Desculpem-me, errei: Ciro Gomes é um ignorante político, por Marcio Valley

O antipetismo, pois, não definiu a eleição de Bolsonaro. O que de fato nos legou essa era das trevas foi a incessante construção midiática realizada por décadas que negava o valor da política, fio condutor da posterior criminalização da política.

O antipetismo, pois, não definiu a eleição de Bolsonaro. O que de fato nos legou essa era das trevas foi a incessante construção midiática realizada por décadas que negava o valor da política, fio condutor da posterior criminalização da política.

Desculpem-me, errei: Ciro Gomes é um ignorante político

por Marcio Valley

Em artigo publicado em setembro de 2017, aqui, produzi uma breve análise sobre o posicionamento de um certo político do cenário nacional. Supus firmemente que nunca mais retornaria ao tema, inclusive por não desejar bater palmas para o maluco dançar. Contudo, as circunstâncias assim exigem; poucas vezes somos senhores dos nossos destinos. Naquele texto, tratei de Ciro Gomes e suas então recentes declarações antipetistas e anti-Lula. Na ocasião, refutei suas afirmações e afirmei não ser possível classificar Ciro “como um jumento político, um ignorante que tateia aleatoriamente no escuro das possibilidades eleitorais”. Sustentei que, pelo contrário, tratava-se de “um político experiente que não desconhece que, em política, somente os tolos jogam para o tudo ou o nada. Esse é um dilema ético, sem dúvida, mas que é imposto pela realidade inescapável e não pela vontade individual”. Ante tal conclusão, indaguei o que teria levado Ciro a abdicar de quase um terço do eleitorado nacional. A conclusão a que cheguei na época foi a de que as declarações narcísicas decorriam de pura hipocrisia oportunista provocada por desespero. Seu sofrimento íntimo provinha, continuei, da sede de poder que parece ter sempre orientado cada passo seu, além da percepção de que o seu tempo estava passando sem a abertura de uma janela política favorável.

Passados três anos e sete meses desde a publicação do texto, indaga-se: houve mudança de comportamento por parte dele nesse tempo? A resposta, infelizmente, é não. Ao contrário disso, o quadro de egolatria e narcisismo somente se agravou. O delírio chegou ao ponto dele supor que lhe competia enviar condolências à rainha da Inglaterra por ocasião do falecimento do marido. Sem medo algum do ridículo, ainda fez propaganda disso nas redes sociais! Pouco provável que a missiva sequer tenha ultrapassado os limites das dependências do camareiro real. Porém, se assim foi e chegou às mãos da rainha, é possível imaginar Sua Majestade, sentada no trono da Inglaterra, com toda pompa e circunstância, levantando o pincenê do nariz real e, com a cara de nojo típica da nobreza, indagando ao secretário: “Who the fuck is Ciro Gomes”?

Em 2018, visando vencer as eleições, decidiu competir com Bolsonaro pela preponderância no furor antipetista. Recebeu uma dura lição ao perder a aposta: é difícil vencer Bolsonaro na fatia antipetista do eleitorado. Bolsonaro venceu a eleição. Além de perder a aposta, perdeu eleitores da esquerda, amargando o terceiro lugar, com 12,47% dos votos. Considerando que as pesquisas mais recentes lhe atribuem metade desse potencial, cerca de 6%, pode-se dizer que foi uma excelente votação. Ainda falta muito para outubro de 2022, tudo pode acontecer, mas a intenção de voto que recebe atualmente antecipa um horizonte eleitoral bastante sombrio. É bem possível que seu tamanho eleitoral diminua.

