Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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O Boiadeiro e o Grupo Vocal Canto do Aboio

Gilberto Antonio Oliveira e Luciano Hortencio

Grupo Vocal e Instrumental O CANTO DO ABOIO, direção e regência do Maestro Gilberto Antônio de Oliveira e coordenação de Maria Neuza Guedes Goes dos Campos Barros. O grupo era composto por professores e alunos de música e dele faziam parte: Descartes Gadelha, Esther Hollanda Arantes, Isaltina dos Santos, Izaira Silvino, Socorro Farias, Erotildes Honório, Luciano Hortencio, Célia Cortez, Guaracy Rodrigues, Raimundo Nonato, Gerardo Sobrinho, Angela Gadelha, Francisco José Silva, José Teófilo Machado, Geraldo Apolinário, Maria do Socorro Pinto, Mirian Câmara Lopes, Othon, Poly, Maria Lúcia e Ana Alice Antero.

“Os janeiros têm se repetido, décadas e mais décadas, mas a poeira do tempo – acredito – longe está de anuviar as recordações de épocas de muita aventura, entusiasmo e dedicação pelo Canto Coral e na defesa da expressão artística.

O vigor da juventude de cada integrante do “Canto do Aboio” e a disposição firme de produzir música Coral (vocal), é verdade, fizeram história naqueles anos, em Fortaleza, bem como em cidades do interior cearense, através da “Caravanas Artística Cearense” (CRAC).

 Na condição de jovens, tudo era superado. As noites mal dormidas, a alimentação sacrificada durante as jornadas, o retorno pela madrugada, o cansaço retratado nos rostos, as saídas na parte da tarde das sextas-feiras para cumprir programações em cidades interioranas, a lotação e acomodação sopesados em duas Kombis velhas, cansados os condutores dormiram, uma vez, no volante e não deu outra, abalroaram. Como mandar arrumar, se o produto da bilheteria era sempre diminuto ou quase nada?…

Tudo isso é o que contabilizamos no passado. Na verdade, muita aventura, mas a marca ficou e, hoje, nos comprazemos ao relembrar tais façanhas às quais nos dávamos com muito fervor. Responsabilidade e cumplicidade do grupo, à época, eram os pilares de sustentação do novel projeto, nunca dantes orquestrado.

 Éramos pobres, sem recursos, mas de grande capacidade produtiva e fecunda. O valor do grupo era a somatória da capacidade e talento de cada um, que, irmanados em santa milícia, doavam suas horas de lazer em prol da arte.” Gilberto Antonio de Oliveira

Infelizmente não temos, pelo menos que eu saiba, nenhum fonograma de nossas saudosas apresentações. Como nossa característica musical era exatamente o BOIADEIRO, de Luiz Gonzaga, editei, ilustrando com a foto acima, a célebre música a fim de relembrar o Grupo Vocal O Canto do Aboio

https://www.youtube.com/watch?v=o3M_rShdAsc

 

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

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  1. RODOVIA TRANSAMAZÔNICA

     

    A vida está, lenta, mas seguramente, mudando ao longo do caminho.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    Desbravando a Amazônia

    Com extensão de 2.000 quilômetros através do coração da floresta, a Rodovia Transamazônica foi uma das primeiras estradas da região que foram construídas na década de 1970, e “estrada” era uma descrição generosa para uma faixa de terra cortando a mata fechada. A Transamazônica foi construída para conectar a Amazônia e incentivar o crescimento da participação da agricultura e a pecuária na economia brasileira e, ao longo dos anos, as florestas virgens deram lugar a fazendas de gado, madeireiras e minas de garimpo do ouro.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    A modernização e o futuro

    Hoje, para manter a economia em expansão, a pavimentação da parte oriental da rota pioneira está em progresso; uma mudança que vai tornar o transporte de mercadorias mais fácil e menos caro (quase todos os bens são movidos por caminhões porque o país não possui um sistema de comboios ferroviários). Mas mais colonos vão trazer mais indústrias, elevando a poluição e os desmatamentos.  As tradicionais movimentações do gado darão lugar a caminhões para o transporte da boiada. A construção da controversa barragem de Belo Monte, a terceira maior usina hidrelétrica da Terra, pode deslocar milhares de indígenas. A vida ao longo da Transamazônica como a conhecemos está prestes a mudar.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    Uma rota para a floresta

    De ponta a ponta, a auto-estrada, na verdade, se estende por quase 4.000 km – começando na cidade litorânea de João Pessoa e terminando na aldeia de Lábrea, no Amazonas – mas a maioria das pessoas conhece apenas o trecho  amazônico Altamira-Lábrea.

