Correspondências entre Drummond e Sena mostram que ‘brevidade pode ser bela’

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Enviado por Gilberto Cruvinel

Da Folha

Cartas entre Drummond e Jorge de Sena vêm a público

Foto: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) no Ministério da Educação e Saúde, no Rio, em 1942

MAFALDA DE AVELAR
Colaboração para a Folha, de Lisboa – 19/10/2013

A 8 de junho de 1978, Carlos Drummond de Andrade publicou, neste jornal, um texto intitulado “Jorge de Sena, também brasileiro”, dando conta de que o poeta português era cidadão brasileiro.

Hoje toda a correspondência conhecida entre Drummond (1902-1987) e Sena (1919-1978) vem a público, na segunda edição da revista “Granta”, em Portugal.

A Folha teve acesso a esses inéditos. No total, são três cartas de Drummond e sete cartas de Sena, mais duas mensagens. Juntam-se ainda aos inéditos, uma carta da viúva Mécia de Sena, a respectiva resposta de Drummond e a proposta que Sena faz de Drummond ao prêmio Books Abroad, em 1972, hoje denominado Neustadt Prize.


“Proposta até hoje inédita e, como tal, praticamente desconhecida”, afirma Jorge Fazenda Lourenço, investigador de Sena há 30 anos e o organizador da publicação destes inéditos, em entrevista à Folha, em Lisboa.

“Que a brevidade pode ser bela, eis o que esta correspondência vem mostrar”, diz ele, que venceu neste ano o prêmio Jorge de Sena por “Matéria Cúmplice – Cinco Aberturas e um Prelúdio para Jorge de Sena” (2012).

Como explica o estudioso, apesar de termos “tão poucas cartas, num espaço de tempo tão dilatado –de 1949 (a primeira, de Drummond) a 1975 (última, de Sena)– podemos avaliar uma grande intensidade e admiração na correspondência entre os dois”.

Drummond deixou, segundo Fazenda Lourenço, um grande lastro na poesia portuguesa do século 20. “Drummond, tal como Manuel Bandeira, desempenhou um papel muito importante no desenvolvimento do modernismo em Portugal. É por isso essa admiração que nós lemos aqui nas cartas”, diz.”Há que ler Sena e Drummond e ver se há mais pontes nos próprios textos um do outro, nos próprios poemas.”

A viúva Mécia de Sena, com quem o poeta teve nove filhos –dois deles nascidos no Brasil–, diz ter guardadas ainda muitas correspondências do marido com intelectuais, alguns brasileiros. “Ele tinha muitos bons amigos brasileiros”, diz ela em entrevista por telefone em sua casa em Santa Barbara, na Califórnia.

O tema da revista “Granta” em que as cartas sairão é poder. Para Carlos Vaz Marques, diretor da publicação, o assunto se destaca na proposta de Sena para o Books Abroad.

“Mostra as questões de poder no mundo literário, nomeadamente quando Sena se refere com alguma acidez aos jogos de influências para a atribuição do prêmio que, naquela altura, era uma espécie de antecâmara do Nobel”.

A questão do poder da língua portuguesa e da necessidade de reconhecer um escritor da dimensão de Drummond são, sem dúvida, dois dos marcos da mensagem “Apresentação de Carlos Drummond de Andrade” ao prêmio Books Abroad, escrita por Sena. Ligações fortes entre escritores formidáveis.

GRANTA (PORTUGAL) OUT.2013
EDITORA Tinta-da-China
QUANTO € 18 (R$ 53, 299 págs.)

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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