Direito de Resposta: Não, Israel não é o principal responsável pelas mortes no festival Supernova em 7 de outubro, por Igor Sabino

NOTA DA REDAÇÃO - O Jornal GGN é uma publicação que confere direito de resposta, para levar a melhor informação aos seus leitores

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Não, Israel não é o principal responsável pelas mortes no festival Supernova em 7 de outubro

por Igor Sabino

Campanhas de desinformação são uma característica comum a todos os conflitos internacionais. Na atual guerra de Israel contra o Hamas, porém, isso tem chegado a níveis nunca vistos até então. Desde os atentados terroristas no sul israelense, em 7 de outubro, diversas teorias da conspiração têm circulado nas redes sociais, algumas, infelizmente, sendo replicadas até mesmo por veículos de comunicação. Uma das principais delas diz respeito aos mortos no festival Supernova.

Esta semana, o Jornal GGN publicou uma matéria, citando como fonte um artigo do The Cradle afirmando que, segundo o jornal israelense Haaretz, Israel – e não o Hamas – é que teria matado a maioria dos jovens que estavam na festa que ocorria próximo à Faixa de Gaza. A manchete do veículo brasileiro chega a afirmar que os “fatos vão na contramão da versão de Israel sobre o massacre, que acusa o Hamas de ter premeditado o ataque que matou 364 civis”. Isso, porém, não é verdade e já foi esclarecido tanto pelo Estado judeul quanto pelo próprio Haaretz.

A suposta fonte utilizada pelo The Cradle e reproduzida pelo Jornal GGN é uma matéria escrita por Josh Breiner, em novembro do ano passado. Nela, o jornalista israelense afirma ter tido acesso a uma suposta fonte da polícia de Israel, segundo a qual, os pilotos de um helicóptero específico relataram ter sido difícil no momento fazer a distinção entre civis e terroristas e aparentemente, alguns civis teriam sido feridos. Em sua defesa, o departamento de polícia de Israel afirmou que o Haaretz não reportou corretamente o ocorrido.

O fato, porém, é que a matéria não trouxe nenhuma informação nova à qual já não se tivesse acesso. Dez dias antes dela ser publicada, os próprios pilotos desse helicóptero em questão haviam admitido as dificuldades da operação para neutralizar os terroristas que estavam no local do Festival Nova. Contudo, nem a matéria apresentou nem há, até o momento, qualquer evidência de que civis realmente tenham sido mortos pelos policiais israelenses. O texto original em hebraico, inclusive, diferentemente do que reportou o Jornal GGN, não relata que a maioria das mortes teriam sido causadas por Israel, apenas algumas. Logo, não há nenhuma contradição nas narrativas oficiais sobre o ocorrido.

O próprio Haaretz, em matéria publicada em inglês, em dezembro do ano passado, utilizou esse como um exemplo das campanhas de desinformação no contexto da guerra contra o Hamas após o 7 de outubro. O jornal israelense deixou claro que, segundo as suas fontes, teria havido a possibilidade de que civis houvessem sido mortos pelos policiais, contudo, nenhuma morte nessas circunstâncias foi confirmada. A publicação ainda acrescentou que a matéria original foi explorada por “atores malignos” que a publicaram propositalmente sem contexto para alegar falsamente que o Haaretz corroborou a falsa teoria de que as Forças de Defesa de Israel teriam cometido assassinatos em massa contra o seu próprio povo.

Vale ressaltar que há inúmeras evidências que comprovam as atrocidades cometidas pelo Hamas no 07/10, sobretudo no festival em questão, ainda que esse não tivesse sido um alvo prévio. Há imagens divulgadas pelos próprios terroristas, bem como os relatos dos próprios sobreviventes. Isso para não mencionar os ataques aos kibutzim e aos mais de 130 reféns que permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza.

