Alta nos juros ainda pode demorar, por José Paulo Kupfer

Por José Paulo Kupfer

Comentário ao post “Como atua a confraria da Selic

Nassif, não seja injusto na sua generalização. Generalizações são sempre perigosas e nós, jornalistas, devíamos fugir delas sempre e sempre. Acho que Você não leu minha análise no Estadão desta quinta-feira e nem a cobertura do jornal, absolutamente clara e correta, e nos incluiu, bem sem razão nesse seu saco de gatos. Espero a correção da injustiça. Abraços. ZéPaulo K.  

Do Estadão

Mesmo com caminho aberto, alta nos juros ainda pode demorar

Sete palavras, inseridas entre outras 59, no comunicado divulgado ao fim da reunião de 16 de janeiro, concentraram a atenção dos analistas, na noite de ontem, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) encerrou o encontro de março, o segundo de 2013, e anunciou sua decisão sobre a taxa básica de juros (Selic). Muito mais do que a notícia da manutenção, como nos últimos quatro meses, os juros em 7,25% ao ano pelo menos até meados de abril, dada como mais provável pela maioria, o que importava, no novo comunicado, era a supressão ou não da expressão “por um período de tempo suficientemente prolongado”. Presente nos comunicados do Copom desde outubro, as sete palavras indicavam a intenção do Banco Central de não mexer na taxa Selic pelo menos até fins de 2013

Abriu-se, com a supressão da frase, a temporada de apostas sobre o momento em que o Copom vai retomar o ciclo de altas dos juros. De 7,5% a 9%, escalonados em aumentos de 0,25 ponto ou 0,5 ponto, a partir de abril ou do segundo semestre, é possível encontrar hipóteses para todos os gostos.

Em outros tempos, com a inflação namorando o teto do intervalo previsto no sistema de metas, esse tipo de divergência nem se colocaria. A rigor, embora tenham sido raras as ocasiões nas quais a inflação acertou o centro da meta, não haveria a tolerância que o BC vem adotando.

Mas o modo de conduzir a economia, em escala global, mudou muito desde a eclosão da crise de 2008, com impactos especialmente relevantes nas políticas monetárias. Os bancos centrais, mundo afora, vêm despejando nos mercados volumes de recursos antes inconcebíveis, num esforço de resultados ainda modestos para reanimar a atividade econômica. Tolerância com a inflação, em combinação com mandatos estendidos de recomposição de empregos, é, atualmente, a regra e não a exceção.

É verdade que, nos países em que a política monetária se mostra mais agressiva, a inflação ainda dormita, enquanto no Brasil, os índices de preços andam bem vivos, mesmo com a economia rodando em baixa velocidade. Nesse quadro de virtual estagflação, decisões sobre juros são particularmente difíceis porque configuram “escolhas de Sofia” entre inflação e crescimento. Com o recente histórico de ambiguidades do BC, mesmo com a supressão da famosa frase do comunicado do Copom, os chutes dos analistas serão dados ainda mais no escuro. 

Luis Nassif

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