Obrigado, Mascarenhas!, por Bruno de Pierro

Mascarenhas deixa como maior legado (imaterial) o entusiasmo que plantou em tantas mentes e corações em início de carreira. Tantos pesquisadores que recebia, sem rodeios e crises de ego inflado.

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Obrigado, Mascarenhas!, por Bruno de Pierro

SÉRGIO MASCARENHAS (1928-2021).

Conheci o professor Mascarenhas em 2011, quando ele particippu do Brasilianas.org, na TV Brasil, que era apresentado pelo Luis Nassif. Eu trabalhava na produção do programa e fui encarregado de convidar Mascarenhas e recebê-lo no estúdio. Iniciamos, ali, uma amizade de muitos anos.

À época, sabendo do meu interesse em atuar no jornalismo de ciência, passou a me indicar livros, artigos, pessoas. Nunca adotava, porém, uma postura professoral; sempre me tratou de igual para igual. Dizia que também aprendia comigo.

Teceu comentários sobre minha iniciação científica e, tempos depois, minha dissertação de mestrado.

Convidou-me a passar um fim de semana em sua casa em Ribeirão Preto (SP). Nunca vou me esquecer daquela recepção. Passamos horas e mais horas conversando. Sempre entusiasmado e amável, era como se Mascarenhas fosse um colega que, iniciante como eu, se encantava com as histórias que ouvia e contava.

Naquele fim de semana, falou-me fascinado sobre a pesquisa que coordenava, a fim de consolidar um método não invasivo capaz de monitorar a pressão intracraniana. Anos depois, o estudo resultou de fato na criação do dispositivo por uma startusp (mais sobre isso aqui: https://bit.ly/3g2kxku).

Naquela mesma visita, levou-me ao laboratório para mostrar os testes em camundongos, monitorando a pressão intracraniana dos animais sem provocar neles qualquer dor ou sofrimento.

Antes da minha partida, presenteou-me com um exemplar de seu livro “Novos olhares de Janus”, com uma dedicatória que até hoje me emociona. Pouco tempo depois, quando soube da minha contratação pela revista Pesquisa FAPESP, mandou-me o e-mail abaixo, que torno publico apenas para dar uma amostra de como Mascarenhas era: um incentivador inquieto, um cientista que estimulava os novatos e com eles dialogava da mesma forma como conversava com um ministro da Ciência ou o presidente da República. Não fazia distinção.

Fundador do Instituto de Física e Química da USP – Universidade de São Paulo, da unidade da Embrapa Instrumentação e participante da criação da UFSCar – Universidade Federal de São Carlos, Mascarenhas deixa como maior legado (imaterial) o entusiasmo que plantou em tantas mentes e corações em início de carreira. Tantos pesquisadores que recebia, sem rodeios e crises de ego inflado.

Estava para escrever-lhe contando que comecei o doutorado em ciência ambiental na USP, mas não deu tempo. Certamente me responderia interessado, encorajando-me a seguir em frente. E encerraria a mensagem com “abreijos”.

Obrigado, Mascarenhas!

Redação

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