Delfim defende Tombini

Da Folha

ANTONIO DELFIM NETTO

Tombini

O plano de relações públicas que o sistema financeiro mobilizou para “provar” que o dr. Meirelles era insubstituível, que sua permanência era a “garantia” da autonomia operacional do BC e que sua mudança representaria a demonstração de que aquela autonomia seria abandonada foi completamente equivocado.

Na minha opinião, ele não condizia, sequer, com seu caráter e argúcia. Colocou, entretanto, o novo governo na situação desconfortável de ter de, pelo menos aparentemente, render-se a mais uma das vontades do sistema financeiro.

AjerA jeremiada continua “à boca pequena”. Tal ruído é outra grave tolice dos mesmos grupos que tentaram colocar no “corner” o governo.

O seu sucessor, o economista Alexandre Antonio Tombini, seria mais um “burocrata”, e a agência (o BC) teria sido, finalmente, “apropriada” por seus próprios membros. Tombini seria quase um “heterodoxo”. Um “pombo”, e não o “falcão” que o momento exige na opinião dos “ortodoxos”.

Pior, seria um “desenvolvimentista” (com toda a carga ideológica e as tolices que envolvem tal conceito), não um “monetarista”, como recomendaria a pura (ideológica e irrelevante) “ciência monetária”, da qual se julgam portadores seus enrustidos críticos.

Por seu comportamento discreto, só podemos conhecê-lo pela leitura de seus trabalhos. Tombini é um profissional muito bem apetrechado. Formado em economia pela UnB e com doutorado pela University of Illinois, publicou, faz quase 20 anos, um excelente trabalho (com toda a teoria econômica e a econometria a que tinha direito) sobre o comportamento do PIB real brasileiro.

Fez uma brilhante carreira no Banco Central, do qual foi diretor em vários departamentos, e tem experiência nacional (no governo) e internacional (no FMI). Aliás, quando o dr. Meirelles, com toda justiça, programou alçar voo político, ele mesmo teria sugerido que poderia ser sucedido pelo diretor Tombini.

Para uma ideia mais justa de quem é Alexandre Tombini, basta dizer que ele foi coautor, com os competentes economistas Joel Bogdanski e Sergio Werlang, do “modelito” original (2000) das metas inflacionárias que vem sendo aperfeiçoado desde então.

Não se trata, portanto, de um burocrata arrivista. Trata-se de um profissional altamente preparado, capaz de sustentar duramente suas opiniões e continuar a melhorar o funcionamento do BC.

Não lhe cabem, portanto, nem os ridículos qualificativos de “desenvolvimentista” ou “monetarista” e muito menos os pejorativos de “pombo” ou “falcão”. 

Luis Nassif

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