    Conduzindo a estrada Transamazônica, Brasil

    Viajando pela Transamazônica

    Como outros projetos desenvolvidos na região, a abertura da rota é um projeto em andamento. Vários trechos da rodovias ainda permancem cobertos pela lama, na época das chuvas, e a poeira, na seca. Atravessamos a rodovia em setembro, trafegando de automóvel através da poeira tão fina como o talco e cruzando pontes de madeira que têm uma tendência para serem levadas após o excesso de chuvas.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    A vida na água

    Apesar de serem encontradas acomodações básicas em algumas cidades ao longo do caminho, preferimos acampar ao longo de alguns dos muitos rios da região e tomar banhos refrescantes para suportar o calor da Amazônia. Ficar perto da água escura é melhor. Quanto mais escura a água, maior é a acidez, o que ajuda a afastar os mosquitos e outros insetos.

    Movimentação do gado, Rodovia Transamazônica, Brasil

    Conduzindo a boiada pela estrada

    A pecuária é exercida de maneira antiquada na região, em fazendas de gado que podem levar meses para serem percorridas por cowboys viajando uma média de 10 quilômetros por dia.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    Acampamento de peões

    Os vaqueiros, muitas vezes, fazem acordos com os fazendeiros ao longo da estrada, onde penduram as suas redes, em um galpão aberto, e acendem o fogo para cozinhar. Eles trazem frangos vivos ou caçam animais como tatus ou javalis durante a viagem. Na noite que passamos em um acampamento, os homens estavam à procura de quatro vacas fugitivas e não iriam sair do local até que encontrá-las, porque o seu valor é muito elevado.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    O custo da pecuária

    A criação de gado é um grande negócio no Brasil – na verdade, o país é o maior exportador mundial de carne bovina -, mas a indústria representa uma das maiores ameaças ao meio ambiente da Amazônia. O gado precisa de campos para pastar e, durante a estação seca, muitos campos são queimados para estimular o crescimento da grama. Um dia, dirigimos 250 kms cercados por terra preta, ponteada por pequenas chamas, sob a ondulante fumaça que provocava ardência nos olhos.

    As derrubadas e as queimadas não funcionam mais – a camada fértil do solo amazônico é fina e os seus nutrientes se esgotam rapidamente – e os fazendeiros abandonam o terreno. Vimos colinas verdejantes por quilômetros a fio sem uma única vaca pastando.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    O convívio com as madereiras

    A exploração da floresta é outro das grandes empreendimento da região, mas dos caminhões que nós ultrapassamos, muitos não tinham placas e não registravam a numeração para a identificação legal, o que pode indicar a exploração madeireira ilegal. A pavimentação poderia tornar o registro mais ilegal ou poderia aumentar a eficácia da proteção ambiental. Só o tempo dirá.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    Necessidade e invento

    Quem vive longe das cidades e sem peças de reposição, encontra maneiras criativas de manter os seus veículos em uso ou podem, até mesmo, alterar e criar novos estilos ao longo da Transamazônica. Vimos vários carros modificados, muitos dos quais construídos com muitos componentes de madeira.

    Um toque de ingenuidade é essencial em uma terra onde as quedas de energia são comuns: um morador local disse que tinha acabado de remover o motor de seu carro, uma semana antes, para usá-lo como gerador.

    Rodovia Transamazônica, Amazônia, Brasil

    A auto-estrada e o futuro

    Alguns trechos da Transamazônica foram construídos através da reserva indígena do povo Tenharim. Como muitas pessoas nativas da região, os Tenharins vivem, cada vez mais, entre dois mundos. Esta foto mostra uma casa com teto de palha, dotada de TV e antena parabólica.

    Quanto tempo vai levar para pavimentar toda a estrada Transamazônica? É difícil dizer, mas uma coisa é certa: as populações estão ocupadas com os seus afazeres e a vida está mudando, lenta, mas seguramente, ao longo do caminho.

    *

    O texto, com viés ambientalista, impresso com o manjado padrão colonialista e catrastrofista, foi produzido por Karin-Marijke Vis, com fotografias de Coen Wubbels, para a BBC em 4 de novembro de 2014.

  2. Ê boi

     

    “Ê, vaca Estrela, ô, boi Fubá”

    Tô embarcando na comitiva do tropeiro Hortencio!

    No sertão, os vaqueiros preservam costumes milenares, usando uma lamento conhecido como Aboio, para comunicar com a boiada em movimento. 

    [video:http://vimeo.com/9023278 width:600 height:450]

    O cântico antigo ecoa de forma improvisada, sinalizando a entrada para a vida no imaginário dos antigos tropeiros do Brasil.

