Independence Day 2: mais da mesma estética nazista, Fábio de Oliveira Ribeiro

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A estreia de Independence Day 2 (2016) ocorre 60 anos após o lançamento do filme Earth vs. Flying Saucers (1956). Entre estes dois filmes foi produzido Independence Day 1 (1996). Os três filmes pertencem ao mesmo gênero e a diferença entre eles é apenas a escala da destruição.

No filme de 1956, pequenos discos voadores destroem alguns monumentos em Washington. Em Independence Day 1 discos voadores maiores destroem a Casa Branca e imensos arranha céus. Em 2016 o disco voador é imenso e devasta totalmente Londres, após ter destruído uma base lunar.

Nos três filmes, há personagens que são submetidos há algum tipo de ligação mental com os alienígenas. As inovações tecnológicas permitiram uma evidente evolução na construção de cenários (reais e virtuais) e no design de discos voadores e dos alienígenas, mas as motivações dos inimigos da humanidade continuam as mesmas.

Nos dois primeiros filmes citados, os seres humanos não tem aliados alienígenas. Em Independence Day 2, a terra está unificada contra o inimigo comum. A presidenta dos EUA tem a última palavra sobre o que deve ser feito quando uma imensa nave espacial parecida com a Estrela da Morte (Star Wars) se aproxima da base lunar. Ela manda destruir o objeto não identificado cometendo um erro imperdoável.

Dentro daquela nave destruída estava um aliado em potencial. Felizmente ele é resgatado dos destroços por um típico herói improvável. O exercício do poder de maneira abusiva é, portanto, algo que aproxima os humanos de seus inimigos espaciais (mas este fenômeno evidente, que nem sequer é cogitado em Earth vs. Flying Saucers passa quase despercebido).

Os alienígenas eram parecidos com seres humanos em 1956. Em 1996 e 2016 eles são insetos. Em Independence Day 2 temos a honra de conhecer a rainha dos insetos alienígenas. Ela é imensa, muito maior do que a rainha dos alienígenas combatidos por Ripley em Alien 2 (1986). A imaginação dos cineastras é limitada. Quando não conseguem imaginar coisas novas eles apenas ampliam a escala de coisas envelhecidas.

As relações entre os casais e entre pais e filhos são tematizados em Independence Day 1 e 2. O auto-sacrifício para salvar entes queridos também continua a ser explorado. Os closes nos protagonistas são tão previsíveis quanto a derrota do inimigo com algum sacrifício. Independence Day 2 é mais do mesmo.

Enquanto os norte-americanos fazem filmes sobre alienígenas que querem destruir a terra os EUA seguem afundando nos problemas reais. Hillary Clinton e Donald Trump disputam uma eleição despolitizada cujo resultado final será uma previsível continuidade do neoliberalismo. Nos cinemas, tabletes, notebooks, TVs e smartphones, os norte-americanos consomem ilusões. Nas ruas, dezenas de milhões de crianças norte-americanas passam fome e os problemas reais que assolam os EUA (concentração de renda, baixos salários, excesso de armas de fogo, ausência de um sistema público de saúde universal, água privatizada envenenada, encarceramento massivo de negros, guerras intermináveis, etc…) continuam sem solução.

Os filmes nazistas dos anos 1930 faziam os alemães mergulhar numa versão sacralizada e idealizada da sua história e desumanizavam os inimigos escolhidos pelo regime (judeus, comunistas e democratas). Os filmes hollywoodianos atuais fazem os norte-americanos temerem inimigos imaginários e acreditar que eles mesmos (e principalmente os seus soldados) representam a esperança de vitória sobre o imponderável.

O III Reich se caracterizou pela substituição do real pela ficção. O mesmo fenômeno está ocorrendo nos EUA de maneira mais sofisticada. Independence Day 2 é, paradoxalmente, um instrumento de escravização do imaginário dos cinéfilos, especialmente nos EUA.

Fábio de Oliveira Ribeiro

6 Comentários

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  1. Dezenas

    de milhões de crianças passando fome (dezenas de milhões? Quanto? De onde tiraste esse dado?) Caramba! Acho, então, que é melhor eles pedires auxílio para nós!!!!

  2. Deve estar de brincadeira. É

    Deve estar de brincadeira. É um blockbuster.

    Uma continuação do primeiro que por sua vez era um remake do filme dos anos 50 citado. E como tal, não se presta a fazer análises sociais e discussões reais.

    Aliás o filme dos anos 50 teve um remake no formato comédia anos atrás, com os invasores sendo destruidos com o som de uma musica horrivel e no original usaram armas de ondas sonoras. E é bom lembrar, o fime dos anos 50 retratava como os demais, do perigo soviético sem dar nome aos bois.

    Aplicada a opinião do sujeito, o cinema deveria ser proibido em anos eleitorais ou exigido que sejam exibidos apenas documentários e ai vai sobrar discussão sobre a tendenciosidade de um ou a visão arquétipa do outro.

    Cinema na maior parte das vezes serve para divertir, só isso. Coitado daquele que pensa que pode se educar sobre história, ciência ou artes assistindo os blockbusters e nem por isso deixam de ser divertidos.

    Avatar era uma especie de versão espacial de dança com lobos. Não me parece que alguem saiu dos cinemas crédulo de que existe o planeta descrito e muito menos foram produzidos estudos para avaliar a estória dos indios nas américas.

    Quando um mel gibson tenta ser o mais realista possivel sobre as lutas na escócia, o acusam de erotizar o personagem e de imprimir violencia demais nas lutas. Se filma a paixão de cristo, encontra-se reclamações e críticas porque coloca os judeus da época como responsáveis ou co-responsáveis pela morte do cristo.

    Vá ao acinema, assista e se divirta e depois volte para o mundo real. O cinema nada mais é do que aquele cochilo de 15 minuntos depois do almoço para voltar para enfrentar o batente.

     

    1. Sou um homem: nada do que é

      Sou um homem: nada do que é humano me é estranho – Públio Terêncio Afro 

      O problema de quem tem cultura de blockbuster é justamente este: a ausência de cultura humanistica.

      Tudo que o homem faz se presta a análise, meu caro. Apenas os retardados e os alienígenas cinematográficos são incapazes de reconhecer a possibilidade e a necessidade de se analisar os  blockbusters que fazem as cabeças… dos ignorantes e dos idiotas. Aos primeiros dedico o meu texto. Os demais, como o comentarista, só merecem desprezo. 

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