muito’ mulher, ativista negra de esquerda, filiada ao PSOL; eu criei meu filho trabalhando, hoje ele é diplomado. 

– Parabéns Jesualdo. E você, Heinrich? 

– Eu moro, de quatro a seis meses na Europa, daqui só quero saber quando acabar a corrupção e fizerem os vagabundos trabalharem e não precisarem de Bolsa Família, Mais Médicos. Quem venceu por mérito vai aos Einstein e Sírio Libanês. Como em Luxemburgo, onde moramos, durante o infernal verão brasileiro.

Meio-dia, em ponto. Enquanto conversávamos, não mais de dez pessoas ao nosso redor balançando positivamente as cabeças, bonecos de Lula, Dilma e Rodrigo Maia, espalhados no chão. 

Nisso, uma multidão vestida de vermelho, bandeiras com grandes estrelas nas mãos, bonés com símbolos da CUT, MST, MTST e até com certa gratidão colocam os bonecos bem na porta de ferro, onde outrora estava o botequim do Serafim. Um grafiteiro logo tratou de colocar um grande sorriso nos rostos de Lula e Dilma. 

A gasolina que seria neles embebida e o primeiro fósforo riscado, com o alarido da multidão avassaladora se aproximando, cânticos de esquerda diversos, serviram aos bonecos de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e Sérgio Moro. Quando o fogo amainou, todos passaram à malhação sem dó. Começara a malhação dos Judas.

Velho, sem forças nos braços, ausentes Nestor, Pestana, Everaldo, do BRD, cansei-me, mas valeu pessoal, acordei sabendo quem são os verdadeiros traidores do Brasil.     

Aleluia!

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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