Uma boa lista de filmes e documentários para incluir na agenda

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Assis Ribeiro

Do Sul 21

Sul21 recomenda documentário sobre Serra Pelada, BR Trans e muito mais

Milton Ribeiro e Débora Fogliatto

Um excelente documentário sobre Serra Pelada e um elogiado filme francês que não nos agradou plenamente são os destaques do fim-de-semana do cinéfilo. Indicamos o francês — Camille Claudel, 1915, com Juliette Binoche — pelo “benefício da dúvida”, o qual sempre absolve o acusado. Já Serra Pelada — A Lenda da Montanha de Ouro é um documentário parrudo, consistente e belamente realizado.

O coletivo cearense As Travestidas continua  em Porto Alegre e apresenta agora o monólogo de Silvero Pereira, BR Trans, um dos destaques cênicos deste final de semana. Outras boas peças são Incidente em Antares, do Grupo Cerco, baseada na obra de Erico Verissimo, e Na Solidão, que mistura teatro e dança. Também continuam em exibição Polaroides Made in Dança e O Apanhador

 

Todas as sextas, o Sul21 traz indicações de filmes, peças de teatro, exposições e música para seus leitores. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O critério é a qualidade. Se você tiver sugestões sobre o formato e conteúdo de nosso guia, por favor, comente.

Cinema – Estreias

Serra Pelada — A Lenda da Montanha de Ouro (****)
, de Victor Lopes, 2012, Brasil, 100 min

serra pelada
Este excelente documentário investiga a lenda e os fatos por trás de Serra Pelada, no sul do Pará, o maior garimpo a céu aberto do planeta. Para que não sabe, na década de 80, no coração da floresta amazônica, 115 mil homens garimparam algo entre 30 (número oficial) e 100 toneladas de ouro, carregando aos pedaços, em suas costas, uma montanha de 150m de altura. Hoje devastada, Serra Pelada se transformou num lago de 150 metros de profundidade, cercado por miséria, disputas e lendas. A aventura da maior corrida do ouro do século XX, e a segunda maior concentração de trabalho humano depois das pirâmides do Egito, é uma história que não acabou de ser contada.

http://www.youtube.com/watch?v=OtRASMNlUug]

No Cinebancários, às 15, 17h, e 19h

Camille Claudel, 1915 (***)
(Camille Claudel, 1915), de Bruno Dumont, 2013, França, 95 min

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Paris, início do século XX. A jovem escultora Camille Claudel (Juliette Binoche) entra em conflito com sua família ao tornar-se assistente de Auguste Rodin. Quando se torna amante do mestre, cai em desgraça junto à sociedade parisiense. O relacionamento é difícil e Camille rompe a ligação, mergulhando cada vez mais na solidão e na loucura. Em 1913, por decisão do seu irmão, o escritor Paul Claudel, é internada num manicômio. Porém, por mais que Camille tente convencer todos à sua volta que aquele lugar apenas piora o seu estado e que, ao afastar-se da arte, aproxima-se cada vez mais da loucura, nada os demove. Ali, isolada do mundo e impedida de se expressar através da escultura, Camille viverá três décadas, até falecer em 1943. Bom filme, mas por demais lacrimoso para o gosto deste comentarista.

http://www.youtube.com/watch?v=y3N2E0n-HZI]

O homem que ri (****)
(L’Homme qui rit), de Jean-Pierre Améris, 2012, França, 95 min

Lhomme qui rit
Esta é a terceira versão cinematográfica de O homem que ri, romance de Victor Hugo publicado em 1869. Trata-se de um retrato crítico da aristocracia. O filme para em pé sem maiores problemas, mas é uma versão light da velha e boa história. No original, o rosto do garoto, deformado por uma cicatriz que faz com que ele pareça estar sempre sorrindo, é assustador. Aqui, ele está até bonitinho. Ele é Gwynplaine e, junto com uma garota cega, Déa, é recolhido por um artista e mercador ambulante, Ursus (Gérard Depardieu). Eles se incorporam ao espetáculo mambembe e Gwynplaine passa a viver da curiosidade despertada no povo por sua cicatriz, habilmente explorada pela maquiagem. Os temas do romance aparecem, principalmente a questão das diferenças, exploradas pela curiosidade popular e, depois, pela não menos mórbida adoração da aristocracia pelos seres disformes.

