Um dia ele vai embora, maninha, pra nunca mais voltar, por Luis Nassif

E as duas crianças de “Maninha” precisarão esperar só um pouco mais, para o monstro ir embora prá nunca mais voltar,

No Spotify, “Maninha”, de Chico Buarque, com Miúcha. Retrata a mais cruel das situações, a de duas crianças em casa, enfrentando a presença de um abusador, e na esperança vaga de que um dia ele vá embora.

Se lembra da fogueira

Se lembra dos balões

Se lembra dos luares dos sertões

A roupa no varal, feriado nacional

E as estrelas salpicadas nas canções

Se lembra quando toda modinha falava de amor

Pois nunca mais cantei, oh maninha

Depois que ele chegou

(…)

Se lembra do jardim, oh maninha

Coberto de flor

Pois hoje só dá erva daninha

No chão que ele pisou

E, depois, a esperança de que tudo retorne, a fogueira, os balões, o jardim coberto de flor, no dia em que ele se for.

E o desespero final:

Mas não me deixe assim, tão sozinho

A me torturar

Que um dia ele vai embora, maninha

Prá nunca mais voltar

Cada vez que ouço a música penso nas nossas crianças, os brasileirinhos, penso no grande lar Brasil, invadido pelo abusador, que entrou arrebentando o portão, por culpa da suprema irresponsabilidade de quem deveria zelar pela nossa segurança.

Cada vez que a saúde balança, morro de medo, não da doença, da morte, mas de perder as forças antes de ver  o abusador expulso dos lares, da vida nacional, para permitir a volta das flores do jardim, da fogueira e dos balões. Em nome de nossos filhos e netos.

Nesses anos todos imaginei o Brasil, pátria mãe gentil, não o Brasil dos escravocratas, mas dos menestréis que se irmanaram na música, na cultura, no orgulho de um país cujos pecados históricos eram varridos da nossa vista.

Esse país soturno emergiu das brumas do inferno e explodiu em larvas por todos os cantos da vida social.

Mas hoje em dia forma-se um grande coral de solidariedade, com o melhor do que o país gerou, a música e seus menestréis, os mesmos que comandaram a campanha da Abolição, que derrubaram a ditadura militar e que irão se unir no grande hino de solidariedade para expulsar de vez o abusador,

E as duas crianças de “Maninha” precisarão esperar só um pouco mais, para o monstro ir embora prá nunca mais voltar,

Se lembra da fogueira

Se lembra dos balões

Se lembra dos luares dos sertões

A roupa no varal, feriado nacional

E as estrelas salpicadas nas canções

Se lembra quando toda modinha falava de amor

Pois nunca mais cantei, oh maninha

Depois que ele chegou

Se lembra da jaqueira

A fruta no capim

Dos sonhos que você contou pra mim

Os passos no porão, lembra da assombração

E das almas com perfume de jasmim

Se lembra do jardim, oh maninha

Coberto de flor

Pois hoje só dá erva daninha

No chão que ele pisou

Se lembra do futuro

Que a gente combinou

Eu era tão criança e ainda sou

Querendo acreditar que o dia vai raiar

Só porque uma cantiga anunciou

Mas não me deixe assim, tão sozinho

A me torturar

Que um dia ele vai embora, maninha

Prá nunca mais voltar

Luis Nassif

26 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O monstro vão embora porque a gente vai mandar que ele suma.
    Sem matar,sem odiar, sem esmagar. Só espantando porque somos do bem e o amor,a delicadeza e a pureza cons consciente e a nossa maneira de triunfar

  2. Só há um detalhe aí “seo” Nassif….o cidadão foi eleito…a maior parcela do eleitor preferiu um político até então bastante conhecido por suas declarações homofóbicas e a favor da violência estatal…..são cúmplices portanto…

  3. Um dia ele vai embora pra nunca mais voltar…

    Que o dia raie não boniteza da arte, da força e solidariedade do povo, no vigor é consequência das cientistas!

    Me irmano com você nessa luta/sonho!

  4. O problema é que o abusador não invadiu. Ele sempre esteve dentro da casa. Houve 14 anos para desarmá-lo, mas nada, absolutamente nada foi feito. Muro pelo contrário: alimentaram-no diuturnamente. De boa intenção, boas vontades, meros desejos, nada muda. Uma canção é somente isso: uma canção. Chega de chororô!

  5. PCO 29 ilegalmente proscrito por Xandão.
    òtima opurtunidade para esclarecer as dúvidas…………

    https://jornalggn.com.br/politica/eleicoes-politica/a-importancias-de-separar-mtst-e-mtst-do-radicais-de-esquerda-por-luis-nassif/

    Julio Edson Silveira de Souza
    – 2022-04-21 11:48:42
    Com referência ao PCO, Boulos e o IREE, judeus, et al, a matéria parece estar mal informada. Nassif por que ao invés de falar ‘do’ Rui, você não fala ‘com’ o Rui? Convida ele para uma entrevista, mas, na ocasião, não tenha pressa em encerrar o evento. Informe-se!

