Sobre a melancolia

Em dia que é anunciada a melancolia de Chico Buarque – ou seu novo disco (ou é álbum?) – e o meu “player” toca Let it Be, e depois Metallica, penso, obviamente, na melancolia. Uai, mas de onde veio, nestes tempos eufóricos? Em que grotão tu resistes, ó Musa insuperável? Estás novamente de caso com a empolgação dos tempos? E serás tu a luz ou a sombra? A escuridão do nada restante ou do caos criador?

Anunciar a meloncolia como qualidade é coisa que só o Chico pode fazer. Só ele sabe fazer. Alegrar-nos com sua alma inapelavelmente triste, irremediavelmente triste, e que mergulha no mais profundo da tristeza, para virá-la do avesso.

MasaMas, aos lados da arte, esta que sobrevive não sei como, nem exatemente em que lugar, precipitam-se inabaláveis as corredeiras do mundo, rumo ao seu patético e trágico destino. Sem arte, mas com muita malandragem. Eh, Chico, esse que manda pôr mais água no feijão, esse que alimenta um batalhão, e que zomba dos malandros. Ah, o federal, esse é federal! Ninguém ganha. O Chico moleque desbocado, de quem nem a alma das mulheres escapa. E agora, melancolia! Sim, melancolia.

Esse festival, esse covil, esse país, essas palavras de Holanda, por que tudo está assim? Assim, de mão lançada, de Orly despedaçada, tomada por aventureiros. Por quê? Por que falta Vinìcius? Ah, Vinícius falta faz, e Toquinho também está triste, faz tempo. E nós… nós não, nós aumentamos a borracha da máscara, ou a espessura do verniz. E vamos levando, só levando…

Todos metem o pau na família, mas nenhum deles é Nelson Rodrigues. O generoso e implacável Nelson a desbaratava, mas adorava. E quanto mais ácida e corrosiva fica essa água, dessa corredeira, desses dias, mais condenam a família, mais a esquecem, mais a executam, na dureza e na frieza dos tempos, dessa melancolia de onde nada resta. Mas esta última não é a melancolia de Chico, de jeito nenhum. Esta última, por Chico, é a melancolia denunciada! A escrachada, e não a que nos deixa um tanto tristes. É que deixa o poeta do tempo indignado.

Quanto mais a acusam, e mais a crucificam, mais se degenera o tempo, menor a arte, maior a pequeneza. Mais careta é o tempo. Mais cara-de-pau, mais canalha, perdoem este termo, que não deveria figurar nos textos, nem ser protagonista. Quando muito o vilão, mas nunca o herói, nem o anti-herói, com hífen, por favor, fica mais bonito. Mas parece que hoje ele domina.

Ah, a melancolia…

Luis Nassif

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