http://www.youtube.com/watch?v=AogmtDko8es]

Nove crônicas para um coração aos berros (***)
, de Gustavo Galvão, 2012, Brasil, 93 min

Nove cronicas para um coração aos berros

Filme independente realizado em Brasília. No elenco, o destaque fica para a atriz Simone Spoladore. São nove histórias aparentemente sem conexão. Larissa não gosta mais de Mário; Leopoldo não sabe se vai ou se fica; Júlio ainda vive com a mãe; Simone cansou de ser prostituta; Vanise se lembrou o que significa ser mulher; Philipp não quer voltar para a Alemanha; Carol carrega um cemitério de lembranças; André quer fazer uma música diferente; Denise decide viver novas experiências enquanto há tempo. Trata-se de um mosaico de relações humanas e situações cotidianas, através de homens e mulheres de diferentes idades que sentem intensa necessidade de mudança, cada um a seu modo.

http://www.youtube.com/watch?v=vEee2AV18D4]

Gravidade (****)
(Gravity), de Alfonso Cuarón, 2013, EUA / Inglaterra, 90 min

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Superprodução norte-americana de 100 milhões de dólares e candidato certo a diversas premiações, Gravidade conta a história de Matt Kowalski (George Clooney) — lembram do Kowalski da série Viagem ao Fundo do Mar, aquele que se ralava em todos os episódios, a vítima preferida dos monstros?, pois é –, um astronauta experiente que está em missão de conserto ao telescópio Hubble, juntamente com a doutora Ryan Stone (Sandra Bullock). Os dois são surpreendidos por uma chuva de destroços decorrente da destruição de um satélite por um míssil russo — ah, esses russos! –, que faz com que sejam jogados no espaço sideral. Sem qualquer apoio da base terrestre da NASA, eles precisam encontrar meios de voltar para casa. É um excelente filme, apesar do ar de coisa vista e revista.

http://www.youtube.com/watch?v=RgevUaS-7nI]

A bela que dorme (*****)
(La Bella Addormentata), de Marco Bellocchio, 2012, França/ Itália, 115 min

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Novo filme do veterano e competente Bellocchio (VincereBom dia, noite). Eluana Englaro está em coma vegetativo há 17 anos. Entre polêmicas religiosas e morais, seu caso é levado ao parlamento italiano, que pode decidir desligar os aparelhos que a mantêm viva. O caso de Eluana reflete na vida de diversos personagens, com crenças e ideologias muito diferentes. Um senador de esquerda, que sempre acreditou na morte digna para enfermos, sofre pressões do partido conservador pelo qual foi eleito. Sua filha, Maria, é uma militante católica que decide protestar em frente à clínica onde ocorre a hospitalização de Eluana. No local, ela conhece Roberto, cujo irmão é um feroz defensor da eutanásia. Uma mulher, presa a aparelhos, pede em segredo ao marido que acabe com seu sofrimento, mas o pedido chega aos ouvidos da filha. Ao mesmo tempo, uma mãe religiosa cuida da filha em coma, enquanto negligencia o resto da família. Por fim, uma mulher dependente de drogas deseja a todo preço cometer suicídio, mas não consegue escapar à vigilância de um médico idealista, que pretende lhe dar uma nova razão para viver. Belo filme.

O Capital (***)
(Le Capital), de Costa-Gavras, 2012, França, 113 min

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O Capital segue a ascensão de Marc Tourneuil, um empresário sem muitos problemas morais como gestor de um dos mais importantes bancos europeus. Costa-Gavras, com seu estilo direto, mostra alguns dos jogos de poder que garantem o aumento de capital e constante enriquecimento dos bancos. O filme pretende expor as origens e consequências da crise econômica e a responsabilidade moral das instituições bancárias nas vidas do cidadão comum. Como o habitual, o diretor garante narrativa fluida e segura, assim como certa superficialidade para tratar temas complexos. Não obstante, vale a pena.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=MTPNc8wS7YE

O Tempo e o Vento (***)
(O Tempo e o Vento), de Jayme Monjardim, 2013, Brasil, 115 min

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Superprodução da Globo Filmes, com roteiro desenvolvido em cinco anos e 27 diferentes versões gravadas tem um resultado digno, se bem que muito aquém da obra original. E não havia como ser diferente, pois é impossível condensar O Continente, primeira parte de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, em duas horas. Como os leitores do Sul21 devem conhecer a história, adiantamos que a narrativa parte de Fernanda Montenegro, que interpreta Bibiana, personagem central da história, que já quase centenária narra o seu amor pelo capitão Rodrigo Cambará, o qual é vivido por Thiago Lacerda. Na juventude, Bibiana é interpretada por Marjorie Estiano. Cleo Pires faz Ana Terra, a avó de Bibiana, e José Henrique Ligabue é Antônio Terra, irmão de Ana. Merece ser visto.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=K_z1uhHdkgE

Flores Raras (***)
, de Bruno Barreto, 2013, Brasil, 118 minutos

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Ambientado Rio de Janeiro das décadas de 1950 e 60, Flores Raras narra o romance real entre a poeta norte-americana Elizabeth Bishop (interpretada pela australiana Miranda Otto) e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires, na que muitos dizem ser a melhor atuação de sua carreira). A história começa quando Elizabeth vai ao Brasil passar alguns dias na casa de sua amiga Mary (Tracy Middendorf), que vive com Lota, e se desenvolve durante os cerca de 17 anos que a poeta permanece no país. O fato de tratar do amor entre duas mulheres não define a trama, que o trata de forma sensível, verossímil e intensa. O filme do diretor Bruno Barreto (de Última Parada 174Bossa Novae e A estrela sobe) abriu o Festival de Gramado deste ano, que também entregou para a protagonista Glória Pires o Troféu Oscarito. O longa é quase todo falado em inglês.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=XNXTCs8-M1s

Adeus, minha Rainha (****)
(Les adieux à la Reine), de Benoît Jacquot, França / Espanha, 2012, 100 minutos

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A história de Maria Antonieta e dos fatos que conduziram à Revolução Francesa são bastante conhecidos e já foram adaptados muitas vezes para o cinema. Esta versão da história é excelente, preferindo colocar seu foco na mais na intimidade e menos na efusão, como fez, por exemplo, Sofia Coppola em sua Maria Antonieta. Enquanto lá fora o mundo desaba, no Palácio de Versalhes parece existir microcosmos que gradualmente são minado pelas intrigas internas e pelos acontecimentos exteriores, enquanto uma Rainha tem na sua leal leitora uma súdita fiel. Adeus, Minha Rainha apresenta um mosaico de figuras díspares. Não temos apenas a realeza abastada, os cenários faustosos, mas também os empregados, as pessoas humildes que vivem na obscuridade e que convivem num mundo à parte da corte. Longe da versão “pop” de Sofia Coppola ‘Adeus à Minha Rainha” mantém o tom de filme de época, numa obra visualmente deslumbrante. Destaque para o trio de belas e competentes atrizes que as protagonistas: Léa Seydoux, Diane Kruger, Virginie Ledoyen.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=Tb0ASfPYM4g

Frances Ha (***)
(Frances Ha), de Noah Baumbach, 2012, EUA / Brasil, 86 minutos

Greta Gerwig
Co-produção entre Estados Unidos e Brasil, Frances Ha conta a história de uma jovem mulher tentando realizar seus sonhos como bailarina em Nova York. A protagonista Frances (interpretada por Greta Gerwig, que também colaborou com o roteiro) começa o filme dividindo o apartamento com uma amiga, mas quando a sua amiga precisa se mudar, ela passa a morar com dois rapazes que mal conhece. Assim segue a jornada de Frances em busca da moradia ideal, do emprego dos sonhos e de conseguir se sustentar. A partir dessa história, o diretor Noah Baumbach (de A Lula e a Baleia) retrata a vida da protagonista sem buscar transformá-la num belo romance. O longa — filmado em preto e branco — trata da rotina de uma jovem que não consegue realizar seus sonhos. E por isso é tão atraente: a personagem Frances é comum e humana, não realiza atos heroicos ou notáveis como pessoa ou como bailarina. Ao trazer para as telas uma história que não foge das complicações da vida real, o filme de Baumbach por vezes se parece com um documentário, e a complexidade da personagem colabora ainda mais para que se tenha essa impressão.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=4EmU4vSL8jQ

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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