    [video:http://youtu.be/RjqsKZrgTks width:600 height:450]

  3. “Eu zelo…”

     

    A cultura do aboio resiste na contramão do mundo contemporâneo.

    “Se mulher for veneno, bota uma dose prá mim, êeeei…” – Rafael da Paraíba do Norte

    “Eu chego ali e chamo o gado e ele vem prá junto de mim. Por quê? Porque eu não judio dele. Eu zelo, entendeu como é? Se eu não zelasse, ele não vinha não… Vinha?”

    [video:http://youtu.be/WbNwz7wVLWA width:600 height:450]

    Entre os aboios registrados por Mário de Andrade e pela Missão de Pesquisas Folclóricas, encontramos, no Cancioneiro da Paraíba (1993), alguns aboios (242) gravados por Maria de Fátima Batista e cantados por Alaíde Cordeiro Barbosa, em Cabaceiras, no dia primeiro de abril de mil novecentos e oitenta e três.

    A aboio é cantado por uma voz feminina reverenciando seu Mané.

    “Eu gosto de aboiar

    E tenho prazer de ser vaqueiro

    Pra falar em seu Mané

    Eu aboio o ano inteiro

    Aceite os parabéns

    De toda família Cordeiro

    Eh boi a ei.”

    Marinês, filha do aboiador Zé Preto, homenageou o pai na noite em que houve a festa do aboio, na Escola Estadual Jocelyn Veloso Borges. Ela cantou:

    “Escrevi essa toada

    Com muita dedicação

    Ao Senhor seu Zé Preto

    Que morava em Riachão

    Filhos, esposa e netos

    E um aperto de mão

    Ôi…”

    No dia do Festival de Aboio, realizado no município de São José, em 03 de dezembro de 2005, a professora Maria das Neves Araújo (Lila), cantou louvando a realização do projeto naquela cidade. Vejamos algumas estrofes:

    “Foi na casa de Jessé

    Que o projeto iniciou

    Laura plantou a semente

    E a mesma germinou

    E hoje três de dezembro

    Ele se realizou

    Ôi…

    Seu Zé Preto, eu agradeço

    Por seu serviço prestado

    Hoje aqui em São José

    O senhor está gravado

    Os seus versos e o gibão

    Já ficaram registrados

    Ôi…”

    (3/12/05)

    Zé Preto, vaqueiro com quase oitenta anos, em 2005, definia o aboio da seguinte forma: “É a música de chamar o gado, é coisa muito véia, muito antigo. É da antiguidade”.

    Foto publicada por Luizberto para homenagear Zé Preto,o vaqueiro aboiador das coisas do sertão (* 15.05.1926 + 23.03.2010) no Besta Fubana

    No percurso da pesquisa, conversei com os vaqueiros mais idosos de São José dos Ramos e perguntei como eles definiam o aboio. Seu Leonel José dos Santos, oitenta e seis anos, afirma o seguinte: “É o canto que o gado entende, que o gado ouve, é um canto penoso, boniiito… O vaqueiro cantando uns três aboio, mermo o gado tando longe, eles vêm. Eu vou cantar um aboio que eu fazia:

    Vaqueiro que é vaqueiro

    Amansa o gado e quer bem

    Todo dia vai ao campo

    E conta a boiada que tem

    Quem não gostar de vaqueiro

    Não gosta de mais ninguém

    Oh! Festa de gado! Êh, boi!”

    E acrescentou ainda: “Ôto dia venha aqui pra eu cantar aboio bonito; hoje, só tem besteira. A idade tá crescendo e tenho que ver devagazinho.” (02/11/05)

    O curta-metragem paraibano “O Som do Aboio”, lançado em abril de 2012, na festa do padroeiro, em São José dos Ramos (PB), foi premiado com o troféu D. Mercês, na categoria melhor Documentário, no II Cinecipó – Festival de Cinema Socioambiental da Serra do Cipó, realizado em julho do mesmo ano em Santana do Riacho, Minas Gerais.

    Zé Preto na foto publicada no Besta Fubana

    “sou neto de zé preto de quem me orgulho demais
    a saudade bate no peito é dor que não acaba mais
    mas tantas vezes consigo vêlo
    pelas feições do meu pai”

    SILVANIO CORREIA DA SILVA | 20 de fevereiro de 2013 às 12:00

    *

    ABOIO, o canto que encanta: uma experiência com a poesia popular cantada na escola

    MARIA LAURA DE ALBUQUERQUE MAURÍCIO JOÃO PESSOA – 2006

    Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós–Graduação em Letras, área de concentração em Linguagem e Ensino, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM LETRAS

          1. Parceirinho

             

            Você tava “intrujado” no meio desses cantantes magistrais do Coral de Câmera do Ceará?

            [Coral+do+Ceará.jpg]

            Eu bem sei que você já cantou “O bonde e as Moças” – tá melhorando, uai!

            Se ocê tava lá, parabéns procê: mandou bem.

            Cê vai longe…

          2. Dom JNS tá cego?

            E surdo?

            Num tá cansado de me ver e ouvir naum?

             

            Eu sei que você entende e gosta muito de caldo de pinto, porém está sendo um parceiro caldo de bila (cabeçulinha, bola de gude, etc…)

            Nem reconhece direito o Veim…

          3. Assim não dá, Tenor

             

            “Que que que, quem é, quem é é vo vo você?”

            Eu sei que voce ainda vai dar um grande músico, mas ainda é cedo, não se desepere – vá com muita calma nesta hora.

            O Tenor do Ceará tá apenasmente matando o pau e mostrando a cobra (cansada da luita).

            Prá que complicar, se você pode simplificar: Sem a careca e o boné, como vou te achar?

            [ A frade aí de riba dá música e falta de ar em qualquer compositor amador ].

            Só o Pata sabia transformar o pó do chão em ouro em pó.

            [video:http://youtu.be/PLPp_tlWvUM width:600 height:450]

            Acho que você é o sujeito que tá olhando de “mei-de-menesguei” pro lado, tendo à esquerda, cinco pessoas e, à sua direta, outras quatro, localizadas ao fundo da foto, em pé.

            Mas, pó pará!

            “Para que pensemos e repensemos em nossas vidas, e sejamos mais fraternos, menos egoístas e justos” – Luciano Hortencio

            Eu não quero saber do Terço, da Missa e nem da Hóstia consagrada.

            Eu só quero saber o que vai rolar depois da reza, prá nóis farrear.

            Não me convide prá pedir a benção do Padre.

            Nem a Pastor ou Pai-de-Santo.

            Não sou chegado…

            Fui!

    1. PORTAL GRANDE SERTÃO

      “Lá em cima daquela serra,

            passa boi, passa boiada,

            passa gente ruim e boa,

            passa a minha namorada.”

      — Francolim, você hoje está analfabeto. Pensa mais, Francolim!

      “O Curvelo vale um conto,

           Cordisburgo um conto e cem.

           Mas as Lages não tem preço,

           Porque lá mora o meu bem”

      Assim, eu tivesse muito ódio, Diadorim havia de me entender. Mas eu estava acontecido. Por exemplo, vinha uma boiada, que passou, no bombalanceio. Aqueles vaqueiros, esses com os laços enrodilhados nas garupas, e que, por prazer,aboiavam. Apreciei de ver como todos souberam jeito de esconder o medo que de mim deviam de ter. Boiada com rumo na barra do Paracatu, salvante que mudassem de roteiro. Mas a gente ia por lados contrários. Deles até carneamos duas reses. Se assou carne na moda do povo dos Gerais – que era com espeto de vara de folha-miúda, tanto tempo se esbrazeando para estorricar, o naco de carne se torrava como um fumo, e o gosto daquele cheiro se supria forte, só por si punha a boca da gente aguando. Dada a mais cachaça ao menino Guirigó e ao cego Borromeu: para eles falarem coisas diferentes do que certas, por em si desencontradas, diversas de tudo. Conselhos me davam? Mesmo só o igual ao que pudesse dar o cajueiro-anão e o araticum, que – consoante o senhor escrito apontará – sobejam nesses campos. Mas a minha sina formava o rebrilhar; em tudo, digo ao senhor. Conforme fatos houve.

      [video:http://youtu.be/150x97qZQvI width:600 height:450]

      O Major Saulo indicava, mesmo na beira do estacado, um boi esguio, preto-azulado, azulego; não: azul asa-de-gralha, água longe, lagoa funda, céu destapado — uma tinta compacta, despejada do chanfro às sobre-unhas e escorrendo, de volta, dos garrões ao topete — concolor, azulíssimo.

      — É inteiro… Não, é roncolho. Mas bonito como um bicho de Deus!…

      — É só de longe, seu Major. De perto, ele é de cor mais trivial…

      — E que me importa? Não quero esse boi para ser Franco um, que não sai de perto de mim… Há-há… Aparta, já, também. E vamos, vamos com Deus, minha gente. Dá a saída, Bastião. Ver com isso, compadre Manico!

