Wikileaks na pauta do Encontro de Blogueiros

Do Opera Mundi


Wikileaks voltará em versão mais segura, diz porta-voz do site


Encontro mundial de blogueiros em Foz do Iguaçu faz reflexão sobre os novos rumos da mídia

O entusiasmo da explosão das novas mídias na construção de uma democracia genuinamente participativa moveu aproximadamente 650 pessoas de 32 países do mundo à tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Elas participam do 1º Encontro Internacional de Blogueiros, na cidade de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná.

O “cartão de visitas” aos blogueiros, estudiosos da comunicação, estudantes, jornalistas profissionais e liberais no início dos debates e painéis desta sexta-feira (28/10) foi um recado de apoio ao Wikileaks. A “organização que vaza documentos confidenciais que revelam más condutas de governos, empresas e organizações não está morta”.

O porta-voz do Wikileaks, Kristinn Hrafnsson, reiterou que o site se encontra em situação de “suspensão temporária das atividades” devido ao maior ataque que sofreu desde o início de suas atividades, em abril de 2010. “Estamos sofrendo com um bloqueio econômico de grandes corporações, que afetou 95% de nossas doações. Isso significa um ataque à liberdade de expressão”.

Júlio César Carignano/Opera Mundi
Hrafnsson conclamou os blogueiros presentes a se unirem contra o boicote ao site e adiantou que o Wikileaks voltará a abrir seu sistema para coleta de informações, no que ele classificou como a versão Wikileaks 2.0. “Será o ‘Wiki 2.0’, um sistema muito mais seguro”, disse o porta-voz. Ainda sobre o bloqueio, Hrafnsson explicou que a organização já impetrou recursos judiciais junto à Comissão Europeia, Dinamarca, Reino Unido e Estados Unidos.

O ciberativista expôs aos presentes as dificuldades que acompanham o Wikileaks desde o momento em que foi tentado em vão uma ‘parceria’ com a mídia corporativa. “Nossos jornalistas se decepcionaram, pois muitos desses meios tinham ligações estreitas com governos e organizações denunciadas”.

Jornalista há 20 anos, atuando em diversos órgãos de imprensa, Hrafnsson afirma que os meios tradicionais passam por uma crise de desconfiança com seus receptores. Ele explica que o Wikileaks surgiu para preencher essa lacuna. “Viemos preencher essa lacuna entre o público e a mídia tradicional”.

Luzes e sombras

Uma das intervenções mais esperadas do primeiro dia de debates do Encontro Internacional de Blogueiros foi a do jornalista e semiólogo Ignácio Ramonet, ex-editor do Le Monde Diplomatique. Autor de várias obras sobre comunicação e ativista de movimentos anti-globalização, ele avaliou o cenário das novas mídias sobre dois aspectos: “o da luz e o da sombra”, ao apontar os pontos positivos e negativos dessa explosão das redes sociais como propulsora da construção da democracia.

Ramonet se entusiasmou ao citar a existência dos novos atores sociais que estão transformando o fazer jornalismo, aos quais classifica como ‘web atores’. Para ele, esse fenômeno tem provocado uma crise de identidade no jornalismo profissional. “Até o advento das novas mídias, o jornalista vivia na lógica do predador solitário que conduz uma batalha solitária atrás da informação. Já esses ‘web atores’ agem na perspectiva da estratégia da colméia, que é de grande eficácia, como ficou comprovado na Primavera Árabe, nas experiências no Egito e na Tunísia”.

Para o jornalista, os blogs e as redes sociais tem proporcionado um avanço na tão almejada democratização da comunicação. “Essa nova fase do jornalismo está provando que a inteligência coletiva é superior à natureza individual”.

Apesar desse entusiasmo inicial, Ramonet reflete para o fato que a explosão das redes sociais é só um início de um cenário transitório. “Há cinco anos, se fizéssemos esse evento discutiríamos o Myspace, hoje estamos falando do twitter. E daqui a cinco anos será o que?”, questiona.

Ainda falando do cenário de ‘sombras’, Ramonet aponta para a fragmentação e dispersão da notícia. “As redes sociais nos expõem um mosaico que, por vezes, somos incapazes de refazer as peças”.

Outra ponderação do jornalista foi em relação à posição de alguns blogueiros que acabam reproduzindo visões hegemônicas. “Ser blogueiro não significa necessariamente ser rebelde. Há blogueiros na rede que defendem correntes extremamente conservadoras”, apontou.

Vícios midiáticos

Também presente na mesa de debates da manhã, o jornalista Luis Nassif fez um resgate histórico da participação dos meios de comunicação tradicionais em processos sociais, como a alta concentração de terra, além do controle do sistema econômico do Brasil. “Os governos são movidos pelas pressões imediatas da mídia. A grande imprensa sempre controlou a política econômica do País”.

Sobre o papel da blogosfera, Nassif diz que ela é fundamental para fazer o contraponto com o jornalismo comercial, marcado pelo oligopólio midiático.  Assim como Ramonet, ele ponderou sobre alguns cuidados para que os blogueiros não passem a agir com vícios da grande mídia. “A velha mídia transmite diariamente raiva e intolerância e isso não pode se repetir na blogosfera”.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador