Vinicius e sua banheira da criação

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Vinicius de Moraes e a sua banheira

Vinícius de Moraes em sua banheira, o seu local de trabalho, onde concedia entrevistas, recebia amigos e criava poemas e canções. No dia 09 de julho de 1980, depois de passar a madrugada compondo com o seu parceiro Toquinho, o poetinha sentiu-se mal dentro da banheira vindo a falecer pouco depois.

A foto é de autoria desconhecida e foi tirada no Rio de Janeiro, década de 1970.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

14 Comentários

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    1. Muito louco isso…

      Muito louco isso né Luciano?

      O roteirista e romancista estadunidense James Dalton Trumbo também tinha essa mania, não sei quem copiou quem. Diz a lenda que Vinicius de Moraes enchia a banheira de uísque. 

       

      1. Zequinha Marques da Costa

         

        Pois é, cara Tamára. Cada mania com seu doido de estimação. O Zequinha da foto é o “agitador Cultural” Zequinha Marques da Costa. Helena Jobim, em Tom Jobim, Um Homem Iluminado, menciona o fato dos dois tomarem  habitualmente banho na jacuzzi, bebericando… Não transcrevo porque não achei agora o livro…

        Abraço do luciano

        Aproveito e mando mais um vídeo da excelente Áurea Martins interpretando Vinícius!

         

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=oLRI2UO8BDM%5D

         

          1. Mais uma bela interpretação

            Mais uma bela interpretação desta, hoje, esquecida cantora. 

            Obrigada caro amigo. Mais um vídeo a ser guardado com carinho. 

  1. A foto do joelho

    Pra quem não viveu os tempos marrudos, o poetinha era um sujeito crítico ao regime das fardas. Um poeta de palavras e de gestos. Nessa foto, ele colocou em seu seu joelho Magalhães Pinto, grande articulador do tenebroso golpe militar. Vê-se pela expressão do cujo, seu desconforto de estar num ambiente limpo ao qual os banqueiros não são muito chegados. 

     

    Pátria Minha

    Vinicius de Moraes

    A minha pátria é como se não fosse, é íntima
    Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
    É minha pátria. Por isso, no exílio
    Assistindo dormir meu filho
    Choro de saudades de minha pátria.

    Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
    Não sei. De fato, não sei
    Como, por que e quando a minha pátria
    Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
    Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
    Em longas lágrimas amargas.

    Vontade de beijar os olhos de minha pátria
    De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
    Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
    De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
    E sem meias pátria minha
    Tão pobrinha!

    Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
    Pátria, eu semente que nasci do vento
    Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
    Em contato com a dor do tempo, eu elemento
    De ligação entre a ação o pensamento
    Eu fio invisível no espaço de todo adeus
    Eu, o sem Deus!

    Tenho-te no entanto em mim como um gemido
    De flor; tenho-te como um amor morrido
    A quem se jurou; tenho-te como uma fé
    Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
    Nesta sala estrangeira com lareira
    E sem pé-direito.

    Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
    Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
    E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
    Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
    À espera de ver surgir a Cruz do Sul
    Que eu sabia, mas amanheceu…

    Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
    Amada, idolatrada, salve, salve!
    Que mais doce esperança acorrentada
    O não poder dizer-te: aguarda…
    Não tardo!

    Quero rever-te, pátria minha, e para 
    Rever-te me esqueci de tudo
    Fui cego, estropiado, surdo, mudo
    Vi minha humilde morte cara a cara
    Rasguei poemas, mulheres, horizontes
    Fiquei simples, sem fontes.

    Pátria minha… A minha pátria não é florão, nem ostenta
    Lábaro não; a minha pátria é desolação
    De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
    E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
    Que bebe nuvem, come terra 
    E urina mar.

    Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
    Uma quentura, um querer bem, um bem
    Um libertas quae sera tamem
    Que um dia traduzi num exame escrito:
    “Liberta que serás também”
    E repito!

    Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
    Que brinca em teus cabelos e te alisa
    Pátria minha, e perfuma o teu chão…
    Que vontade de adormecer-me
    Entre teus doces montes, pátria minha
    Atento à fome em tuas entranhas
    E ao batuque em teu coração.

    Não te direi o nome, pátria minha
    Teu nome é pátria amada, é patriazinha
    Não rima com mãe gentil
    Vives em mim como uma filha, que és
    Uma ilha de ternura: a Ilha 
    Brasil, talvez.

    Agora chamarei a amiga cotovia
    E pedirei que peça ao rouxinol do dia
    Que peça ao sabiá
    Para levar-te presto este avigrama:
    “Pátria minha, saudades de quem te ama…
    Vinicius de Moraes.”

    1. Sei que ele foi expulso do

      Sei que ele foi expulso do Itamaraty, uns dizem que através de um memorando em que Costa e Silva o chamava de vagabundo, e que ele recebeu o comunicado mergulhado em sua banheira e caiu em prantos. Que eu me lembre, Costa e Silva também usava esse tipo de óculos. 

      1. Pois é. Mas “cabeça de

        Pois é. Mas “cabeça de joelho” só tinha um. A brincadeira que o Vinicius faz nessa foto era conhecida. O Jô Soares, na época em que era um cara normal, fazia esse truque no palco. E pedia que não o fotografassem, pois sabia que podia ocorrer depois. Outros tempos, outros tempos.

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