A dívida italiana

Por Roberto São Paulo/SP-2010

Do The Wall Street Journal

Falta de crescimento complica endividamento da Itália

Stacy Meichtry

The Wall Street Journal, de Roma

O fundo europeu de socorro, de quase US$ 1 trilhão, diminuiu a pressão sobre os países da periferia da zona do euro, mas um problema econômico mais profundo torna mais difícil para esses países escapar de suas dívidas gigantescas: a falta de crescimento econômico. O problema é uma preocupação em particular para a Itália, o país mais endividado da Europa.

O plano de socorro da União Europeia, de 750 bilhões de euros, que surge no vácuo do pacote de 110 bilhões de euros para socorrer a Grécia, tomou forma no fim de semana passado em meio aos temores de que a crise fiscal em Atenas estivesse alimentando outros receios relacionados à dívida de economias mais fracas da zona do euro, como Portugal e Espanha.

Até agora, os mercados consideraram a Itália menos arriscada que outros países do sul da Europa, apesar de uma dívida pública de 115% do PIB — quase a mesma proporção da Grécia. A Itália tinha ontem de pagar quase um ponto porcentual a mais que a Alemanha para captar, spread parecido com o da Espanha, mas inferior ao da Grécia, que está em 4,65 pontos porcentuais.

Mas o que está em jogo numa potencial crise da dívida italiana é muito mais. A dívida italiana que vence este ano é de 1,7 trilhão de euros, sete vezes o valor da grega.

A Itália “é uma peça grande do sistema”, disse François Chaucat, economista da GaveKal, uma consultoria econômica de Estocolmo. “Se a Itália não conseguir refinanciar sua dívida, aí é o fim do euro.”

Em termos de orçamento anual, a Itália é relativamente sadia, com um déficit equivalente a 5,3% do PIB em 2009 — a média europeia é de 6,3%, e na Grécia chegou a 13,6%. A Itália é “um exemplo de saúde” quando comparada às outras economias dos países do Mediterrâneo, disse Ben May, um economista da consultoria londrina Capital Economics.

Mas a dívida pública do país é mais difícil de reduzir e deve pesar na economia no longo prazo. A receita tributária está estagnada devido ao crescimento lento da Itália, já que as indústrias estão abandonando o norte do país em busca dos custos trabalhistas menores da China e dos países do Leste Europeu. Na última década, o PIB italiano cresceu a uma parca média anual de 0,54%, e o Tesouro do país calcula que crescerá apenas 1% em 2010, após encolher 5,1% ano passado. As tentativas de melhorar a receita com aumentos de impostos têm sido minadas pelo alto índice de evasão fiscal no país.

Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi enfrenta pressão de sua coalizão de governo para manter a ajuda governamental à empobrecida região sul da Itália, altamente dependente dos empregos públicos.

Em consequência, a Itália está se endividando mais: este ano, a dívida pública deve aumentar três pontos porcentuais, para 118% do PIB. O problema surgirá quando o crescimento na receita tributária não acompanhar o custo do serviço da dívida.

“Se o juro que você está pagando na dívida é maior que o crescimento da economia, você fica preso numa armadilha mortal em que sua dívida só aumenta”, diz Gabriel Stein, economista da Lombard Street, uma consultoria econômica londrina. “Não sei se a Itália se encontra numa armadilha dessas no momento.”

As preocupações com a dívida italiana deixaram os investidores nervosos. Um leilão de 9,5 bilhões de euros em títulos em abril atraiu uma demanda total de 9,78 bilhões de euros — em vez de terem o interesse muito superior à oferta dos leilões anteriores. A escassez de interessados pode forçar o Tesouro italiano a baixar o valor mínimo de seus títulos, o que significaria que a Itália teria de pagar juros maiores. Mas a demanda se recuperou recentemente. Um leilão de 5 bilhões de euros em títulos com vencimento em 5 e 15 anos atraiu interesse mais de 1,3 vez maior que a oferta no caso dos títulos de 5 anos e 1,7 vez a oferta para os papéis de 15 anos.

O governo italiano afirma que seu financiamento de dívida é ajudado pelo vigor das famílias e das empresas italianas. As famílias do país — que detêm cerca de um quarto dos títulos da Itália — tinham dívidas financeiras equivalentes a 53% do PIB em 2008, ante 60% na Grécia e 61% na Alemanha, segundo a Eurostat, a agência de estatísticas da UE. Esse fator também é ajudado pela taxa de poupança relativamente alta, de 15% da renda das famílias após os impostos em 2008, ante 17% na Alemanha e -1,4% na Grécia.

Apesar da criação da moeda comum europeia — que permite aos italianos investir em títulos alemães ou franceses —, as famílias italianas ainda preferem comprar títulos soberanos locais, diz Marco Annunziata, economista do UniCredit SpA. Elas também são menos influenciadas pelas tendências do mercado, diz ele: “Se o mercado aumentar o juro dos títulos italianos, geralmente a reação dos italianos é que isso está acontecendo porque os mercados estão exagerando o risco.”

O euro também tem incentivado investidores estrangeiros, como os bancos franceses e alemães, a comprar títulos italianos nos últimos anos, porque eles propiciam um rendimento alto a um risco cambial baixo. Mas os estrangeiros só detêm metade dos títulos italianos, deixando a Itália menos exposta a pânicos de investidores como o que derrubou os títulos gregos.

Luis Nassif

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