Tendo perdido a aposta e ferido em seu gigantesco ego, natural no tipo de personalidade irada macho-alfa do patriarcado branco e rico de que ele e também Bolsonaro são exemplos típicos, Ciro resolveu surfar na tragédia brasileira. Abandonou o país à própria sorte e viajou. A recusa de Ciro em manifestar explicitamente apoio a Haddad não é o xis da questão nesse episódio. Um firme apoio ao antibolsonarismo, na época, não era devido ao PT, mas ao povo brasileiro, por tudo de maligno que a ascensão do neofascismo representava e também como meio de demonstrar, ante a previsão de um sombrio porvir, que a população não seria deixada ao relento pela classe política que supostamente a representa ou deseja representá-la. Entretanto, o apoio de Ciro ao povo nunca chegou. Decidiu vestir a fantasia de “isentão” e não declarou explicitamente qual seria sua opção entre um pacato professor universitário, humanista e com experiência comprovada na Administração Pública, e um aloprado defensor da tortura e do assassinato de inimigos políticos, sem experiência administrativa alguma. O exato significado de sua saída furibunda do país, batendo com força os pezinhos no chão do aeroporto, é: “Dane-se o destino desse povo brasileiro ignorante que não votou em mim, que não conseguiu enxergar que eu era o melhor para o país. Povo injusto! Povo ignorante”! E foi às compras. Na 25 de Março, em São Paulo? Na rua da Alfândega, no Rio? No Ceará? Não! Em Paris, na França. Muito mais chique e condizente com sua importância e posição social. E a eleição? Ao vencedor, as batatas, deve ter pensado; se o povo ficar sem pão, que coma brioches!

Trata-se do imponderável supor que Haddad poderia vencer a eleição caso obtivesse apoio explícito de Ciro. Pessoalmente, entendo que o destino estava traçado desde a prisão injusta de Lula e nada seria capaz de alterá-lo. A eleição da monstruosidade, ao contrário do que insiste o proselitismo tolo e pleno de intencionalidades subjacentes de Ciro, não decorreu meramente do antipetismo. Isso foi um fator contributivo, mas não o mais importante a acarretar o desastre. Tanto é assim que, mesmo com Lula fora do páreo, Haddad obteve o segundo lugar no primeiro turno, com o voto de um terço do eleitorado e, no segundo turno, foi escolhido por 45% dos eleitores. Isso não é demonstração de fraqueza, mas uma força partidária inacreditável. Que outro partido sobreviveria politicamente após ser vítima de massacre midiático por mais de década, acrescido pelo impeachment fajuto de Dilma e pela ilegal condenação e prisão de Lula? O PT possui, indiscutivelmente, uma resiliência impressionante. E mais: não fosse sua injusta condenação, hoje reconhecida pelo STF, a possibilidade de que Lula vencesse a eleição era absolutamente provável, apesar de todo o tão decantado antipetismo, pois, apesar de todo o carisma de Haddad, não há dúvida alguma de que não possui o mesmo cacife eleitoral.

O antipetismo, pois, não definiu a eleição de Bolsonaro. O que de fato nos legou essa era das trevas foi a incessante construção midiática realizada por décadas que negava o valor da política, fio condutor da posterior criminalização da política. Embora o alvo inicial fosse, efetivamente, o PT, o descontrole da missão culminou por envolver todos os grandes partidos, inclusive e inesperadamente, o PSDB, possivelmente o maior perdedor de toda essa salada fraudulenta. Bolsonaro, portanto, é o fruto maduro de processos judiciais de exceção, que visavam extirpar da política nacional os projetos de esquerda, mas que atingiram mortalmente também a direita, cuja carcaça serviu apenas como alimento para os abutres que viviam ocultos em sua extremidade. Os exemplos mais gritantes disso são o mensalão e, principalmente, a lava-jato, ambos somente admirados no Brasil, enquanto no resto do mundo servem como exemplo negativo de um sistema judicial degenerado. Esse caldo sofista midiático-jurídico permitiu que um forte neofascismo já preexistente na sociedade, todavia até então coberto pelo véu do constrangimento hipócrita, perdesse a vergonha de mostrar a cara. Esse movimento foi, de fato, o grande eleitor de Bolsonaro, o mais importante.

Vale abrir parênteses para lembrar que o antipetismo de Ciro, no que toca às acusações de corrupção, é um tanto conflitante com o fato de ter sido ministro do governo petista por vários anos, sem jamais se pronunciar sobre um desvio ético sequer, o que somente passou a fazer ao se ver preterido numa escolha de candidatura. Cego ou hipócrita? Os eleitores decidirão no momento oportuno.

O comportamento de Ciro em 2018 faz supor o sofrimento de grande frustração, possivelmente por verificar que os eleitores não perceberam que há anos ele carrega debaixo dos braços, para lá e para cá, um amontoado de papéis nos quais descreve os mais maravilhosos projetos para o desenvolvimento do país. Contudo, somente sofre assim quem não leva em consideração que os eleitores estão escaldados com apresentação de lindos projetos e promessas em campanha, jogados na lixeira no dia seguinte à eleição do sujeito. Vale rememorar a campanha da agora distante eleição de 1989, na qual Collor acusou Lula de ter a intenção de se apropriar da poupança dos brasileiros, exatamente o que ele próprio fez no primeiro dia de mandato. Em geral é assim com os hipócritas, acusam o outro de possuir os vícios encarnados em si próprios.

Certamente, antes de viajar, Ciro considerou a efetiva possibilidade de Bolsonaro ser eleito por conta da ausência de seu apoio explícito ao adversário. Contudo, um cálculo político frio e meticuloso concluiria que o lucro político daí decorrente seria maior do que com Haddad eleito. A experiência com os governos petistas anteriores demonstravam que a possibilidade de quatro anos de governo impopular era bem mais provável com Bolsonaro. Após um desastre político bolsonarista e a completa neutralização do petismo pela perversão do sistema judiciário, o eleitor não mais poderia relegar o nome de Ciro. Finalmente esse povo ingrato teria que se curvar à sua importância política. Numa hipótese assim, quanto mais desastroso Bolsonaro se apresentasse, mais brilhante o espelho que refletiria a grandiosa imagem de Narciso. À época, um sem-número de articulistas de jornais alternativos previu esse desastre, pois era decorrência natural do tipo de personalidade de Bolsonaro. Ciro, contudo, pelo contrário, decidiu tranquilizar os eleitores, dizendo que uma possível vitória de Bolsonaro não espantaria os investidores. Previsão absolutamente furada: não somente os investidores deixaram de vir, como os que aqui estavam fugiram, total ou parcialmente, como a Ford.

E eis que, como previsto por todos, menos por Ciro, ocorreu o inevitável: o atual governo de fato provocou um desastre bíblico dirigindo a nação. Curioso alguém que não soube produzir previsão tão simplória supor ser capaz de governar um país cheio de complexidades como o nosso, portanto muito mais imprevisível. O desastre não atingiu somente a economia, mas, principalmente, a saúde pública. A pandemia do coronavírus marcará negativamente a história brasileira por décadas e décadas, assinalando um tempo hostil e perigoso para o povo por conta de um governo sem preocupação alguma com os direitos humanos, principalmente o de contar com atendimento público de saúde eficiente. Já são quase 400 mil mortos, uma situação de catástrofe que, em situações normais, deveria ser capaz de conduzir os verdadeiros homens públicos, com vocação para estadistas, a abrirem mão dos próprios interesses e ambições políticas para fazer cessar e superar a tragédia coletiva que atormenta o povo. Num momento fatídico assim, constitui um dever cívico da classe política contrária à barbárie bolsonarista, independentemente de sua coloração política, colocar de lado as diferenças e evitar o combate horizontal, contra possíveis aliados na luta democrática contra o desgoverno fascista. Juntos em prol do povo sofrido. Isso nada tem a ver com a eleição de 2022, trata-se de um interesse público imediato e maior. Ainda que não se consiga antecipar o fim da tragédia com a deposição do monstro, os aliados de batalha poderiam, inclusive, manter a união na forma de alianças em um eventual segundo turno, fosse qual fosse o escolhido do povo.

Lamentavelmente, contudo, mais uma vez Ciro perde uma oportunidade histórica para demonstrar sua estatura de estadista. Talvez tenhamos que, finalmente, concluir que não a possui. Não aprendeu a lição de 2018, que demonstrou ser Bolsonaro o receptáculo natural dos haters do PT. Teimoso, persiste em bater na tecla exaustiva, inoportuna e desagregadora do antipetismo. Personalidades narcisistas não conseguem enxergar a rejeição; supõem-se maravilhosas demais para não serem queridas. Em entrevista concedida no dia 17/04/2021, repete que, não estando no segundo turno, entre Bolsonaro e o PT, não apoiará e nem votará em qualquer candidato. E diz que assim fará ainda com maior convicção do que em 2018. Com ironia, afirmou que somente não voltará a Paris porque as viagens estão vedadas em virtude da pandemia. Irá para a Tonga da Mironga do Kabuletê, diz. Mais que isso: declara que preferiria a morte num cenário assim.

Ao fixar sua atenção na campanha de 2022, demonstra despreocupação com a catástrofe pandêmica e faz pouco-caso dos efeitos do bolsonarismo na miséria econômica e espiritual do povo. Seu precipitado discurso eleitoral não se comove com a imensa tragédia brasileira provocada por Bolsonaro, com centenas de milhares de mortos. Não ao ponto de apoiar outra pessoa para vencer o atual presidente se for do PT, ainda que o custo da omissão seja a persistência desse modelo genocida de gestão da saúde. E se morrerem outras centenas de milhares de pessoas, talvez milhões? Dane-se o povo se novamente não souber votar em mim!

Tamanha bizarrice política possivelmente se deve à frustração de ver fechar-se uma janela que finalmente parecia estar se abrindo para ele. Devia estar contente com a imensa perda de popularidade de Bolsonaro e em ter Lula condenado e fora das eleições. Com olhinhos brilhantes, via crescer suas chances de finalmente receber o que sempre mereceu: a presidência. O mundo, porém, parece implacável com algumas aspirações individuais. Eis que ocorre a súbita e inesperada declaração de inocência de Lula. Sim, Lula é inocente, “babaca”, como diria outro político cearense. Explicando: no Estado de Direito, se não há condenação lícita pelo judiciário, fundada em prova inequívoca de culpa, a pessoa é considerada inocente para todos os efeitos legais; a ausência de absolvição, com prosseguimento do processo penal, não implica manutenção da condição de culpado. É o que diz a Constituição que ainda está em vigor. A inocência de Lula provocou intenso alvoroço em diversas almas, mas frustrou principalmente as expectativas de duas: Bolsonaro e Ciro. A partir daí, ambos se jogam em campanha eleitoral antecipada, esquecendo-se do mais importante: o sofrimento do povo com pandemia. Olhos vidrados, nada mais importa, só a eleição de 2022.

O único efeito de quem inicia uma luta contra a opressão pela via do enfraquecimento dos outros adversários da tirania é fortalecer o tirano. É isso que Ciro não consegue enxergar e talvez nem queira. Possui suposição íntima tão forte de que seu nome é o único que deveria ser considerado pelo povo para a presidência que nada mais importa. É um novo Messias almejando tomar o lugar do Messias que deu errado. E assim, lamentavelmente, alimentam-se ações políticas insensíveis e violentas, como as de Bolsonaro e as de alpinistas eleitorais, como Ciro. E essa não é a única coincidência entre eles. Ambos se articulam num prática política que se movimenta por um discurso raivoso fundado na criação de um inimigo ilusório para atrair eleitores. E esse inimigo, também para ambos, é o PT. Como perspectiva de futuro próximo, isso é bastante desalentador para o povo. Primeiro, porque perde de vista que o maior problema do país não está em outubro de 2022, mas agora mesmo, em 2021. Segundo, porque tal obsessão tornou-se o mais importante entrave para a consecução da sonhada e necessária união das esquerdas. O problema não é o PT e sua candidatura, seja Lula, Haddad ou qualquer outro, mas o narcisismo político de quem se enxerga como estadista enquanto pratica um tipo de egolatria insensível às dores do povo. Pobre povo brasileiro.

O principal cavalo de batalha de Ciro é a candidatura do PT, um partido do qual não faz parte. Pirracento, quer porque quer a desistência de candidatura petista própria. Segundo ele, o forte antipetismo ainda presente conduziria à reeleição de Bolsonaro.

Essa visão não é somente um equívoco, é uma trapaça. A real intenção é facilitar a própria vitória. Ciro não quer jogar a partida, almeja vencer por W.O., pela supressão do direito de o eleitor escolher em quem votar. Parece enxergar a eleição democrática como um entrave e temer a decisão do eleitor. Não demora e pedirá a desistência de todos os candidatos para facilitar a sua posse. Deseja o antijogo, talvez por, intimamente, quem sabe, reconhecer que não possui votos e esse é único meio de vencer. Não se vê nenhum representante partidário, esquerda ou não, criticando o pleno direito de Ciro de ser candidato. Não cabe advogar a renúncia a uma candidatura partidária, pois isso representa um direito legítimo de todo partido político. Partidos políticos existem para que um segmento do pensamento político da população, por ele representado, conquiste o poder. Todo partido político é criado para conquistar o poder. Essa é a sua razão de ser, de existir. Estamos tão habituados à salada partidária das coligações que nos esquecemos disso. Falando numa perspectiva puramente ideal, cada partido teria, mais do que o direito, o dever de apresentar candidato no primeiro turno, em respeito ao direito dos filiados e simpatizantes de votar naquilo que representa o modelo de sociedade a que aspiram. Se isso é verdade para todos, muito mais será para os grandes partidos, que atraem um número significativo de eleitores. No fim das contas, quem deve decidir é o eleitor, ainda que contra os próprios interesse, como ocorreu em 2018. Esse é o preço da democracia. É pesado, mas a alternativa é muito pior; as consequências de um estupro da democracia estão à vista de todos, desde o golpe disfarçado de 2016 e da prisão de Lula. Um país dividido, com a economia em frangalhos, que só regride socialmente e que perdeu praticamente toda a relevância geopolítica.

Apesar da verborragia insana de Ciro Gomes, não há dúvida de que, num eventual segundo turno entre Bolsonaro e outro candidato mais progressista (praticamente todos os demais, inclusive ele), os eleitores de esquerda, inclusive os petistas, votarão em peso no segundo. O voto no atual presidente, por uma questão ideológica, não é opção de quem se diz preocupado com o Brasil. Os eleitores de esquerda, tenho certeza, cumprirão sua obrigação ética. Não fugirão para Paris ou Tonga da Mironga, votarão a favor do interesse do povo, ainda que o custo seja engolir o vômito provocado pela obrigação de votar em quem somente os desprestigia. Esse é o real sentido de democracia: é menos vencer do que saber perder; é saber colocar o interesse coletivo acima do individual. Talvez Ciro compreenda isso um dia. Ainda é jovem e imaturo, só tem 63 anos, tem muito a aprender. Jovens esperneiam, gritam e mentem mesmo, para obter o que desejam; isso é natural antes de aprenderem o valor da sinceridade e do diálogo.

No entanto, cabe vestir os sapatos de Ciro e reconhecer que deve ser muito difícil ser ele e carregar essa imensa e dolorosa frustração que sua alma tem que suportar. Ademais, como um Mister Magoo da política, não enxerga um palmo à frente do nariz, o que também deve ser sofrido. Como dizia um amigo, em termos menos politicamente corretos na época, basta a apresentação de um dedo para se ter uma ideia do tamanho da pessoa. Levados em conta toda a sua trajetória e seu discurso, não precisamos experimentar Ciro na presidência para saber exatamente como será. Contudo, se não tiver jeito, que seja. Na atual conjuntura, praticamente qualquer um é melhor do que quem está no poder. O tamanho do desespero é medido pelo fato de existir até quem já prefira Mourão.

Não se vence uma eleição desprezando os sentimentos nutridos por praticamente um terço dos eleitores, no ato tolo de sustentar um proselitismo político ofensivo ao que ele menospreza como “lulopetismo”, pleno de bobagens homéricas em relação a figuras que lhe fazem sombra por justiça histórica. Há de chegar o dia no qual Narciso aprenderá que nem tudo é espelho. Embora esforçado e tenha seus méritos, deve ter a humildade de ouvir pessoas mais sábias, como Lula, que o advertiu para a circunstância de que a idade passa, ninguém permanece jovem para sempre, políticos envelhecem e não podem se dar ao luxo de ficar perdendo quatro anos de vida política a cada eleição presidencial, estáticos, aguardando uma oportunidade que talvez nunca chegue. O bonde no qual devia subir já passou e ele nem percebeu. Não deve perder o ânimo, existem outros caminhos, busque um e seja feliz.

Dito isso, encerro pedindo perdão aos que leram meu artigo de 2017. Reconheço que estava errado. Por tudo que descrevi aqui, Ciro age sim como um tolo ao jogar para o tudo ou nada. Há forte probabilidade de que fique com nada. Se isso ocorrer, jogará no lixo um incrível potencial político-eleitoral por simples pirraça; por agir como a criança frustrada ao não ganhar o pirulito que pediu ao pai. Sendo assim, não há outra conclusão possível: ao contrário do que disse antes, representa o papel deprimente de um ignorante político tateando aleatoriamente no escuro das possibilidades eleitorais. Dificilmente encontrará a saída desse labirinto.

Marcio Valley é formado em Direito pela UFF, com pós-graduação em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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