A cor da fumaça e a cultura racista

Desde os primórdios da humanidade o preto parece ser sinônimo de uma cor que exprime algo não muito bom. Os representantes da raça negra, oriundos do continente africano, tratados (até hoje) como seres humanos de segunda categoria, que o digam. Até a fumaça preliminar, que representou inicialmente a falta de consenso entre os cardeais que elegeram o novo Sumo Pontífice, nas tradições seculares da Igreja Católica Apostólica Romana, também continua sendo negra, na saída da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano. 

 
 
 
Desde criança ouvimos dizer “a coisa tá preta”, como sinônimo de que a coisa tá feia ou de que algo não vai bem. Na década de 50, no século passado, nos meus tempos de infância num subúrbio do Rio, era comum alguém dizer, de forma discriminatória: “branco correndo é atleta, preto é ladrão”. Paulinho Crioulo e Chico Preto eram dois negros assim conhecidos na localidade. Ou seja, a identificação e o estereótipo definidos pela cor da pele e pelo preconceito.
 
 
 
No século XIX, no centro do Rio Antigo, negros já com a ‘Carta de Alforria’ na mão, eram tratados como vadios e quadrilheiros. Muito mais tarde, na história policial do Rio de Janeiro, um marginal da lei, sequestrador, paradoxalmente, foi conhecido como Maurinho Branco, na referência da cor de sua pele. Fato muito raro para um bandido de cor branca.
 
 
 
 
O fato é que a cor preta e os negros continuam sendo discriminados no mundo e no nosso país. No Brasil, a grande maioria de negros é constituída de pobres e favelados e muitos residem em comunidades em condições sub humanas. Quando criança, embora seja um miscigenado autêntico, filho de pai negro e mãe branca, ao escolher o Flamengo como clube do coração quiseram me fazer acreditar, de forma discriminatória, que Flamengo era clube de preto. 
 
 
 
Não faz muito tempo alguns clubes vedavam inclusive a entrada de negros, mesmo que fossem atletas do clube, em seus quadros sociais. Hoje alguns continuam exigindo uniforme para babás como sendo pessoas desiguais em direitos em razão do status social.. Talvez uma das únicas exceções, com relação á superioridade do preto sobre as demais cores, seja no tradicional Jogo de Sinuca onde a bola de maior valor (vale 7 pontos) é a preta.  A de cor branca vale somente um ponto. Quem sabe o inventor do jogo não colocou a tabela de cabeça pra baixo?
 
 
 
Lamentável, portanto, que o mundo continue acreditando que a cor da pele exprima a dignidade de seres humanos ou que uma cor identifique algo de bom ou de ruim. E Jesus Cristo? Era branco, negro ou pardo? Quem poderá dizer com toda certeza? E a intolerância racial contra futebolistas negros, principalmente nos gramados da Europa? Que preconceito descabível..
 
 
 
Sobre a cor da fumaça mais importante do mundo católico, que indica o não consenso entre os cardeais, bem que esta poderia ser vermelha, amarela, azul. etc… Por que preta, significando o não consenso e branca, que significa ‘Habemus papam’? Por que não ao contrário? Por que a pomba da paz tem que ser branca e não cinza ou negra? 
 
 
 
Por enquanto, não há dúvida, o mundo permanece racista em sua essência..
 
 
 
Milton Corrêa da Costa é tenente coronel da reserva da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
Redação

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