A participação estatal nas empresas

Do Estadão

Governo já é sócio de 119 empresas 

Estudo mostra avanço do Estado na economia, principalmente por meio do BNDES e dos fundos de pensão de empresas estatais 

02 de dezembro de 2010 | 0h 00 

Raquel Landim – O Estado de S.Paulo 

Em 1996, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detinha participação, direta ou indireta, em 30 grandes empresas brasileiras. Em 2009, esse número triplicou e chegou a 90. Incluídos os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef, a mão do governo no setor privado atingiu 119 empresas no ano passado.

Os dados são o resultado de seis anos de garimpo do professor do Insper, Sérgio Lazzarini, que agora foi transformado no livro “Capitalismo de Laços – os donos do Brasil e suas conexões”, editado pela Campus-Elsevier, que chega às livrarias na próxima semana.

EleaEle analisou as composições acionárias de 804 companhias – todas as de capital aberto e as maiores de capital fechado. Por conta de ofertas de ações e aquisições, o universo de empresas sofreu alterações significativas ao longo do tempo: eram 516 em 1996 e 624 em 2009.

A conclusão mais impressionante é que as importantes mudanças vividas pela economia brasileira não foram capazes de alterar a lógica dos donos do poder. Nos últimos 20 anos, o País reduziu as tarifas de importação, privatizou setores importantes, abriu o capital de suas empresas na bolsa. O capitalismo brasileiro, porém, não perdeu a característica de apadrinhamento.

O levantamento aponta que aumentou a participação dos atores ligados ao governo na economia, como BNDES, fundos de pensão e empresas estatais. Além disso, são os grandes grupos privados nacionais, com apoio do governo, que dominam os principais projetos do País.

“Não estamos criticando Lula, nem FHC. A avaliação é do período inteiro. O que vemos agora também aconteceu no Fernando Henrique”, frisou Lazzarini. Na sua opinião, o “capitalismo de laços” tem efeitos positivos e negativos na economia.

Graças às “conexões” com o governo, foi possível reunir os recursos para grandes projetos, reduzir os riscos para as empresas e garantir o financiamento de longo prazo. O lado negativo é que aumentou a influência do governo nas estratégias empresariais e surgiram canais clientelistas de relacionamento entre os setores público e privado.

Facebook. Lazzarini montou uma espécie de “facebook” do empresariado, avaliando as “conexões”: quem é sócio de quem direta ou indiretamente (por participações cruzadas) e em quais empresas. Além disso, é feita uma ponderação pela qualidade das conexões, ou seja, quão poderosos são os seus sócios.

A União, que inclui o BNDES, é a campeã de conexões, com várias participações acionárias em conjunto com outras empresas. Entre os grupos privados, os que tem mais “amigos” são a Andrade Gutierrez, a família Jereissati, e a Camargo Correa.

Não é de hoje que o Brasil é uma “sociedade de relações”. Em 1957, Raymundo Faoro escreveu o livro “Os Donos do Poder”, que resgatou a história do Brasil desde a coroa portuguesa, que estimulava o surgimento de negócios dependentes do governo.

A expectativa é que esse padrão de funcionamento dos negócios mudasse com as privatizações, reduzindo a influência do Estado e permitindo a entrada de investidores internacionais. Só que nos consórcios montados pelo governo, prevaleceram grupos nacionais, fundos de pensão e o BNDES. “O problema é que não se traçou uma linha até onde a intervenção governamental pode ir”, disse Lazzarini.

A onda de IPOs (Ofertas Públicas Iniciais de ações) também não foi capaz de mudar o padrão. “O governo fez várias reestruturações corporativas, como Oi-Telemar e Sadia-Perdigão. A desculpa foi a crise, mas isso já se esboçava antes”. Lazzarini cita ainda o surgimento de novos empresários como Eike Batista, da EBX, e Joesley Batista, da JBS, novamente com muitas conexões com o governo.

O Brasil vai ter uma série de grandes projetos nos próximos anos, como a usina de Belo Monte, o trem-bala, as obras da Copa e das Olimpíadas, e o pré-sal. “Em vários desses projetos, já é garantida a participação do BNDES e dos fundos de pensão”, diz Lazzarini. Ou seja, o “capitalismo de laços” vai continuar.

OS DONOS DO PODER

O BNDES
Em 1996, o BNDES participava, direta ou indiretamente, de 30 empresas. Em 2003, eram 53. No ano passado, chegou a 90.

Os fundos de pensão
BNDES, Previ, Petros e Funcef tinham participação em 72 empresas em 1996, 95 em 2003, e 119 no ano passado.

Os mais conectados
Os grupos mais bem relacionados são Andrade Gutierrez, Jereissati e Camargo Correa

Os antigos donos
O Opportunity perdeu muitas de suas conexões ao longo do tempo. Em 2003, o grupo de Daniel Dantas era sócio de 22 empresas. Em 2009, estava em 10.

Os novos donos
Entre os novos empresários que possuem boas relações com o governo, estão Eike Batista (EBX) e Joesley Batista (JBS) 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador