Jacarezinho: A maior chacina da história da última semana, por Ricardo Mezavila

O subsecretário usou termos vulgarmente utilizados pelo grupo que apoia o presidente da república, como 'ativismo judicial', exatamente quando o presidente trava queda de braço com o STF.

Vatican News

Jacarezinho: A maior chacina da história da última semana

por Ricardo Mezavila

Apenas a título de informação, o presidente Jair Bolsonaro visitou o governador Cláudio Castro no Palácio Laranjeiras, um dia antes da chacina no Jacarezinho.  

Essa informação pode não ser nada, mas pode ser alguma coisa depois da coletiva do subsecretário de polícia civil e do delegado. O subsecretário atribuiu à justiça, leia-se STF, o crescimento do crime organizado: “De uns tempos pra cá por força de algumas decisões, de algum ativismo judicial, que se vê hoje muito latente na discussão social, a gente foi de alguma forma impedido de atuar em algumas localidades e vimos o crescimento do tráfico”  

O delegado emendou em seguida: “Foram 24 mortos, diga-se de passagem nenhum era suspeito, era bandido, criminoso, traficante e homicida” 

Sou carioca, fiz ensino fundamental e médio em uma escola no Morro do Jacarezinho, tenho amigos moradores do local que perderam, em outra ocasião, filhos trabalhadores baleados pela polícia na porta de casa.  

Não lembro de ter assistido uma coletiva após uma operação policial em que o Estado, representado pelos seus agentes, tivesse verbalizado ideologicamente uma ação.  

O subsecretário usou termos vulgarmente utilizados pelo grupo que apoia o presidente da república, como ‘ativismo judicial’, exatamente quando o presidente trava queda de braço com o STF. 

O delegado fez juízo de valor ao generalizar as vítimas ainda não identificadas como criminosas. Essas práticas não são comuns entre os agentes especializados e preparados diplomaticamente para transmitirem tranquilidade à sociedade. 

Fora essa questão captada nas entrelinhas, o que vimos foi o costumeiro massacre do Estado contra o cidadão pobre, preto e favelado. Não é carimbando a tragédia como ‘a maior chacina da história do Rio’, como faz a mídia, que o extermínio será combatido, isso é como água que arrasta o sangue do chão para o bueiro. 

O serviço de ‘inteligência’ da polícia executou vinte e cinco pessoas, sendo um policial, feriu dois passageiros que estavam viajando em um trem do metrô, invadiu casas de inocentes causando terror e barbárie. Ao comentar sobre um cadáver colocado sentado em uma cadeira de plástico, o delegado disse se tratar de um ‘criminoso’, sem ter investigado. 

A chamada ‘guerra’ ao tráfico é a estratégia mais estúpida de combate a essa modalidade de crime. Morreram vinte e cinco, e daí? Acabou o tráfico? O Estado vai entrar no Jacarezinho e oferecer educação, saúde, emprego e lazer para os moradores?  

Quando esse massacre for devidamente digerido, outro acontecerá em qualquer uma das regiões vulneráveis socialmente. Moradores ficarão presos em casa, crianças sem escola, doentes sem atendimento e uma noiva maquiada será impedida de sair para casar, como aconteceu realmente.  

Ao passo que, quando os criminosos moram em locais privilegiados, os policias, quando entram para realizar um mandado, assinam livro de visita na portaria (figura de linguagem)

A decisão do STF que proibiu a realização de operações policiais em comunidades do Rio durante a pandemia, pode sim, meio que sem querer apesar da visita presidencial, como vimos na comemoração de Flávio Bolsonaro, ter servido de mensagem e incentivo ao núcleo duro do bolsonarismo, que vê seu líder derreter na CPI da Covid. 

Ricardo Mezavila, cientista político

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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