Assumir que Israel foi o autor dessa tragédia não passa de teoria da conspiração antissemita. É uma tentativa de retratar Israel como sendo um Estado terrorista e genocida que supostamente estaria disposto a sacrificar seus próprios cidadãos a fim de cometer um genocídio contra os palestinos. Isso, porém, não faz o menor sentido. Desde o 07/10, o Estado de Israel tem buscado ser bastante transparente com a comunidade internacional sobre os atos terroristas cometidos pelo Hamas, fornecendo uma série de evidências. Inclusive, até mesmo desrespeitou a memória das vítimas expondo seus corpos despedaçados – ou o que sobrou deles – para que o mundo pudesse acreditar.

A extensão do terrorismo do Hamas, porém, foi tão grande que, mais de um mês após o ocorrido, as autoridades israelenses ainda têm tido dificuldades de identificar a identidade das vítimas. Foi preciso, por exemplo, convocar até mesmo arqueólogos para investigar as cinzas de alguns corpos que foram carbonizados. Essa é a razão pela qual o número de vítimas do conflito que Israel inicialmente divulgou como sendo de 1.400 baixou para 1.200. Isso porque muitos dos terroristas do Hamas haviam se disfarçado de civis para cometer as atrocidades. Se as teorias da conspiração sobre Israel fossem realmente verdadeiras, o país jamais teria divulgado essas informações, por exemplo.

Praticamente todas as supostas evidências que os conspiracionistas utilizam para negar os atos terroristas do 07/10, atribuindo a culpa a Israel foram fornecidas pelo próprio país. É lamentável que o Jornal GGN tenha sido incapaz de verificar todas essas fontes e contribuído para difundir desinformações no Brasil a partir de notícias falsas que já foram amplamente desmentidas.

Igor Sabino é doutor em Ciência Política (UFPE) e gerente de conteúdo da StandWithUs Brasil

NOTA DA REDAÇÃO – O Jornal GGN é uma publicação que confere direito de resposta, para levar a melhor informação aos seus leitores. E persegue o contraponto, ainda mais sabendo a pesada nuvem de desinformação, que nega o genocídio e divulga a versão de que ambulâncias bombardeadas escondiam perigosos terroristas.

A própria versão de que o genocídio é essencial para garantir a segurança de Israel é uma mostra do modo como são criadas as narrativas.

O Jornal GGN continua aberto ao questionamento de nossas reportagens. E espera que os porta-vozes de Israel procedam da mesma maneira, abrindo um diálogo no qual a defesa da vida – de ambos os lados – seja o ponto central. E esperava que, na resposta, o autor mencionasse a operação de evacuação de 2,5 milhões de palestinos de Gaza e a morte de crianças e adolescentes.

Redação

7 Comentários

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  1. Desde sua criação, em 1948, Israel pratica o genocidio contra os palestinos, expulsando-os de sua terra e tomando suas propriedades. Não respeitam nenhum acordo que não seja de seu único interesse, tomar as terras dos palestinos. A guerra ora em curso, não é contra o Hamas – nunca foi – que exerce seu direito de revide as atrocidades do Estado Sionista de Israel desde su fundação, a guerra levada a cabo pelo Estado de Israel, é para exterminar os palestinos, homens, mulheres, idosos e crianças. Igual ao que o próprio povo judeu sofreu com as atrocidades da besta-fera Hitler o Estado de Israel faz pior com os palestinos, sob a complacência dos EUA e seus aliados ou cordeirinhos pelo mundo. Isso, não passará impune. O mundo, esta mudando e mudará!

  2. Também esperava que o dr em ciências políticas falasse sobre o outro lada da moeda, mas parece que é parcial em somente abordar os fatos do dia 07/10. Nenhuma morte tem justificativa. A lei do talião ainda está sendo justificada.

  3. Que piada, um direito de resposta sobre algo que nao diz respeito a sua pessoa, direta ou indiretamente.

    Primeiro que o festival nao estava originalmente previsto para continuar ate o dia 7, isso foi algo modificado de vespera.

    Segundo, o governo israelense já sabia que alguma hora haveria um ataque, eles tinham sido notificados por diversas agencias de inteligencia aliadas.

    Terceiro, Israel possui algo chamado diretiva Hannibal, que instrui as forças de segurança a nao tolerar tomada de refens. Saiu ate o resultado de uma investigação oficial em que o proprio Estado de Israel concluiu que parte dos mortos foi vitima do equipamento de guerra usado pra impedir que os guerrilheiros do Hamas retornassem pra Gaza.

    Por fim, há relatos e documentos de que o Estado de Israel apoiou o Hamas pois seria hm inimigo preferivel ao Fatah.

    Igor Sabino, voce pode escrever o quanto quiser, combine apenas com a realidade primeiro.

  4. Isso nao eh “direito de resposta”. Eh apenas mais uma manifestaçao publica patetica de uma ideologia filo-fascista de extrema-direita conhecida por “sionismo”. Que esta para o seculo XXI assim como o nazismo esta para o seculo XX e o imperialismo racista esta para o seculo XIX. As tres ideologias compartilham nao apenas os mesmos pressupostos “filosóficos” mas também o mesmissimo modus operandi: genocídio e exterminio em massa.

  5. “Não há nada de inteligente a ser dito a respeito de um massacre”. Kurt Vonnegut, Jr. No entanto, no afã de defender perpetradores de massacres, muitos pensam alcançar o âmago da questão, mediante manipulação das informações (ocultando o que lhes envergonha, e exaltando as mazelas dos outros), embora permaneçam, apenas, na órbita acanhada da Lei de Talião. O prezado autor dessa resposta que o GGN publica ainda está nessa etapa, que ainda hoje supomos primitiva, das relações humanas. Olho por olho, dente por dente, ontem, hoje e sempre. Talvez isso embote a visão que deveríamos ter, dois milênios depois, dessas coisas. E torna ainda mais trágico o fracasso terrível da Moral Cristã – sucessora dissidente da judaica – com sua fábula sobre oferecer a outra face. Coisa que ninguém fez, até hoje, e, certamente, nunca fará. Buscar alternativas? Nem pensar. Devolver, na mesma hora, o tabefe, dá mais lucro e é mais compensador. Noam Chomsky já alertava contra a aparentemente irreprimível tendência do ser humano a enfatizar as atrocidades dos outros, e ocultar as nossas próprias. Assim, Harry Truman julgou necessário interromper uma carnificina – a guerra nipo-americana no Pacífico – lançando mão de outra: o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki. O fato de a carnificina nuclear vitimar velhos, crianças, mulheres, enfim, tudo que estivesse vivo sobre o solo das duas cidades, e não apenas combatentes, não tem importância. Há coisas mais importantes a considerar, em lugar de reles vidas humanas. Isso aconteceu em 1945. Agora, Israel – fiel a um de seus ícones históricos, o rei Herodes – resolve erradicar os palestinos da face da terra da mesma maneira: matando suas crianças, para que, mais tarde, não venham a se tornar militantes da causa. E a História se repete, não como farsa, mas como o que sempre foi: cálculo. Não sei se foi o acaso que fez esse direito de resposta ser publicado no mesmo dia em que uma outra matéria, sobre a arrasadora e assombrosa sinceridade de um líder israelense (Moshe Dayan), lança luz sobre essa medianeira da História do Homem, o cálculo. Talvez não tenha sido; mas é muito bem vindo. Quem responde um massacre com outro massacre (independentemente de ter sido um false flag ou não; o efeito final é o mesmo) não pode esperar outra coisa. Sim, o Estado de Israel está fundado sobre uma injustiça pavorosa, sobre crimes terríveis; da mesma forma estão fundadas a prosperidade europeia e a de sua sucessora, a pax americana. O massacre e o genocídio são os founding fathers da Civilização Colonial e Imperialista. E tudo que está fundado sobre tais atrocidades só pode esperar isso: Resistência e guerra. Guerra que, como eu sempre digo, é bem vinda, pois dá lucro. Esqueçamos a paz na terra, uma vez que os homens de boa vontade não parecem lhe dar muita importância. Como não há possibilidade de restaurar-se a moral, vamos nos locupletar todos, com o que estiver mais à mão. Mortes para uns, silêncio para outros. E direitos de resposta, também, para nos aliviar a consciência, mesmo que seja um alívio torpe. Viva os palestinos, viva os judeus pacifistas. Mesmo que os papéis de Davi e Golias estejam, hoje, invertidos.

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