Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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1º de Maio de lutos, poucas lutas e muitos desafios, por Francisco Celso Calmon

Diante dos números de mortes de brasileiros na pandemia, o presidente afirmou que não faz milagres, tripudia sarcasticamente cada morte como se fosse um simples deletar de CPF.

1º de Maio de lutos, poucas lutas e muitos desafios

por Francisco Celso Calmon

O dia 1º de maio, escolhido para marcar e lembrar as muitas e difíceis lutas da história dos trabalhadores no mundo, pois fora nesse dia, em 1886, na cidade de Chicago, EUA, que os operários enfrentaram intensa repressão policial, por reivindicarem melhores condições de trabalho e, sobretudo, uma jornada de oito horas. Nesse evento houve trabalhadores que foram agredidos, presos e até mortos, e tornaram-se símbolos de luta para a classe trabalhadora.

No Brasil o 1º de Maio é celebrado desde 1895 e ganhou maior adesão a partir da Greve Geral de 1917.

No Estado Novo, este dia passou a ser comemorado com a presença de governantes, com proeminência do presidente Getúlio Vargas. O presidente fazia um discurso e anunciava uma nova medida de benefício aos trabalhadores. O salário mínimo, a Justiça do Trabalho e a CLT são exemplos das iniciativas informadas ao público naquela época. O Primeiro de Maio se transformou num congraçamento.

Em 1963, no governo Jango, o Primeiro de Maio consistiu num almoço do presidente com as lideranças dos trabalhadores, no Rio, num restaurante do SAPS (Serviço de Alimentação da Previdência Social), primeira rede de restaurante popular no Brasil. Ao sair foi carregado por uma multidão de operários.

No dia 30 de março de 1964, o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) advertiu para o perigo de golpe e convocou greve geral para se opor a essa iminência. O golpe veio no dia 1º de abril e a greve não aconteceu. Os golpistas fecharam o CGT, seus dirigentes foram presos, torturados, e condenados a anos de cárcere.

A organização sindical foi densamente abatida: 452 sindicatos sob intervenção e a imprensa operária e sindical proibida. Foi implantado o arrocho salarial nesse período. E o 1º de maio passou a ser dividido: os pelegos intervencionistas comemoravam com as autoridades estaduais e os líderes não-pelegos se manifestavam contra a situação, enfrentando ou driblando a repressão, de forma que marcava num local, chegando no mesmo havendo policiais, ali era informado, boca-a-boca, um outro local, e assim, nos primeiros anos da ditadura, foi o dia de luta dos trabalhadores em algumas capitais como no Rio de Janeiro.   

Em abril de 1968, 15 mil metalúrgicos de Contagem, MG, entraram em greve e mostraram a disposição da classe operária mineira, conquistaram um abono de 10%.

E o 1º de maio desse mesmo ano, na Praça da Sé, em São Paulo, trabalhadores apedrejaram o palanque onde estavam os pelegos e o governador biônico (imposto pela ditadura), Abreu Sodré. Os trabalhadores mostraram naquele ato que não estavam dispostos a pactuar com os representantes da ditadura e com os sindicalistas pelegos.

Em julho do mesmo ano, teve início a greve dos metalúrgicos de Osasco, organizada pela base, mas sufocada pela repressão, que não quis nem negociar. Decretaram intervenção no Sindicato de Osasco, invadiram as fábricas e prenderam muitos grevistas.

Em 13 de dezembro de 1968 a ditadura decretou o Ato Institucional de número 5 – AI5. E com ele o Estado se transformou num Estado terrorista, com poderes ilimitados, sem capa e pudor, para destruir qualquer réstia de liberdade democrática.

A Resistência passou a ser feita por grupos armados, culminado com a guerrilha do Araguaia, cujo extermínio em 1974, constitui uma página de terror macabro produzido pelo Exército brasileiro.

 A reanimação do movimento operário voltaria após 1977, no ABC paulista.

Em maio de 1978, em São Bernardo do Campo, São Paulo, cerca de 2 mil metalúrgicos, nas fábricas de caminhões da Saab-Scania, paralisaram pela reivindicação de 20% de aumento dos salários. No contexto de arrocho salarial e do fim do chamado milagre econômico no Brasil, o movimento logo se alastrou para outras empresas, como a Ford, Mercedes-Benz e Volkswagen.

Em 1979, nova onda grevista em Osasco e Guarulhos (SP) e outras localidades; desta feita, além dos metalúrgicos, teve a participação de outras categorias profissionais: professores, bancários, operários da construção civil, funcionários públicos, jornalistas, médicos, garis e outras.

Em 1980, uma nova greve ocorreu em São Bernardo do Campo, durando 41 dias e mobilizando 300 mil metalúrgicos. Essa foi organizada contra a vontade das antigas direções sindicais e sem necessidade de piquetes. Viciados a ceder nas negociações com os governos, os velhos dirigentes dos sindicatos da região ficaram pra trás, superados por novas lideranças, dentre elas Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

O 1º de Maio de 1980 na cidade de São Bernardo do Campo, ocorreu em plena greve do ABC paulista, quando completava 30 dias, com os sindicatos de São Bernardo e Diadema sob intervenção. Desde cedo da manhã carros da polícia com as sirenes ligadas criavam o clima de guerra. Os trabalhadores foram para dentro da igreja matriz, que não coube, pois chegavam trabalhadores de toda parte. Os oito mil policias se viram cercados por cem mil manifestantes, entre operários, estudantes, artistas, intelectuais e parlamentares da oposição, que negociaram a retirada do aparato.  Ali surgiu também pela primeira vez o grito “Lula livre”, pois ele e outros dirigentes haviam sido presos algumas semanas antes.

Os manifestantes saíram em marcha, entoando “Trabalhador unido jamais será vencido”, até o estádio onde realizaram o ato pelo dia universal de luta do trabalhador.

A imprensa golpista, como sempre, fez uma cobertura capciosa, hostil e desfigurada da greve.

Lula em depoimento à Comissão Nacional da Verdade declarou: “Os militares cometeram a burrice de me prender com 17 dias de greve. Foi um motivo a mais para a greve continuar. Houve passeatas e mobilização até com o Vinicius de Moraes”. 

Aquele 1º de Maio foi o auge das lutas dos metalúrgicos do ABC paulista e espraiou por todo o Brasil como epicentro da luta contra a ditadura.

No Rio de Janeiro, a extrema direita dos militares, da qual há indícios de que o atual presidente genocida do Brasil fazia parte e teria feito o croqui para o atentado à bomba ao Centro de Convenções do Riocentro, na Barra da Tijuca, na noite de 30 de abril de 1981, quando ali se realizava um espetáculo comemorativo do 1º de Maio. O artefato explodiu no carro e no colo de um dos militares encarregado do transporte da bomba.

O atentado frustrado, que, se realizado, teria atingido milhares de pessoas, entre elas eu, organizado e praticado por radicais do Exército insatisfeitos com a “abertura lenta, gradual e segura”, planejada pelos próprios ditadores, conscientes do declínio e fracasso do regime. O efeito reverso do atentado foi o enfraquecimento ainda maior da ditadura militar.

Com o advento de um novo ciclo democrático e do sindicalismo de resultados, o Primeiro de Maio voltou a ser híbrido, de luta e de festividade pelega.

Este sumário, recolhido de algumas fontes de informação, nos permite observar o movimento pendular do 1º de Maio no Brasil.

Desde o golpe de 2016 estamos sob o domínio de governos sem legitimidade, pois consequência desse golpismo, que não cessa, e cujo objetivo bolsonarista é um Estado totalitário.

O Estado policial vigente começou a sofrer abalos, mas ainda têm fôlego social, parlamentar, policial, miliciano e militar.

O dia internacional de luta do trabalhador no ano de 2020 foi o da luta pela sobrevivência. Mas será que em alguma época a classe trabalhadora teve a sua sobrevivência assegurada?  Nos países capitalistas certamente não!

Neste ano de 2021 a situação está agravada, tanto na economia, quanto na pandemia.

O Covid-19 pega, mata e enterra na cova rasa e coletiva, sem velório. A recessão econômica desemprega, subnutre e coloca os trabalhadores ainda mais vulneráveis ao novo coronavírus. O governo bolsonarista, adepto do darwinismo social, aplica a política genocida: se tem que morrer, que morram logo os mais fracos, a começar pelos mais vulneráveis. 

A crise do coronavírus está ampliando as desigualdades e as fragilidades dos trabalhadores e entre esses as dos negros e as das mulheres.

