Primeiros bancos comunitários são inaugurados em Porto Alegre

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Inspirados em iniciativas que já existem em regiões do Nordeste e Sudeste do País, Porto Alegre recebeu neste final de semana as primeiras duas agências de bancos comunitários do Sul. Segundo informações do portal Sul21, a instituição é controlada pela comunidade e, além de executar tarefas financeiras que favorecem o comércio local, também realizam ações de sustentabilidade, como recolhimento de garrafa pet.

Por Debora Fogliatto

No Sul21

Primeiros Bancos comunitários do Sul são inaugurados em Porto Alegre

Porto Alegre inaugura, neste sábado (25), os dois primeiros Bancos Comunitários da região Sul do Brasil. O projeto, criado primeiramente em Fortaleza, no Ceará, já existe em várias cidades brasileiras, a sua maioria no Nordeste, Norte e Sudeste. Tratam-se de serviços financeiros com viés solidário, que funcionam em rede, voltados para a geração de trabalho e renda com foco na autonomia e nas iniciativas locais. Na capital gaúcha, começam a funcionar os bancos Cascata, no bairro de mesmo nome, e Justa Troca, no Sarandi.

A intenção é que os Bancos sejam geridos pelas próprias comunidades, que ficam em bairros periféricos com grande potencial de desenvolvimento, colaborando para esse crescimento local. No Cascata, a iniciativa está diretamente relacionada ao grupo Misturando Arte, empreendimento de artesanato baseado na Economia Solidária que há dez anos funciona com base na auto-gestão, cooperação e solidariedade.

A comunidade está envolvida no projeto há cerca de um ano e meio, tempo em que já foi realizado o mapeamento da produção da comunidade, assim como algumas feiras de troca. “Estamos produzindo as finanças solidárias através da troca, que é um dos braços do Banco. Tem outro braço, que serão os créditos produtivos, e depois tem realmente a questão financeira, que é poder pagar conta, depositar. Isso vamos fazer através de uma moeda eletrônica social, como é feito pelos 113 bancos comunitários que existem, que é o e-dinheiro“, explica Katiucia Gonçalves, conselheira administrativa da Associação de Economia Solidária, Cultura e Educação da Cascata (ASESCEC) e do Misturando Arte.

O e-dinheiro é uma plataforma eletrônica, acessada por um aplicativo de celular, onde é possível realizar depósitos, transferências, pagamentos e recebimentos em geral, a partir de tarifas muito baixas, sem o intermédio de um banco tradicional. Por isso, passa a ser uma alternativa mais barata tanto para comerciantes quanto para integrantes da comunidade em geral. Com o Banco Comunitário, é possível organizar redes econômicas locais em que todas as transações sejam feitas por meio do dinheiro eletrônico, incentivando também as produções da própria comunidade.

A Associação foi procurada para participar deste processo pelo Núcleo de Estudos em Gestão Alternativa (NEGA), ligado à Faculdade de Administração da UFRGS, que trabalha com projetos de extensão na área da Economia Solidária. O grupo existe formalmente desde 2012, capitaneado pelos professores Pedro de Almeida Costa, Ana Mercedes Icaza e Fábio Meira, que já trabalhavam com questões relativos a esse tema há mais de uma década. Há quase dois anos, o Núcleo se voltou para a questão dos Bancos Comunitários, realizando reunião periódicas, cursos, conversas e eventos com a comunidade e com estudantes bolsistas sobre economia solidária e cooperativismo.

O NEGA trabalha com os Bancos também nas questões jurídicas, organizacionais e relacionadas à divulgação e redes sociais. “O principal ponto [do projeto] é ter uma geração de externalidade, com a capacidade de mobilizar atores da comunidade para o desenvolvimento local, para produzir alternativas locais de geração de trabalho e renda”, explica o professor Pedro. O Núcleo trabalha, então, com a ideia de “fomentar nas comunidades a capacidade de autonomia para tocar projetos de forma sustentável”, completa ele.

Atualmente, o NEGA funciona também como um grupo de pesquisa, envolvendo um número significativo de estudantes de graduação que atuam como bolsistas. O professor destaca o papel na formação desses estudantes, especialmente mencionando que essas temáticas, em geral, não estão inseridas nos currículos dos cursos. “Temos tido um número bem grande de bolsistas, chegamos a ter 9 em um semestre. Então tem papel importante de formação de um corpo de estudantes de graduação que não conhecia essa temática de economia solidária. Já passaram mais de 30 bolsistas de diferentes cursos e áreas do conhecimento, que têm se aproximado pelas demandas que os projetos têm”, afirma Pedro.

Além dos três pilares mencionados por Katiucia, o Banco Cascata também trabalha com o recolhimento de garrafas pet, para que consiga arrecadar um fundo de funcionamento. “Estamos construindo esse fundo através da coleta da garrafa pet, toda comunidade está envolvida. Recolhemos, vendemos e o dinheiro retorna para o banco. É com esse dinheiro, por exemplo, que estamos pagando um oficineiro de papel artesanal, para dar oficina de graça aqui na escola”. Para gerir o Banco, foi criada uma associação que, por enquanto, conta com a participação de quatro das cinco comunidades no bairro.

A inauguração dos Bancos Comunitários acontecem neste sábado (25), com a realização de duas festas juninas, uma em cada bairro que recebe o projeto. No Cascata, o lançamento será na Escola Oscar Pereira, a partir das 10h, com feira de trocas, banca de lanches, venda de artesanato, oficinas e música. Já no Sarandi, o Justa Troca será inaugurado na Creche Nova Geração, com início às 16h.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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