      Pobre burrico Sete-de-Ouros, que não tem culpa de s er duro de boca, nem de ter o centro-de-gravidade avançado para o trem anterior do corpo…

      — Toca, gente! Ligeiro! Faz parede!

      Sebastião entrou no curral. Zé Grande, o guieiro, sopra no berrante. Os outros se põem em duas alas divergentes — fazem paredes, formando a xiringa

      . Sinoca escancara a porteira, que fica segurando. Leofredo, o contador

      , reclama:

      —Apertem mais, p’ra o gado sair fino, gente! Ajusta, Juca, tu não sabe

      Fazer o gado? Ei, um!…

      É o primeiro jacto de uma represa. Saltou uma vaca china, estabanada, olhando para os lados ainda indecisa. — Dois! — Pula um pé-duro mofino, como veado perseguido.

      Passam todos. Três, quatro, cinco. Dez. Quinze. Vinte. Trinta.

      — Hê boi! Hê boi! Hê boi-hê boi-hê boi!…

      — Cinqüenta! Sessenta!

      — Rebate esse bicho bezerro. P’ra um lado! Não presta, não pesa nada.

      — Oitenta! Cem!

      Cerca o mestiço da Uberaba. Topa, Tote!… Eh bicho bronco… Chifre torto, orelhudo, desinquieto e de tundá! —exclamam os vaqueiros, aplaudindo um auroque de anatomia e macicez esplêndidas, que avançou querendo agredir.

      — Estampa de boi brioso. Quando corre, bate caixa, quando anda, amassa o chão!

      Agora é o jorro, unido, de bois enlameados, com as ancas emplastadas de sujeira verde, comprimidos, empinados, propelindo-se, levando-se de cambulhada, num atropelo estrugente. Os flanqueadores recuam, alargando o beco.

      — Eh, boi!… Eh, boi!…

      — Quatrocentos e cinqüenta.., e sessenta. Pronto, seu Major.

      Corta de lado o Major Saulo, envolto na capa larga, comandando:

      — Dianta, Leofredo! Da banda de lá, Badú!

      Vão, à frente, Zé Grande, tocando o berrante, e Seb

      astião, que solta a toda a garganta o

      primeiro aboio, como um bárbaro refrão:

      — Eêêê, bô-ôi!…

      Escalonados, do flanco direito, Leofredo,Tote, Sinoca e Benevides. Da banda esquerda, Badú, Juca Bananeira, Silvino e Raymundão.

      — Boiada boa!.., proclama o Major, zarpando.

      — Burrico miserável!… — desabafa João Manico, cravando as esporas nos vazios de Sete-de-Ouros, que abana a cabeça, amolece as orelhas, e arranca, nada macio, no seu viageiro assendeirado, de ângulo escasso, pouca bulha e queda pronta.

      Caniço de magro, com um boné de jóquei no crânio, lá vai Francolim, logo atrás do Major.

      —Eh,boi!… Eh,boi…

      E, ao trompear intercadente do berrante, já ecoam as canções:

      “O Curvelo vale um conto,

       Cordisburgo um conto e cem.

       Mas as Lages não tem preço,

       Porque lá mora o meu bem”

      Nenhum perigo, por ora, com os dois lados da estrada tapados pelas cercas. Mas o gado gordo, na marcha contraída, se desordena em turbulê ncias. Ainda não abaixaram as cabeças, e o trote é duro, sob vez de aguilhoadas e gritos.

      — Mais depressa, é para esmoer?! — ralha o Major.

      — Boiada boa!

      O texto contem escritos de Rosa extraídos de “Grande Sertão: Veredas” e “Sagarana”

  4. Adoraria saber de que ano é essa foto – minha avó (Esther) está nela. Permaneceu a vida toda atuando em corais (Madrigal e Coral de Câmara do Ceará) e eu adoraria poder saber mais sobre essa foto.

    1. Sua avó, Esther Hollanda Arantes era minha boa amiga e colega dos corais Canto do Aboio, Coral do Esatado do Ceará e Coral de Câmera do Ceará. Gostava muito dele, sempre alegre e animada. Acompanhava-nos nas farras depois dos ensaios, embora não bebesse um gole de álcool. Vale ressaltar que as farras eram comportadas. Umas cervejinhas e jantar.
      Quando Esherzinha faleceu eu estava na Europa e não pude comparecer, porém jamais esquecerei da boa amiga.
      Sua mãe ou tia, Virgínia Esther, também passou pelo Canto do Aboio, porém acho que por pouco tempo.
      A foto é do ano de 1968.
      Forte abraço do luciano

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