A pandemia tornou o sistema capitalista nu, sem camuflagens; nem o mercado e nem o Estado mínimo resolvem crises sanitárias, sociais ou econômicas. A crise sanitária desmontou o mito do deus-mercado e o do Estado mínimo.

A pregação do presidente negacionista contra o isolamento social, os seus seguidores dando o exemplo de descaso com as medidas preventivas da OMS, os empresários fazendo carreata pela volta ao trabalho, a forma de distribuir o auxílio emergencial de migalhas, e até mesmo o esquema da vacinação, compõem a estratégia genocida do sociopata do planalto.

O resultado de tudo isso não poderia ser outro senão o de colocar o Brasil como epicentro internacional da pandemia, isolado e sem receber solidariedade de nenhum país, até o presente artigo.

Com esses resultados, sujeitos a piorar, Bolsonaro se torna, dolosamente, um serial killer.

Diante dos números de mortes de brasileiros na pandemia, o presidente afirmou que não faz milagres, tripudia sarcasticamente cada morte como se fosse um simples deletar de CPF.

Jair Messias Bolsonaro será julgado pela História como criminoso de guerra, um quinta-coluna da trincheira da vida. As provas são abundantes e a CPI da pandemia só não mostrará se houver acordo.

Sua política econômica e de seu aliado genocida Paulo Guedes, de reduzir benefícios e salários, motivar dispensa de empregados, exigir sacrifícios de servidores, colocar a guilhotina sobre o pescoço do trabalhador – ou volta ao trabalho ou demissão, produzem pânico, desespero, miséria e mortes.

O Brasil voltou ao mapa da fome, de sexta economia está em 11º lugar. O caos, adredemente provocado pelo bolsonarismo, pode levar ao descontrole social, haja vista as previsões de desempregos, somados aos desalentados e subocupados, que citam números como 60 milhões ou mais para este ano.

Medidas que reduzam a massa salarial acelera e aprofunda a recessão. Sendo a recessão também mundial, o Brasil deveria priorizar e potencializar o mercado interno, e para isso injetar dinheiro novo para o consumo e crédito. Portanto, emitir papel-moeda, taxar as grandes fortunas, lucros e dividendos, romper com os tetos de gastos, são alguns dos meios justos e rápidos de obter os recursos necessários.

O dragão da maldade do povo brasileiro, Paulo Guedes, não age assim, prefere em tempos de pandemia passar a rasteira nos trabalhadores e junto com o Congresso, majoritariamente conservador, aprovar mais reformas de interesses do capital.

Paulo Guedes, encrenqueiro, charlatão, embusteiro e camelô de ilusões, é o mega inimigo dos trabalhadores e irá para o cadafalso da história acompanhando o seu chefe, capitão cloroquina, o genocida mor. E neste 1º de maio deveriam ser declarados personas non grata da classe trabalhadora brasileira.

Aspas para Karl Marx:

“Qualquer um que saiba alguma coisa da história sabe que grandes mudanças sociais são impossíveis sem o fermento feminino.

O trabalho na pele branca nunca poderá se libertar enquanto o trabalho na pele negra for marcado a ferro.

A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.”

Aspas para Lula:

“Eu acho que se eu conhecesse o tanto de história que eu conheço hoje há 50 anos atrás, eu teria virado um revolucionário. Por não saber, eu virei um político democrata. A diferença é que tenho lado.”

A ventania momentânea da conjuntura pode levar a algum tipo de pacto, de solução negociada por cima.

A história nos ensina que soluções negociadas sem a participação dos movimentos dos trabalhadores são efêmeras, não têm sustentabilidade de raiz.

Reconstruir a democracia não é tarefa fácil, mas repetir os erros do passado é ficar repetente nos bancos da história.

A morte é espreitada pelo coronavírus e pelo governo bolsonarista. Estamos diante de dois dilemas: morte ou resistência ativa?  Luta de classes ou conciliação?

Que o pêndulo histórico do 1º de maio tenda a partir de 2021 para a coerente, consistente e persistente operação diuturna da luta de classes, na perspectiva do empoderamento popular para a realização da revolução social. 

Francisco Celso Calmon, autor de livros, membro da coordenação do canal pororoca, ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade de Justiça.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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