  6. Engraçado sempre associei essa música à ditadura, uma vez que Chico Buarque esteve sempre no meu imaginário voltado para esse tema. Agora sei a origem da música. Por outro lado, hoje em dia, sempre que ouvia essa música, lembrava desse monstro que está na presidência, principalmente na parte da erva daninha. Mas está perto desse verme ir embora. O que me preocupa é a maldade de quem já está articulando golpe para quando o Lula assumir, se ele não se enquadrar nos interesses dos EUA, da “elite” porca, por hora, há um inimigo comum, que já cumpriu seu papel de destruir as leis trabalhistas e a aposentadoria, facilitou privatizações criminosas, mas “causa instabilidade” que incomoda os barões, os bilionários que só enxergam cifrões, e o povo miserável que se lixe. Será que, ao assumir, Lula será perseguido por algum Moro de ocasião? Será jogado contra a opinião pública, ignorado mais uma vez em seus direitos só porque quer a democracia e a soberania, que justiça social, econômica, política, judiciária, legislativa e todas as justiças a que temos direito? Quantas vezes Lula, ou o país terá de ser crucificado para finalmente o povo ter seus direitos preservados e respeitados?

  7. Nassif, uma expressão no seu texto causou um enorme mal entendido: abusador tem vários sentidos, mas ultimamente tem sido frequentemente interpretado como abusador sexual, isto é, confere uma interpretação que nada tem a ver com a letra da canção.
    Abusador foram os ditadores militares que perseguiam, prendiam, torturavam, matavam pessoas de esquerda ou que não concordavam com aqueles governos. Que destruíram a vida de muitas famílias e os projetos e sonhos de muita gente que foi obrigada a se exilar.
    Mesmo não tendo, ainda, chegado a esses extremos, não podemos misturar os fatos até porque o Lula tem grandes chances de vencer as eleições.
    Mas eu soube desse artigo através de uma postagem na página da Isabel Lustosa, no Facebook (com dezenas de compartilhamentos). O mais chocante lá é que grande parte escreveu comentários revoltados por ter entendido que o “abusador “ frequentava a casa. Um deles chegou a dizer que nunca imaginou que o professor Sergio Buarque de Holanda fosse capaz disso (depois da minha reação, apagou o comentário). Isabel respondeu que poderia ser alguém que frequentasse a casa mas não fosse da família. Enfim ninguém entendeu a licença poética de uma música dos anos 70, imaginou que a casa realmente tivesse porão, jasmin, jaqueira, que os dois foram crianças na mesma época (são sete anos de diferença). E a revolta se concentrou no abusador sexual que poderia ser até meu pai.

  8. O ideal é que ele não fosse e sim que seja levado, acorrentado e aprisionado dentro das quatro linhas da cela de um presídio. Ele é sua alcateia de lobos modernos que em vez da pele de cordeiro, agora alguns usam a toga, o verde oliva, o paletó com gravata e até a Bíblia sagrada. Vulgarizaram e contaminaram a lei, a honra, a ética, a moral, o respeito e a verdade, de forma vergonhosa em troca de um falso e efêmero poder e de um amaldiçoado punhado dinheiro. Porém, caro Nassif, cometeram o maior de todos os repugnantes erros, ao praticarem a covarde ingratidão de atacarem e violentarem a naureza, o meio ambiente, a biodiversidafe as florestas, os rios, as nascentes, o solo e o ar, onde todos são as obras do nosso Deus, para o nosso povo. Eles e elas já estão na lista e esperamos que em breve sejam conduzidos aos costumes da penalização, pelas leis dos homens, até que chegue o dia do julgamento pior, derradeiro e que não é deste mundo.

  9. Eu costumava cantar essa música na época da ditadura empresarial-militar de 1964-1985, remetendo o “ele” ao regime militar e suas atrocidades. Tive a ilusão de que não voltaria a entoar a canção com esse significado. Engano meu.

  10. Sensacional! Eu sempre faço a analogia entre essa música e a situação atual do nosso país. “Pois hoje só dá erva daninha no chão que ele pisou”.

  11. Eu tambem me surpreendi com essa analise do Nassif. A epoca em que foi escrita e o perfil poetico do Chico com sua habilidade incrivel de elaborar os mais lindos enredos e cenarios metaforicos, nao deixam muita margem para duvidas de que se trata da visao do oprimido sobre o opressor durante a ditadura militar, que felizmente nao foi capaz de conter a poesia nem um novo amanhecer.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador