Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Monstros e crianças se encontram em uma exposição

Por que o imaginário infantil sempre esteve às voltas com monstros? Por que esses seres fantásticos presentes em todas as culturas, mitologias e lendas ao mesmo tempo assustam e fascinam crianças há gerações? A exposição “Monstros” do artista multimídia Térsio Greguol ajuda a responder essas questões porque expressam o passado e presente desses assustadores seres: a importância do arquétipo do monstro para a criança enfrentar psicologicamente esse mundo e a nova sensibilidade infantil com esses seres, dessas vez paródica e metalinguística.

Desde que Sigmund Freud descobriu que as crianças não eram exatamente anjinhos barrocos, mas detentoras de uma vida psíquica tão ou mais complexa que os adultos, a maneira como encaramos o imaginário infantil com suas fábulas, lendas e cantigas de ninar mudou. Desde a mais tenra idade as crianças estão familiarizadas com emoções perturbadoras como o medo e a angústia. São experiências que fazem parte do cotidiano. Elas têm que lidar constantemente com frustrações, angústia de perda e abandono, o medo da escuridão e do isolamento.

Diferente dos outros animais, a Natureza nos colocou nesse mundo, totalmente desprotegidos e dependentes – nascemos carecas, sem pelos e sem dentes, desajeitados e sem coordenação motora. E como a criança lida com essa situação? Através da imaginação e da fantasia, a melhor maneira de lidar com os monstros, arquétipos de seres fantásticos que simbolizam as ameaças dessa deplorável condição que viemos ao mundo.

Exposição “Monstros”

A exposição “Monstros” do artista multimída Térsio Greguol (escritor, artista plástico, compositor e vocalista da banda Katarse) no espaço da Fenac-Pinheiros em São Paulo explora esses seres fantásticos presentes em todas as culturas, mitologias, folclore e lendas através de desenhos e telas tridimensionais. Nas telas de Greguol vemos olhos enormes que nos observam ou pequenos que emergem da escuridão, tentáculos coloridos que formam traçados labirínticos, bocas enormes e cheias de dentes, carrancas tridimensionais e muitas espirais, como se as formas e cores tentassem nos hipnotizar.

Claro que na exposição estão muitos adultos que sentem nas telas ecos da infância. Mas as crianças simplesmente adoram os monstros representados nas telas da exposição. Os monstros de Térsio têm um quê de metalinguagem pelas referências midiáticas, principalmente dos monstros de Tim Burton do filme “Os Fantasmas se Divertem”.  

A exposição “Monstros” parece estar sintonizada com uma tendência atual. Se olharmos em perspectiva todas as mídias, dos livros infantis, passando pela TV e Cinema até chegarmos aos games de computadores podemos concluir: barbie e animais fofos estão em baixa. Monstros, fantasmas, animais gosmentos e gelecas estão em alta. E quando as crianças tornarem-se adolescentes entrarão em cena os vampiros e seres da noite como os da série “Crespúsculo”. Por que este fascínio infantil por um imaginário que, do ponto de vista adulto, é mórbido, estranho e violento?

Crianças querem se sentir poderosas

Certamente o imaginário infantil sempre esteve às voltas com monstros e violência. Os contos de fadas transmitidos oralmente por séculos parecem comprovar isso. Quando no século XIX os Irmãos Grimm fizeram uma antologia dessas fábulas antigas como Cinderela, A Bela Adormecida, João e Maria, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho etc., eles retiraram elementos eróticos para as polidas audiências da época, mas mantiveram a violência. Dessa maneira apresentaram um mundo onde os vilões são habitualmente decapitados ou jogados em óleo fervente e gigantes são mortos por cortar gargantas de crianças.

Telas tridimensionais

Para pesquisadora de Havard Maria Tatar, o que distingue as crianças dos adultos é precisamente o que esse imaginário macabro dos contos demonstra: “exuberância, energia, mobilidade, irreverência, curiosidade e audácia que dão a eles energia para desafiar a agenda civilizada dos adultos” (WILSON, Eric G., Everyone Loves a Good Train Wreck Why We Can’t Look Away, Nova York: Sarah Crichton Books, 2012, p. 34).

No livro Killing Monsters: Why Children Need Fantasy, Super Heroes and Make-Believe Violence, Gerard Jones sustenta que crianças se identificam com violência ficcional porque faz se sentirem poderosas e confiantes diante de um mundo assustador e incontrolável. Crianças adoram se sentirem poderosas, porque seu universo é intrinsecamente carregado de medos e ansiedades.

Essa ideia retornaria aos conceitos estéticos de Aristóteles: ficções em torno de emoções destrutivas podem purgar esses sentimentos por meio da catarse. A experiência estética do macabro presente em livros, filmes, desenhos e mesmo em vídeo games seria útil e terapêutica.

Por exemplo, Eric G. Wilson apresenta um estudo onde crianças submetidas a vídeos violentos não se tornam violentas, enquanto jovens delinquentes se tornariam menos violentos.

Sensibilidade infantil pós-moderna

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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