Enviado por Felipe A. P. L. Costa.
Jerusalém, Jerusalém… Ou Alto da Serafina.
Por Ruy Belo [*].
Que importa que morramos se a tarde é de sol
e o céu se abre às lágrimas
que sobre a cidade choras?
Esmagam-se lá longe contra a igreja as casas
aonde os homens nascem e aceitam
a grande humilhação da morte
onde as mulheres acenam tristemente panos sujos
de não dizerem adeus a nenhum barco
onde já ninguém sabe onde os anos começam
Pesadamente vão caindo os sinos
e tu a um e um desfolhas
os olhos sobre o tempo
O que trocamos são crostas de silêncio:
tivéssemos em teu reino o lugar
que esta folha de outono tem sobre o asfalto
e a espaços certa música na alma
Que importa que morramos se o passado está certo
se voltas para nós a mágoa que te molha a face
de virmos de tão longe tendo-te tão perto?
*
NOTA.
[*] Rui [de Moura Ribeiro] Belo (1933-1978). Extraído do blogue Poesia Contra a Guerra, o poema foi originalmente publicado em livro (Aquele grande rio Eufrates) em 1961.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.